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ECONOMIA MUNDIAL

Onda, Marola, Tsunami

Alguns exemplos de acertos e erros nessa história, que esta longe de acabar.

12/12/2023 18:00

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Onda, Marola, Tsunami

Onda, Marola, Tsunami Foto: Monstera Production/Pexels

A economia global está sempre em constante turbulência, e entender essas mudanças é crucial para o sucesso de qualquer empreendimento. Nesse sentido, é importante conhecer a história das mudanças que ocorreram na indústria automobilística. A partir do momento em que as carruagens passaram a ser tracionadas por motores, o automóvel começou a ganhar destaque na economia mundial, representando uma parcela significativa da economia de um país.

No início, europeus e americanos eram os principais detentores da tecnologia automotiva e lutavam pela supremacia do mercado. Nesse período, foram criadas grandes corporações como Ford, General Motors, Peugeot, Mercedes, Rolls Royce, BMW, Bentley, Fiat e Alfa Romeo.

Mesmo com a grande depressão de 1929, o domínio desses países não foi abalado, mas a Segunda Guerra Mundial trouxe mudanças significativas. Durante os cinco anos de conflito, as fábricas se concentraram na produção de equipamentos de guerra em um esforço para ganhar o conflito. Após a vitória dos Aliados, houve um grande espólio, incluindo a Volkswagen alemã. Os Estados Unidos iniciaram a reconstrução do Japão, totalmente destruído pela guerra, e deram a oportunidade dos japoneses estreitarem suas relações comerciais. Estava se formando a primeira onda. Cientes do sucesso do Fusca no maior mercado automobilístico do mundo, os Estados Unidos, os japoneses começaram a exportar seus econômicos Toyota, Honda & cia para os americanos.

Era motivo de piadas, carros ruins e pequenos demais. Os japoneses, na verdade, estavam estudando o mercado e absorvendo tecnologia e veio então a crise do petróleo. Os beberrões americanos ficaram fora de moda e os japoneses começaram a avançar em vendas. A inovação japonesa atingiu praticamente todos os mercados mundiais e consequentemente virou um polo de tecnologia automotiva e suas marcas se tornaram apreciadas, mundo afora e colocadas em igualdade com americanos e europeus. Em 1980 o Japão se tornou o maior produtor mundial de carros, deixando os americanos em segundo lugar. Essa primeira mudança da história automotiva nos deixa uma lição comercial que veremos implementada em outras mudanças e que serve de exemplo para nossos negócios. Acredite no seu produto, use a organização oriental e sabedoria para se impor, tenha em mente que sua marca não carrega o peso, muitas vezes fardo, de uma história, você é livre para ousar. Os japoneses fizeram isso, os americanos não. A poderosa indústria norte-americana não se preparou para um futuro com petróleo mais caro, emissões controladas e concorrêntes ousados e muito agressivos no mercado.

As montadoras americanas não tiveram um planejamento e estratégia de mercado de longo prazo. Um erro clássico de empresa que muitas vezes vai da liderança de mercado a falência em poucos atos, poucos anos. No final da década de 1980, começaram a aparecer veículos produzidos na Coreia do Sul - mas os coreanos produziam carros? Sim, eles tinham fábricas por lá e uma delas era da General Motors, a Daewoo. No entanto, a GM, apesar de todo o seu conhecimento e portfólio, não conseguiu fazer com que a marca decolasse e, após algum tempo, foi forçada a encerrar suas atividades. A Kia e a Hyundai, por sua vez, produziam carros de qualidade inferior e lutavam para obter sucesso em mercados "maduros", sendo motivo de piadas. A Kia acabou sendo comprada pela Hyundai, e a união das empresas, juntamente com uma ousadia sem precedentes, resultou na produção de carros de altíssimo luxo e qualidade impecável! Esses belos carros coreanos passaram a vender bem nos mercados europeus e americanos.

A mudança liderada por Chung Mong-Koo, presidente da Hyundai Kia, não foi tão drástica para o cenário mundial, foi uma marola. Ele ousou transformar uma montadora de carros populares em um player no seleto mundo dos carros premium. A loucura de Chung se transformou na quinta maior montadora do mundo, considerada referência em tecnologia e sofisticação. Quando perguntado se teria coragem de competir com BMW e Mercedes Benz, Chung respondeu: "por que não?". A Coreia do Sul se tornou um polo da indústria automobilística mundial, com a produção de 8 milhões de carros por ano e a quinta maior montadora do mundo. Esse sucesso pode estar relacionado ao fato de que os polos de tecnologia e inovação estavam migrando do continente europeu e americano para o oriente, e os orientais estavam na vanguarda de uma guerra moderna onde não se dispara um único tiro.

