x

O Aquecimento global e as padarias

O tema aquecimento global visto sob a perspectiva de incertezas com relação a danos ou benefícios que pode causar aos produtores, empresas e consumidores que dependem do trigo.

16/09/2013 17:21

  • compartilhe no facebook
  • compartilhe no twitter
  • compartilhe no linkedin
  • compartilhe no whatsapp
O Aquecimento global e as padarias

Em princípio alguém faria a seguinte indagação: o que tem a ver aquecimento global com padarias? Bem, é verdade que são assuntos que não apresentam a menor ligação, ou melhor, não apresentavam.

Vez ou outra o assunto aquecimento global é debatido nos diversos meios de comunicação, debates que procuram trazer à sociedade que o fenômeno é um fato real, e que preocupa certos setores, tanto de governos como da economia.

Ocorre que, além de prejuízos ao meio ambiente, como derretimento de geleiras, aumento no nível dos oceanos e mudanças bruscas no clima, o fenômeno pode causar também outros prejuízos que teriam origens no campo, na produção do trigo, e que poderiam atingir diretamente as finanças não só das padarias, mas também das empresas que trabalham com produção de massas e principalmente dos produtores do cereal, e não seria só no Brasil, mas em todo o planeta. Em virtude disso, reações a esse fato importante começam a surgir, e poderemos ter novidades em breve, que estão sendo preparadas de forma silenciosa.

Quem é do ramo sabe que o trigo é uma cultura de inverno, e que no Brasil sua principal base de produção é no sul do país, dado o clima mais ameno para o cultivo do cereal. No entanto, situações preocupantes estão levando instituições públicas e privadas em todo o mundo a se envolverem mais na questão, inclusive departamentos de estado de alguns países estão, efetivamente, dando importância às consequências das mudanças climáticas sobre o plantio do trigo.

Matéria publicada pelo jornal Folha de São Paulo em 6 de maio de 2011 com o título “Nova vítima do aquecimento global é o pão francês” dá a dimensão do problema. A reportagem relata que a produção do trigo está sendo afetada pelo aumento da temperatura no globo terrestre, conforme afirmações de cientistas das universidades Stanford e Columbia, nos Estados Unidos. É um tipo de manchete em que, a princípio, as pessoas não dão muita importância, mas ela passa a existir a partir do momento em que nos aprofundamos no assunto.

No Brasil, artigo publicado no site Safras&Mercado, em 28 de agosto de 2008, intitulado “MAIS QUENTE, MAIS ÚMIDO, MAIS TRIGO”, já alertava para o fenômeno da alteração climática no sul do país, o que pode fazer com que a cultura do trigo no Brasil perca sua viabilidade econômica. Ainda segundo o artigo, a tendência de aumento de temperatura e umidade poderia trazer também o aumento da incidência de doenças nos cereais de inverno, caso do trigo, e conclui que “tropicalizar” o cereal poderia ser uma das possíveis soluções.

Já Benami Bacaltchuk, à época Diretor-Presidente da Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Sul (FEPAGRO-RS), dizia, no mesmo artigo, que também vê o aquecimento global como fato consumado, e esclarece que a FEPAGRO possui laboratório voltado para a adaptação de culturas às alterações do clima, embora não tivesse confirmado se alguma medida para proteger a cultura do trigo regional já estivesse em andamento.

No entanto, outro artigo cujo título é “Trigo resistente ao calor suportará aquecimento global”, começa a apontar saídas. Publicado em 12 de abril de 2013 pelo Departamento Digital dos EUA (IIP DIGITAL), o texto traz à tona a preocupação dos cultivadores do cereal em todo o mundo, e mostra que o assunto ganha importância de estado em países como os EUA e Índia, que já se movimentam há algum tempo em busca de possíveis soluções para possíveis consequências ao plantio causadas pelo aquecimento do clima.

Tudo indica que a pressão está surtindo efeito, e uma equipe de cientistas, chefiada pelo Dr. Kulvinder Gill, professor titular da Cátedra Vogel de Cultura de Trigo e Genética da Universidade Estadual de Washington, dá início as pesquisas com o propósito de desenvolver variedades de trigo que resistam a temperaturas elevadas. Haverá envolvimento também da Universidade Estadual do Kansas, da produtora e processadora de sementes DuPont Pioneer, do Escritório Nacional de Recursos de Genética das Plantas e outros interessados, entre instituições públicas e privadas, especialmente dos EUA e Índia.

