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Riscos psicossociais no ambiente de trabalho

Os riscos psicossociais no ambiente de trabalho são fatores que podem causar danos à saúde mental dos trabalhadores, levando ao desenvolvimento de doenças ocupacionais psicossociais.

15/10/2023 17:00

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Riscos psicossociais no ambiente de trabalho

Riscos psicossociais no ambiente de trabalho

O ambiente de trabalho é um local onde passamos a maior parte do nosso tempo durante a semana. Nele, enfrentamos desafios, buscamos crescimento profissional e contribuímos para o sucesso das organizações. No entanto, muitas vezes, esse ambiente pode ser palco de riscos psicossociais que afetam a saúde e o bem-estar dos trabalhadores. Este artigo tem como objetivo explorar os riscos psicossociais, suas causas, impactos nas empresas e a importância da Segurança do Trabalho na promoção da saúde mental dos colaboradores.

O que são Riscos Psicossociais?

Os riscos psicossociais referem-se a fatores ou condições no ambiente de trabalho que têm o potencial de afetar negativamente a saúde mental, emocional e social dos trabalhadores. A palavra "psicossociais" é um adjetivo que se origina da combinação das palavras   "psico" (referindo-se à mente ou à psicologia) e "soci" (referindo-se à sociedade).  Ela descreve fenômenos que têm influência tanto no aspecto psicológico (mental, emocional, cognitivo) quanto no aspecto social (relações interpessoais, ambiente de trabalho, cultura) das pessoas.

Fatores que desencadeiam os Riscos Psicossociais no ambiente de trabalho

Diversos fatores podem desencadear riscos psicossociais no ambiente de trabalho, incluindo:

  • Carga de trabalho excessiva: Expectativas irrealistas de produtividade e longas jornadas de trabalho podem sobrecarregar os funcionários;
  • Falta de controle e autonomia: Quando os trabalhadores têm pouco controle sobre suas tarefas e decisões, isso pode causar estresse e ansiedade;
  • Assédio, bullying e discriminação: Ambientes hostis, comportamento inadequado ou discriminação podem levar a sérios problemas de saúde mental;
  • Insegurança no emprego: A incerteza em relação ao emprego pode causar ansiedade e preocupações constantes;
  • Ambiente de trabalho tóxico: Relações interpessoais negativas e um clima organizacional tóxico podem contribuir para doenças psicossociais;
  • Falta de apoio social: A ausência de apoio de colegas e supervisores, bem como isolamento social, pode aumentar o risco de problemas psicossociais;
  • Falta de reconhecimento e recompensas: Quando os funcionários não recebem reconhecimento adequado pelo seu trabalho ou não são recompensados de forma justa, isso pode levar a sentimentos de desvalorização;
  • Falta de equilíbrio entre trabalho e vida pessoal: Expectativas desequilibradas de disponibilidade e tempo dedicado ao trabalho podem prejudicar o equilíbrio entre vida profissional e pessoal, causando estresse adicional;
  • Falta de treinamento e desenvolvimento: A falta de oportunidades para aprender e crescer profissionalmente pode resultar em insatisfação no trabalho e desgaste mental;
  • Exposição a traumas e situações de risco: Em certas ocupações, como serviços de emergência e saúde mental, a exposição a eventos traumáticos ou situações de risco pode ter um impacto significativo na saúde mental dos trabalhadores.

As 5 principais doenças ocupacionais psicossociais

É importante observar que as doenças psicossociais no ambiente de trabalho podem variar dependendo do contexto e das características específicas de cada ambiente laboral. No entanto, aqui cinco doenças psicossociais comuns que podem afetar os colaboradores em uma ampla variedade de ocupações:

  1. Depressão

A depressão é uma das doenças psicossociais mais comuns no ambiente de trabalho. Ela se caracteriza por sentimentos persistentes de tristeza, desesperança e perda de interesse em atividades anteriormente apreciadas. No ambiente de trabalho, a depressão pode se manifestar como falta de motivação, fadiga constante, dificuldade em concentração e produtividade reduzida. Fatores de estresse crônico, como pressão excessiva no trabalho, carga horária extensa e conflitos interpessoais, podem contribuir para o desenvolvimento da depressão.

  1. Ansiedade

A ansiedade é outra condição psicossocial prevalente no ambiente de trabalho. Ela se manifesta como preocupação excessiva, nervosismo e medo constante. No ambiente de trabalho, a ansiedade pode levar a sintomas físicos, como dores de cabeça, insônia e problemas gastrointestinais. Pressões relacionadas ao trabalho, prazos apertados, alta concorrência e incertezas podem desencadear ou agravar a ansiedade em colaboradores.