Dominar os mercados e assim drenar para seu PIB a economia de países ricos. Vimos a acensão de Coreanos do Sul enquanto americanos e europeus amargavam a dura realidade de prejuízos. Mais uma vez não enxergaram o futuro e demoraram a dar uma resposta, nunca deram. Durante toda essa história a China, um país comunista e rural, se mantinha esquecida. Existiam fábricas de carros na China? Sim, elas faziam carros horríveis, sem segurança alguma, muitas vezes cópias de modelos europeus e americanos. O governo chines ofereceu aos produtores tradicionais a possibilidade de se instalarem em seu território. Tinha uma condição: Se associar a uma montadora local!

A soberba dos americanos e europeus fizeram o trabalho e naquele ato os chineses começaram a adquirir tecnologia automotiva de ponta. Os carros evoluíram de forma rápida e o mercado chinês se tornou o maior do mundo em 2009, deixando os Estados Unidos na segunda colocação. As marcas tradicionais, que dominaram boa parte desse gigantesco bolo, hoje amargam o encolhimento. As montadoras locais já aparecem na liderança. Os chineses se tornaram referência e líderes mundiais na tecnologia híbrida e elétrica, as baterias mais modernas vem deles. São vendidos 5,5 milhões de carros elétricos no mercado local e devem fechar 2023 com mais de 14 milhões de híbridos e elétricos vendidos no mundo. 60% do mercado mundial de veículos elétricos e híbridos, sem vender uma unidade sequer no segundo maior mercado, os Estado Unidos.

Os chineses estão chegando na Europa, eles já estão presentes nos mercados periféricos do mundo. Empresários chineses já possuem partes de empresas tradicionais automotivas da Europa e Estados Unidos. O Tsunami que eles provocam no mercado é entendido quando analisamos que eles não querem apenas vender seus carros, estão buscando a supremacia no setor mais crucial para uma economia. Enquanto alguns trocam tiros e destroem outro e a si para anexar territórios, os chineses usam o mercado Financeiro. Qual a lógica? Sem crescimento significativo há muito tempo, a entrada de diversas montadoras no mercado global para concorrer com muita tecnologia e preço atrativo, aumentará significativamente sua parcela desse mercado. Montadoras americanas e europeias não vão aguentar por muito tempo. Os chineses vão dominar o mercado mundial de carros em dez anos e veremos o fim de algumas marcas tradicionais e outras sendo compradas por corporações da China. Todo o mundo financiou esse tsunami quando comprava produtos de todo tipo de qualidade duvidosa por precinho camarada, comprávamos MADE IN CHINA. Esse mundo de dinheiro permitiu ao governo chinês bancar subsídios fiscais e descontos oficiais para incentivar a troca de carro.

A China tem investido diretamente na produção de automóveis, o que resultou na abertura de diversas fábricas. Essa estratégia tem gerado resultados e a montadora chinesa BYD já é a quarta maior do mundo em vendas. Para entender a dimensão desse fenômeno, vamos analisar alguns números: a Toyota lidera o mercado mundial com 9,8% de participação, seguida pela Volkswagen com 6,5%. Em terceiro lugar, aparece a Honda com 4,9% e a BYD com 4,8%. Nenhum fabricante americano figura no top 5 e apenas uma empresa europeia, a Hyundai, ocupa a quinta posição. Talvez você esteja se perguntando como isso pode afetar sua vida ou sua empresa. A verdade é que os países asiáticos têm uma característica em comum: eles primeiro copiam, aprendem, aperfeiçoam e, em seguida, dominam. Eles adotam uma estratégia de mercado onde oferecem produtos de alta qualidade com preços competitivos. Um carro chinês não terá o mesmo "custo marca" de um modelo da BMW, Mercedes ou Chevrolet. Ao entrar em um carro chinês, o consumidor é tentado a experimentar. Como consultor, meu trabalho é entender o mercado em que a empresa está inserida e como as tendências externas podem afetá-la.

Antecipar o futuro não é uma habilidade exclusiva de cartomantes. Nós, consultores, temos a responsabilidade de preparar nossos clientes para qualquer cenário. Devemos ser destemidos e ousados, trabalhando em equipe e mantendo parcerias saudáveis com fornecedores. O cliente é a peça-chave que mobiliza todos na empresa. Mas, você deve estar se perguntando o que as "três ondas" têm a ver com isso. A verdade é que todos os envolvidos nas três ondas que citei como exemplo possuíam algo em comum: visão de futuro e estratégia. Eles planejaram suas ações e surpreenderam pela ousadia. Independentemente do tamanho ou segmento da empresa, é possível crescer e surpreender o mercado, assim como um tigre asiático. Eu não tenho dúvidas disso, minha experiência me dá a certeza.

Por: Beto Villani: consultor de negócios, formado em Ciências Contábeis. 

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