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Promovendo a equidade salarial de gênero e a responsabilidade social: uma sinergia de princípios ESG

Neste artigo, o especialista Jorge Matsumoto comenta a importância da equidade salarial de gênero no ambiente corporativo.

30/08/2023 14:45

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Equidade salarial de gênero e princípios ESG

Promovendo a equidade salarial de gênero e a responsabilidade social: uma sinergia de princípios ESG

Nos últimos anos, a integração de fatores Ambientais, Sociais e de Governança (ESG, na sigla em inglês) nas práticas empresariais tem ganhado grande destaque, à medida que as organizações buscam equilibrar lucratividade com conduta responsável e sustentável. Entre os três pilares do ESG, o "S", que representa o Social, carrega enorme importância, abrangendo questões de diversidade, equidade e inclusão. Um desenvolvimento notável nesse contexto é a iniciativa legislativa que se concentra na equidade salarial de gênero, visando reduzir a diferença salarial entre homens e mulheres e promover uma sociedade mais justa e equânime.

A legislação recentemente promulgada, Lei nº 14611/2323 enfatizando a equidade salarial de gênero, representa um passo importante para alcançar uma força de trabalho mais justa e reforçar o aspecto social dos princípios ESG. A lei estabelece que mulheres e homens devem receber salários iguais por trabalho de valor igual ou pela mesma função, estabelecendo assim a base para erradicar disparidades salariais baseadas em gênero. Essa iniciativa não apenas enfatiza o "S" em ESG, mas também se alinha com os objetivos mais amplos de responsabilidade social e práticas empresariais éticas.

No centro da nova legislação está a busca pela transparência nas estruturas salariais e critérios de remuneração. Organizações com um quadro de funcionários que ultrapasse um determinado limiar são obrigadas a publicar relatórios semestrais detalhando a transparência salarial e práticas de remuneração. Esses relatórios, embora anonimizados para garantir a privacidade dos dados, lançam luz sobre as diferenças salariais de gênero, representação em cargos de liderança e desigualdades potenciais decorrentes de fatores como etnia e idade. Ao facilitar o acesso a esses dados, a legislação incentiva a responsabilidade e capacita as partes interessadas a responsabilizar as empresas por seu compromisso com a igualdade de gênero e a justiça social.

Uma das características marcantes da legislação é sua abordagem proativa para corrigir as disparidades salariais. Além da divulgação, a lei obriga as organizações a criar e implementar planos de ação para abordar as diferenças salariais de gênero. Isso vai além dos requisitos do artigo 461 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) , pois incentiva ações concretas para eliminar as desigualdades salariais de gênero, reforçando assim os valores de igualdade e justiça social dentro do âmbito empresarial.

A aplicação da lei acima mencionada no contexto do ESG (Environmental, Social, and Governance) traz consigo uma série de exemplos práticos que ilustram como as empresas podem adotar medidas concretas para promover a equidade de gênero e a responsabilidade social. Aqui estão alguns exemplos:

  • Transparência salarial e relatórios de remuneração equitativa: empresas que empregam mais de 100 pessoas podem implementar os requisitos da lei, publicando relatórios semestrais que detalham as diferenças salariais de gênero. Esses relatórios devem incluir dados anonimizados sobre salários, remunerações e proporção de ocupação de cargos de liderança por gênero. Isso não apenas oferece uma visão clara das disparidades existentes, mas também incentiva a empresa a monitorar e corrigir as desigualdades;
  • Planos de ação para mitigação de desigualdades: quando desigualdades salariais são identificadas, a lei exige que as empresas elaborem planos de ação para corrigir essas disparidades. Isso pode incluir metas e prazos claros para alcançar a equidade salarial. Esses planos devem envolver a participação de representantes sindicais e dos funcionários, promovendo a colaboração e a diversidade de perspectivas na resolução do problema;
  • Programas de diversidade e inclusão: empresas podem implementar programas de diversidade e inclusão que abrangem a capacitação de gestores, lideranças e funcionários sobre a importância da equidade de gênero. Isso não só sensibiliza a equipe para a questão, mas também prepara a empresa para um ambiente de trabalho mais inclusivo, onde o talento é valorizado independentemente do gênero;
  • Canais de denúncia e proteção de denunciantes: a lei exige que empresas disponibilizem canais específicos para denúncias de discriminação salarial. Isso cria um ambiente seguro onde os funcionários podem relatar qualquer desigualdade percebida, sem medo de represálias. Proteger os denunciantes é fundamental para garantir que as preocupações sejam tratadas adequadamente;
  • Educação e Capacitação Contínua: a lei encoraja a capacitação e formação de mulheres para ingressar, permanecer e progredir no mercado de trabalho em igualdade de condições. As empresas podem oferecer oportunidades de desenvolvimento profissional, treinamento e mentorias voltados especificamente para mulheres, para ajudá-las a atingir todo o seu potencial;
  • Divulgação de indicadores ESG e desigualdades: a lei promove a divulgação de indicadores atualizados sobre mercado de trabalho e renda desagregados por gênero. Isso pode ser incorporado ao relatório de sustentabilidade da empresa, demonstrando seu compromisso com a igualdade de gênero e permitindo que os investidores avaliem seu desempenho sob a ótica do ESG.