  1. Síndrome do Burnout

A síndrome do burnout é um estado de esgotamento físico e emocional causado por um alto nível de estresse crônico no trabalho. Os sintomas incluem exaustão, cinismo em relação ao trabalho e sentimentos de ineficácia. A sobrecarga de trabalho, a falta de controle sobre as tarefas, a falta de reconhecimento e a ausência de equilíbrio entre trabalho e vida pessoal são fatores que podem contribuir para o desenvolvimento do burnout.

  1. Transtorno do estresse pós-traumático (TEPT)

O TEPT pode ocorrer no contexto profissional. Colaboradores expostos a eventos traumáticos, como acidentes de trabalho graves, situações de violência no local de trabalho, situações de emergência ou assédio podem desenvolver o TEPT. Os sintomas incluem flashbacks, pesadelos, hipervigilância e evitação de situações relacionadas ao trauma. 

  1. Estresse ocupacional

É um estado de tensão física e mental que ocorre quando um indivíduo está sobrecarregado e estressado em seu trabalho. O estresse ocupacional ocorre quando essa pressão se torna excessiva e constante. O estresse ocupacional pode levar a uma série de problemas de saúde física e mental, incluindo problemas de sono, tensão muscular, dores de cabeça, problemas gastrointestinais e aumento do risco de doenças cardíacas, irritabilidade e problemas de concentração. Fatores como carga de trabalho excessiva, falta de apoio da equipe e conflitos interpessoais podem contribuir para o estresse ocupacional.

Os impactos dos riscos psicossociais nas empresas

Os riscos psicossociais nas empresas podem ter uma série de impactos negativos tanto para os funcionários quanto para a organização como um todo. Esses riscos referem-se a fatores relacionados ao ambiente de trabalho e às interações sociais que podem afetar a saúde mental, o bem-estar e o desempenho dos trabalhadores. Alguns dos principais impactos dos riscos psicossociais nas empresas:

  • Aumento do absenteísmo: Funcionários que sofrem de problemas de saúde mental devido a riscos psicossociais podem faltar mais ao trabalho, o que afeta a produtividade e a continuidade das operações da empresa;
  • Presenteísmo: Mesmo quando os funcionários comparecem ao trabalho, podem não estar completamente engajados ou produtivos devido ao estresse e preocupações psicossociais. Isso pode resultar em uma queda na qualidade do trabalho e na eficiência;
  • Baixa produtividade: O estresse e a falta de motivação causados por riscos psicossociais podem levar a uma queda na produtividade dos funcionários;
  • Aumento do Turnover: Quando os funcionários se sentem sobrecarregados, desvalorizados ou insatisfeitos com o ambiente de trabalho devido aos riscos psicossociais, eles têm maior probabilidade de deixar a empresa. Isso pode resultar em custos substanciais relacionados à rotatividade de pessoal;
  • Aumento dos conflitos no trabalho: Problemas de relacionamento entre funcionários, que muitas vezes estão relacionados a riscos psicossociais, podem resultar em conflitos no local de trabalho, afetando a colaboração e a eficácia das equipes;
  • Custos Financeiros: O tratamento de problemas relacionados a riscos psicossociais, como licenças médicas, programas de apoio aos funcionários e ações corretivas, pode gerar custos significativos para a empresa.
  • Impacto na reputação da empresa: Empresas que não tratam adequadamente dos riscos psicossociais podem sofrer danos à sua reputação, pois isso pode ser percebido como insensibilidade ou falta de cuidado com os funcionários;
  • Impacto na Satisfação do Cliente: Se os funcionários estiverem insatisfeitos ou desmotivados devido a riscos psicossociais, isso pode afetar a qualidade do atendimento ao cliente e, consequentemente, a satisfação do cliente.

Legislação aplicada aos Riscos Psicossociais

Atualmente, não existe uma legislação específica direcionada exclusivamente aos riscos psicossociais no ambiente de trabalho no Brasil. No entanto, há Normas Regulamentadoras (NRs) que abordam questões relacionadas à saúde ocupacional e podem ser aplicadas para lidar com esses riscos.  Algumas das NRs relevantes incluem:

