Na semana passada escrevi o artigo “Na convivência em grupo, saber ouvir é essencial”. Num dos parágrafos afirmei que até nas igrejas há pessoas tão apegadas aos cargos ocupados a ponto de dificultar a renovação e a entrada de novos integrantes, postura que desanima os demais membros do grupo e os tornam distantes.
No início desta semana o Papa Bento XVI surpreende o mundo ao comunicar a renúncia ao trono de Pedro em função de problemas de saúde. O susto pela incomum decisão de Bento XVI foi grande e alvo de críticas. Pessoas ligadas à Santa Sé declararam que o Papa não deveria abandonar a cruz. Lembro que Jesus aceitou o ajuda de Simão Cirineu para carregar a cruz (Marcos 15.21).
Bento XVI completará 85 anos de vida em abril, idade em que naturalmente os problemas de saúde se agravam e a disposição para exercer qualquer atividade diminui. Quantas pessoas no mundo desempenham, com excelência, a função de dirigir alguma atividade aos 85 anos? Por que ficar “empoleirado” no cargo até morrer? Sua atitude foi uma desfeita ou um ato grandioso? Alguns dizem que a decisão foi tomada por pressão dentro do Vaticano, o que me parece pouco provável.
Pela tradição da igreja, o papado só se encerra com a morte do pontífice. Como escrevi na semana passada, essa tradição também vem sendo aplicada por dirigentes de entidades que nos cercam. Alguns deles só deixam o cargo quando chega a hora de ir para o cemitério. Está certo isso?
A grandiosidade da decisão de Bento XVI deve ser motivo de muito debate e estudo, pois a vaidade humana naturalmente valoriza o apego demasiado a cargos que conferem poder e projeção social.
O bom líder é aquele que planeja o tempo necessário para sua contribuição e, aos poucos, ajuda a preparar substitutos em plenas condições de continuar a obra assumida momentaneamente por ele, assim como fez Jesus Cristo com os apóstolos.
O Papa Bento XVI não é carismático como seu antecessor, João Paulo II, mas talvez o principal legado que nos deixa seja a grandiosidade de reconhecer o momento de deixar os holofotes para alguém em melhores condições de exercer a função que, aparentemente, é nossa por direito. Você é capaz de fazer isso?