A aplicação dessa lei no contexto do ESG vai além da simples conformidade legal. Ela oferece oportunidades para as empresas demonstrarem seu compromisso com a equidade de gênero, contribuindo para um ambiente de trabalho mais justo e inclusivo, enquanto também alinha as práticas empresariais com os princípios de responsabilidade social e governança corporativa.

A adoção e implementação da lei de equidade salarial de gênero, como parte das práticas de ESG (Environmental, Social, and Governance), pode trazer uma série de benefícios significativos para as empresas. Esses benefícios vão além de cumprir a legislação e têm impactos positivos tanto no desempenho financeiro quanto na reputação da empresa.  

Empresas que demonstram um compromisso genuíno com a equidade salarial de gênero e a responsabilidade social ganham uma reputação mais positiva no mercado. Isso atrai clientes, investidores e talentos que valorizam práticas éticas e inclusivas. A equidade de gênero é uma preocupação crescente para os profissionais e empregadores que se esforçam para garantir a igualdade salarial e oferecer um ambiente de trabalho inclusivo têm mais probabilidade de atrair e reter talentos diversificados, que contribuem para a inovação e o sucesso da empresa.

A promoção da igualdade de gênero e da diversidade contribui para uma cultura organizacional mais inclusiva e respeitosa. Isso resulta em um ambiente de trabalho mais harmonioso, colaborativo e produtivo. Adotar práticas de equidade salarial pode ajudar a evitar litígios legais relacionados a disparidades salariais e discriminação de gênero. Além disso, empresas que proativamente abordam essas questões enfrentam menos riscos de danos à sua reputação devido a escândalos ou acusações de discriminação.

A ênfase na equidade salarial de gênero frequentemente leva a um foco mais amplo na inclusão e diversidade, incluindo a promoção de mulheres para cargos de liderança. Isso cria uma equipe de liderança mais diversificada, trazendo perspectivas únicas para tomada de decisões estratégicas. Times diversos tendem a trazer uma variedade de experiências e perspectivas para a mesa. Isso, por sua vez, pode levar a uma maior inovação e criatividade, já que diferentes vozes são ouvidas e valorizadas.

Empresas que adotam práticas de ESG, incluindo a equidade de gênero, muitas vezes se destacam em um mercado cada vez mais consciente e socialmente responsável. Isso pode gerar uma vantagem competitiva à medida que os consumidores e investidores buscam apoiar empresas alinhadas com seus valores e os empregados engajados são mais produtivos e comprometidos com o sucesso da empresa. Demonstrar compromisso com a igualdade de gênero pode aumentar o engajamento dos funcionários, levando a um ambiente de trabalho mais saudável e produtivo.

Em resumo, a implementação efetiva da equidade salarial de gênero e outras práticas de ESG não só cumpre obrigações legais, mas também gera benefícios tangíveis para as empresas, fortalecendo a marca, melhorando a cultura organizacional, atraindo talentos e contribuindo para um futuro mais justo e sustentável.

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