  • NR 01 - DISPOSIÇÕES GERAIS e GERENCIAMENTO DE RISCOS OCUPACIONAIS: Esta norma estabelece as diretrizes e os princípios gerais para a elaboração e implementação de todas as NRs. Além disso, ela prevê a elaboração do Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR), que pode abordar aspectos relacionados aos riscos psicossociais;
  • NR 7 - Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO): O PCMSO é responsável por avaliar a saúde dos trabalhadores, incluindo a detecção precoce de doenças relacionadas ao trabalho. Embora o foco principal desta norma seja a saúde física dos trabalhadores, a avaliação das condições de trabalho pode incluir aspectos psicossociais que afetam a saúde ocupacional. O Programa Saúde em Psicologia (PSP) pode ser uma iniciativa da empresa para lidar com riscos psicossociais;
  • NR 17 - Ergonomia: A NR 17 trata da ergonomia no ambiente de trabalho, abordando questões relacionadas ao conforto, à postura e às condições de trabalho que podem impactar o bem-estar dos funcionários. Embora não se concentre exclusivamente nos riscos psicossociais, abrange fatores que podem contribuir para esses riscos.

É importante destacar o Projeto de Lei 3588/20 está em tramitação na Câmara dos Deputados. Este projeto visa a criação de uma Norma Regulamentadora (NR) específica que aborde medidas de prevenção e gestão de riscos no ambiente de trabalho que possam afetar a saúde mental dos trabalhadores, ou seja, os riscos psicossociais. Caso seja aprovado e implementado, essa NR representaria um avanço significativo na regulamentação e na proteção da saúde mental dos trabalhadores no Brasil.

Dessa forma, embora atualmente não haja uma legislação específica sobre riscos psicossociais, as NRs existentes e o projeto de lei em tramitação demonstram o reconhecimento crescente da importância de abordar essa questão no âmbito da saúde ocupacional no país.

O papel da Segurança do Trabalho na promoção da saúde mental no ambiente de trabalho

A segurança do trabalho desempenha um papel fundamental na promoção da saúde mental dos funcionários. Isso envolve a implementação de medidas de prevenção de acidentes, a criação de um ambiente de trabalho que valoriza o bem-estar dos trabalhadores e a oferta de recursos de apoio psicológico.

É essencial que as empresas adotem uma abordagem mais holística para a segurança no local de trabalho, que inclua a promoção da saúde mental dos funcionários. Como:

  • Conscientização e treinamento – Educar os funcionários sobre a importância da saúde mental, os sinais de problemas e onde buscar ajuda é o primeiro passo. Oferecer treinamento em primeiros socorros psicológicos também pode ser valioso;
  • Identificação de Riscos Psicossociais: A Segurança do Trabalho pode ajudar a identificar e avaliar riscos psicossociais no ambiente de trabalho, como estresse excessivo, assédio, sobrecarga de trabalho, falta de apoio social e falta de controle sobre as tarefas. A identificação precoce desses fatores pode prevenir problemas de saúde mental;
  • Ambiente de trabalho saudável – Promover um ambiente de trabalho que valorize o respeito, a inclusão e o apoio mútuo é fundamental. Políticas anti-bullying e anti-assédio devem ser implementadas e rigorosamente aplicadas;
  • Acesso a serviços de apoio – Oferecer acesso a programas de assistência ao empregado e aconselhamento psicológico pode ajudar os funcionários a enfrentar os desafios da saúde mental de maneira adequada;
  • Redução do estigma – Combater o estigma associado aos problemas de saúde mental. Isso pode encorajar os trabalhadores a buscar ajuda sem medo de represálias ou julgamentos negativos;
  • Avaliações de risco psicossocial – Realizar avaliações regulares dos riscos psicossociais no ambiente de trabalho pode ajudar a identificar problemas antes que se tornem crises.

Essas avaliações podem ser realizadas por meio de observações diretas, entrevistas individuais, check-lists ou mediante análise de dados, como registros de acidentes de trabalho e taxas de absenteísmo.

Em conclusão, os riscos psicossociais no ambiente de trabalho são uma preocupação crescente devido ao impacto significativo na saúde mental dos trabalhadores. É fundamental que as empresas e os governos adotem medidas para prevenir e gerenciar esses riscos, protegendo assim a saúde mental dos funcionários. A legislação existente e propostas como o Projeto de Lei 3588/20 são passos importantes nesse sentido. Além disso, a segurança do trabalho desempenha um papel vital na promoção de ambientes de trabalho saudáveis e na prevenção das cinco principais doenças psicossociais discutidas neste artigo. A saúde mental no local de trabalho deve ser uma prioridade, pois isso não apenas beneficia os trabalhadores, mas também contribui para um ambiente de trabalho mais produtivo e sustentável.

Por Alessandra de Souza Ferreira, bacharel em Ciências Contábeis e Técnica em Segurança do Trabalho.

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