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Gestão de Riscos Financeiros (Commodities)

O hedge (proteção) de preços das commodities deve ser o foco para a gestão de riscos financeiros protegendo estoques, lavouras e a produção.

21/09/2015 16:24

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Gestão de Riscos Financeiros (Commodities)

Para entendermos sobre a gestão de riscos financeiros sobre as commodities devemos analisar os fatores econômicos externos gerados primeiramente pelos países de economia desenvolvida como os Estados Unidos da América e alguns países do bloco Europeu. Em seguida precisamos nos atentar para as decisões econômicas geradas pelos países de economia em desenvolvimento, como Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul mundialmente conhecidos pela sigla BRIC’s, os quais possuem relação comercial direta entre si, e por isso as decisões tomadas pelos BRIC’s tem impacto imediato na economia de cada país deste.

Seguindo o roteiro acima devemos perguntar – o que esperar da economia dos EUA em 2015 ? – Pois bem, em resumo, para recuperar a economia do país norte americano, abalada com a crise financeira de 2008, o país adotou um programa de incentivo, injetando dinheiro na economia, a qual, demonstrou sinais de recuperação em 2014, colocando fim neste programa. Agora é preciso retirar este excedente de capital injetado na economia e um mecanismo para que isso ocorra seria através da elevação da taxa básica de juros norte americana.

Esta decisão de elevação da taxa básica de juros norte americana terá impacto na economia do mundo todo principalmente para os países que adotaram o regime de câmbio flutuante, como o Brasil. Espera-se a migração do capital investido principalmente nos países de economia em desenvolvimento para títulos de dívida emitidos pelo governo norte americano, os quais, são considerados os mais seguros do mundo. No caso do Brasil o que se espera é a desvalorização do Real diante do dólar americano. Podemos esperar também alguma volatilidade de preço das commodities, na qual, a tendência de queda seria iminente, em decorrência da migração do capital alocado em posições nas bolsas de Chicago e Nova York, as quais, são referência de preço para o mundo todo. Estima-se que a decisão da elevação da taxa básica de juros norte americana deve ocorrer a partir do segundo trimestre de 2015, segundo declaração do presidente do FED (Federal Reserve, banco central dos Estados Unidos) de Dallas, Richard Fisher.

Continuando com a análise sobre a gestão de riscos sobre as commodities abordando agora fatores oriundos de economias em desenvolvimento, destaco atenção para a segunda maior economia do mundo a Chinesa. A China atualmente é um dos grandes produtores de commodities como soja, milho, trigo e algodão. Devido a características da política econômica chinesa, como por exemplo, enfatizar o aumento da renda pessoal e do consumo, faz com que, a China além de um dos maiores produtores de commodities do mundo, se torne também um dos maiores consumidores dos itens produzidos em seu território, e ainda, necessite buscar em outros países produtores de grãos, a quantidade necessária para atender a demanda interna.

Pelo elevado grau de consumo de commodities a China é vista como um balizador de preços das commodities, com forte influência sobre as forças de mercado de oferta e demanda. Um forte crescimento chinês representa demanda por bens, forçando alta de preços. A desaceleração do consumo chinês representa o caminho inverso, derrubando os preços de commodities.
Para o cenário de 2015 espera-se que a economia chinesa enfrente dificuldades de crescimento gerando menor demanda de consumo, refletindo em maior oferta disponível no mercado e como consequência ocorra a queda dos preços cotados nas bolsas de valores de referência. 

Outro fator atenuante para a queda dos preços das commodities principalmente quando falamos de grãos é a recuperação dos estoques mundiais destes itens, fazendo com que os excelentes preços negociados para a soja e o milho, por exemplo, há 9 anos atrás não ocorram mais. Naquela época quem vendia a sua produção no momento da colheita conseguia preço melhor, do que se fizesse a venda antecipada de sua lavoura. Segundo dados publicados pelo USDA (Departamento de Agricultura norte americano) o EUA voltará a ser o maior exportador global de soja após a colheita recorde superior a 100 milhões de toneladas da safra 2014/2015. O USDA também projeta exportações totais dos EUA em 48 milhões de toneladas, enquanto o Brasil deverá exportar 46 milhões de toneladas, para todos os destinos.

