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ARTIGO DE ECONOMIA

COPOM acerta no timing e na magnitude do corte de 0,5 bp

Neste artigo, especialista comenta sobre a redução da taxa Selic.

04/08/2023 13:30

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COPOM acerta no timing e na magnitude do corte de 0,5 bp

COPOM acerta no timing e na magnitude do corte de 0,5 bp

O Banco Central do Brasil finalmente interrompeu a série de aumentos e manutenção da taxa de juros básica do país, a Selic, que já durava quase dois anos. Foram doze meses para levar a taxa de 2%, mínima histórica, para 13,75% e depois mais doze de manutenção. A autoridade monetária conduziu todo o ciclo com maestria, mesmo com a forte pressão externa para baixar a Selic.

É importante entender por que o corte veio no timing certo. Havia dois motivos claros para que, até então, não houvesse queda da taxa. O primeiro se referia à manutenção da taxa de inflação dos serviços num patamar alto – acima dos 6%. Ela diz muito sobre a inflação de demanda, pois está pouco sujeita a choques de oferta. 

O segundo limitador eram as projeções dos agentes do mercado para os próximos anos. Além do objetivo de manter a inflação em patamares baixos, uma função importante do Banco Central é ancorar as expectativas ou, mais explicitamente, fazer o mercado acreditar que ele manterá a inflação sob controle ao longo do tempo. Até pouco tempo atrás, as projeções do Boletim Focus para 2024 e 2025 estavam acima da meta e da banda. Portanto, era acertada a política da instituição em manter a taxa.

Porém, os últimos resultados da inflação oficial aliviaram todas essas tensões. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA-15) de julho, último dado publicado antes da reunião, que mede os preços da metade de junho até a metade do mês de julho, já apresentou deflação (-0,07%) e acumula, em doze meses, alta de 3,09%. No ano, o acumulado é de 3,09% também. A média móvel trimestral dos serviços já se aproxima de 4%, dentro da banda. No relatório Focus, a previsão do IPCA para 2024 já está em 3,89% e, para 2025, em 3,5%. Ou seja, ambos acima da meta, mas dentro da banda.

As previsões ainda embutem que, mesmo que haja uma queda, o efeito atrasado dos aumentos da taxa de juros anteriores ainda serão sentidos.

Então, diminuir a taxa de juros era a cartada certa. A discussão é de quanto seria essa queda – e existia base econômica suficiente para cortar 0,5 pontos percentuais. Os preços dos alimentos, já comportados nas últimas divulgações, devem se manter assim por dois motivos: primeiro, a melhora da nota de crédito do Brasil na Agência FITCHS e as boas condições do setor externo da economia brasileira. Em segundo lugar, a atratividade relativa do país no cenário global, considerando economias que competem com a nossa por investimentos. Ambos os fatores devem manter o câmbio valorizado, o que impacta nos preços dos alimentos.

Além disso, o final do processo de alta dos juros nos EUA deve diminuir a atratividade dos títulos daquele país, fazendo com que os dólares se mantenham no Brasil e fortaleçam relativamente o real.

Para reforçar tudo isso, a fraca economia chinesa deve dar folgas aos preços das commodities em dólar, favorecendo a manutenção dos preços internacionais tanto do petróleo quanto dos alimentos. A diminuição da atividade do mercado imobiliário chinês deve, inclusive, fazer com que commodities relacionadas até fiquem mais baratas. Esse cenário deve ser reforçado com o desaquecimento dos serviços em território nacional, algo que já parece ter se iniciado, principalmente em receita nominal. 

Mas por que não tentar um corte até maior do que 0.5 p.p.? Não seria adequado por vários motivos. Primeiro, porque tanto a inflação dos serviços quanto as expectativas dos próximos anos ainda estão acima da meta, mesmo na banda. Segundo, porque temos pela frente três meses de deflação do ano de 2022 para descartar do índice de doze meses, o que deve levar a inflação acumulada para algo perto de 4,5% ou 5%. Nesse sentido, a queda de 0.5 pontos é ideal, na atual circunstância.

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