Na maioria das empresas, observar e instigar o crescimento de um colaborador é algo positivo: permite que o funcionário se mantenha motivado e ao mesmo tempo trás benefícios a entidade – em forma de melhores resultados. Contudo, para as empresas do setor de contabilidade nem sempre essa regra é válida. Reter talentos é uma expressão constante no vocabulário ou no imaginário dos responsáveis por organizações contábeis. Manter talentos que contribuem para a prosperidade de um pequeno, médio, e até mesmo grande escritório contábil exige esforços e criatividade nas vantagens oferecidas. Nem sempre a boa remuneração em curto prazo ou benefícios de qualidade de vida e instrução mantém um bom profissional em um pequeno negócio: as grandes corporações parecem oferecer sempre algo a mais. Se o talento do colaborador é indissociável dos bons resultados da organização, então a solução pode estar em torná-lo detentor destes resultados. Fazer do colaborador um propulsor do crescimento através do trabalho e em troca oferecê-lo a oportunidade de se tornar sócio da empresa.
O modelo de partnership é parte da cultura de grandes instituições financeiras norte-americanas. Bancos como Goldman Sachs utilizam há tempos o modelo para promover colaboradores a sócios. No Brasil, um bom exemplo de utilização deste modelo foi o Banco Garantia, primórdio dos negócios mantidos pelo atual 3G Capital (Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles). Mais próximos à contabilidade, as chamadas ‘Big Four’ (quatro maiores empresas de auditoria do mundo) também possuem modelos onde o auditor ou consultor pode se tornar sócio da empresa. Independente da instituição que ofereça a possibilidade de sociedade ao funcionário, todas possuem regras e principalmente metas alicerçadas na meritocracia, cujo cumprimento é mandatório aos candidatos à sociedade.
Diante do evidente sucesso do modelo, o contador dispõe de uma possibilidade de retenção de talentos cuja eficácia é comprovada. Oferecer ao funcionário a possibilidade de tornar-se sócio instigará naqueles munidos de força de vontade e qualidade, o desejo de ver a organizar crescer. Certamente este profissional passará a engajar-se na ampliação de seus conhecimentos técnicos, inclusive buscando novas áreas nas quais não tenha domínio pleno, além de aguçar seu perfil gestor e comercial. Estes poucos benefícios citados podem contribuir para que o colaborador vá algo longo do tempo, assumindo funções que são atualmente exercidas pelo sócio, permitindo que este, por sua vez, aprimore seu perfil empreendedor, buscando novos mercados e novos serviços a explorar.
Obviamente o modelo não é simples. Um projeto que ofereça a sociedade deve possuir planejamento e consistência profundos. O empresário deve primeiramente estabelecer um plano de metas a serem alcançadas pela entidade e pelo colaborador para que a inclusão deste como sócio seja viável. Não há como admitir um novo sócio se os dividendos a serem distribuídos não aumentarem. Isso implica no crescimento da organização no que diz respeito a número de clientes, receitas e lucro. Do mesmo modo, não há possibilidade de promover todos os colaboradores a sócios e esta regra também deve estar bem clara. O modelo pode reter talentos que não virem sócios, mas este “fracasso” precisa ser suportado pelas regras e estas, desde sempre, transparecidas a todos os candidatos.
Na balança dos desafios, cabe ao empresário contábil analisar se o custo de planejar e por em prática um modelo de partnership é vantajoso em relação ao desafio de manter talentos. É necessário, porém, lembrar que o mercado torna-se dia a dia, mais competitivo. Estar munido de talentos com criatividade, força de vontade e motivados pela possibilidade de ver o fruto do seu trabalho levá-lo à sociedade, poderá ser um fator preponderante diante da concorrência: diminui-se o risco de perder um talento, aumenta-se a chance de incrementar os lucros.