Como sugerido no início do texto analisamos os fatores econômicos externos, porém não podemos esquecer dos fatores econômicos internos, aqueles que acontecem em nosso país. Olhando para dentro de nossa casa o maior desafio para 2015 é o controle da inflação, que tem como causa, o descontrole nas contas do governo, ou seja, o governo gastou mais do que podia, concedeu isenções, abaixou alíquotas de impostos diminuindo a sua receita, mas esqueceu de diminuir as despesas também, além de, inúmeras decisões erradas da gestão governamental, como por exemplo, redução forçada das taxas de juros e das tarifas de energia, sem levar em conta os custos operacionais para isso. Como consequência qualquer medida tomada para o controle da inflação, que já vem margeando o teto da meta estipulada pelo BACEN e para o equilíbrio entre as receitas e despesas do governo conhecido como “Ajuste Fiscal” tem reflexo direto em aumento de custos, pois, se espera elevação da taxa básica de juros encarecendo o crédito e aumentando o custo do investimento em melhorias e o aumento de impostos nos itens essenciais como gasolina e diesel que tem impacto direto no frete e nos custos de produção.

Note que diante da exposição dos fatores econômicos externos podemos identificar o risco de volatilidade no preço das commodities e da taxa de câmbio e também o risco de taxa de juros analisando os fatores internos. A este risco de volatilidade destes itens identificados chamamos de risco de mercado. Pelo que destacamos até o momento o cenário que se apresenta para 2015 seria a queda no preço da commodities, alta na taxa de câmbio do dólar e alta na taxa básica de juros Selic.

No Brasil como as negociações de commodities são feitas em dólar a análise que pode ser feita pelo leitor em um primeiro momento é de que, se a venda da commodity é feita em dólar a um preço baixo, na conversão da moeda estrangeira para o real com o dólar mais alto, pode ocorrer a compensação entre a queda de preço e o valor que realmente entrou em caixa pela valorização do câmbio. Porém para essa análise ser verdadeira precisamos identificar antes de tudo a existência de passivos em dólar, como empréstimos em dólar por exemplo, pois, existindo estes passivos todo o ganho com a alta do dólar deve ser absorvido com o pagamento das obrigações geradas por esses passivos.

O ponto chave para gestão de risco financeiro de commodities se baseia em garantir bons preços de venda, que garantam a necessidade de caixa para o cumprimento de todas as obrigações adquiridas com fornecedores, bancos, funcionários e o governo. A primeira iniciativa seria vender a produção, estoques ou lavouras para as indústrias de beneficiamento, tradings entre outros. Esta prática é uma forma de proteger esses ativos do risco de preço, a qual podemos chamar de hedge (proteção) comercial. Diante do cenário apresentado o hedge comercial não se apresenta como uma estratégia altamente eficaz para a gestão de risco de commodities, pois, aqueles que compram esses itens também esperam que se concretize a queda de preços, fazendo assim, melhor negócio neste momento. Adotar como estratégia de proteção de preços utilizando apenas o hedge comercial, implica em manutenção de elevadas reservas de caixa e de estoques físicos, os quais, aumentam as despesas com juros e os custos operacionais, para aguardar o momento de recuperação de preços das commodities e assim realizar as receitas.

Como complemento ao hedge comercial, uma vez que, os preços das commodities são referenciadas pelas bolsas de valores de Chicago e Nova Iorque, surge a alternativa de garantir os preços de venda necessários, através de contratos financeiros negociados pelas bolsas de referência, os quais chamamos de hedge financeiro. Ainda encontro muitas pessoas avessas em adotar hedge financeiro como uma forma de proteger estoques e os ativos da empresa, simplesmente, por não entenderem a dinâmica do mercado, por pensar que se alguém ganha na bolsa outro alguém precisa perder, quando na verdade quem opera os contratos financeiros já tem definido os riscos que são aceitos tomar, assim como os níveis para isso. A prática do hedge financeiro ajuda na descoberta do preço futuro de produtos, ou seja, no exercício de definir como será o preço futuro de um produto, facilita o gerenciamento de riscos, auxilia as empresas que negociam commodities em seus planejamentos estratégicos e por si só, constitui uma boa fonte de informação para a área de negócios, além de ser uma fonte alternativa de financiamento.

Diante dos desafios apresentados para 2015 a gestão dos riscos financeiros sobre commodities consiste na utilização equilibrada entre o hedge comercial e o hedge financeiro, identificando sempre os fatores de mercado que influenciam os preços dos ativos, estoques e lavouras, para então se fazer a planejamento estratégico de quais riscos serão aceitos e também, quantificar os níveis de riscos a serem assumidos, e assim, os desafios apresentados poderão ser superados, não somente para este ano, mas também para os próximos anos.

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