A pesquisa tem o apoio da Agência Americana para o Desenvolvimento Internacional (USAID), que mobilizará inicialmente cerca de US$ 11 milhões, também haverá investimento por parte do Conselho Indiano de Investigação Agrícola (ICAR) e da Direção de Pesquisa sobre o Trigo (DWR). A intenção é que os primeiros resultados sejam apresentados em cinco anos, e pelo envolvimento de instituições de porte, percebe-se que a preocupação não é superficial.

Embora o objetivo inicial do projeto seja o programa “Alimentar o Futuro”, iniciativa do governo dos EUA para a fome e segurança alimentar em regiões pobres, a tendência é que, havendo sucesso, o benefício se estenda também a todas as regiões do mundo onde se planta trigo, ou mesmo em regiões onde não há essa tradição por ser de clima quente.

Nesse caso, havendo substituição do trigo tradicional, mesmo que de forma lenta, e transportando essas perspectivas para dentro das padarias, ou mesmo para as indústrias de massas, surgem algumas questões que devem ser consideradas e que precisam entrar em evidência, como os possíveis efeitos da mudança sobre a produção daquelas empresas, ou a incerteza dos custos na aquisição da nova matéria prima, levando a algum impacto nos preços dos produtos finais, e o que aconteceria com o campeão de vendas nas padarias, o nosso bom e velho pão francês?

No campo das hipóteses, em um futuro ainda longínquo, sendo possível a plantação do trigo em qualquer parte do mundo, independentemente do clima, existem sim, teoricamente, chances de uma superprodução mundial do cereal, o que seria bom para os consumidores, já para os plantadores ficariam dúvidas sobre a viabilidade de investimentos.

Mas também é possível que o preço do “novo trigo” chegue ao consumidor final com valores inviáveis, devido aos altos investimentos que serão aplicados nas pesquisas. Por outro lado, se estas não surtirem o efeito desejado, a tendência é que haja uma redução nas áreas plantadas em todo o planeta devido o aquecimento global, elevando assim os preços na cadeia final, e nesses dois casos não seria tão bom para os consumidores, pois devemos considerar que vivemos em modos de produção capitalista, então, voltamos àquela questão: qual seria o futuro da nova vítima do aquecimento global, o nosso pão de cada dia?

Observem que não se falou aqui em variação de preços do cereal no mercado agrícola, ou na cotação do dólar, mas apenas em consequências que poderão ocorrer em áreas plantadas ou a plantar, e que poderiam causar turbulências naquele mercado.

Na ótica da administração, entra em cena um tópico pouco utilizado por empresários em geral, ou nunca utilizado pelos pequenos empresários: o Planejamento Estratégico, que pode deixar “no banco de reservas” medidas a serem tomadas, em caso de ter que partir para alternativas, e isso vale para investidores, plantadores, produtores de massas ou padarias.

As incertezas com o futuro provocam em nosso meio constantes buscas por invenções que levem a mudanças, e no setor econômico não poderia ser diferente, e quem é do ramo ou trabalha com o cereal deve acompanhar de perto o andamento e o desfecho dessas mudanças, pois na era das incertezas olhar para o passado e compará-lo com projeções futuras captadas por meio de informações consistentes pode fazer a diferença, por isso é crucial ficar atento às novidades que podem vir por aí, para não serem pegos de surpresa.

 

http://www1.folha.uol.com.br/ambiente/912158-nova-vitima-do-aquecimento-global-e-o-pao-frances.shtml

www.safras.com.br/artigos

http://iipdigital.usembassy.gov/st/portuguese/article/2013/04/20130412145698.html#ixzz2UFRFavbo

Leia mais sobre

O artigo enviado pelo autor, devidamente assinado, não reflete, necessariamente, a opinião institucional do Portal Contábeis.
ÚLTIMAS NOTÍCIAS

ARTICULISTAS CONTÁBEIS

VER TODOS

O Portal Contábeis se isenta de quaisquer responsabilidades civis sobre eventuais discussões dos usuários ou visitantes deste site, nos termos da lei no 5.250/67 e artigos 927 e 931 ambos do novo código civil brasileiro.