O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de fevereiro, divulgado pelo IBGE, superou as expectativas do mercado, registrando aumento de 0,83%. Esse resultado ecoa o desempenho de fevereiro de 2023, quando o IPCA também apresentou uma expressiva alta de 0,84%.
Com isso, o indicador acumula, agora, 1,25%, no ano, e 4,5%, nos últimos 12 meses. Esses números devem instigar debates sobre a duração do ciclo de redução da Selic, pois os índices deste ano não demonstram uma tendência de queda inequívoca.
Para o Banco Central (Bacen), a divulgação do indicador pode ser analisada sob dois prismas. O setor de despesas pessoais, que abrange serviços e lazer, apontando uma queda significativa, passando de 0,82%, em janeiro, para 0,05%, em fevereiro, e sinalizando um claro desaquecimento dos serviços pessoais.
A maior parte desse resultado é atribuída ao aumento sazonal na educação — o subitem, sozinho, contribuiu com alta de 4,98% e 0,29 ponto porcentual (p.p.), praticamente um terço de toda a inflação. Além disso, outro setor sazonal, o de transportes, também registrou alta (0,72%), contribuindo com 0,15 p.p., o que significa que dois itens estacionais responderam por mais da metade do índice geral.
Por outro lado, o item alimentos e bebidas continua pressionando o indicador, com aumento de 0,95%, após 1,38% em janeiro, principalmente os alimentos em domicílio, com alta de 1,12%. No acumulado do ano, já se observa uma subida de 2,35%. Essa pressão está presente desde o fim do ano passado.
Outro aspecto a se observar é a falta de convergência da inflação e do núcleo para a meta neste mês, algo semelhante ao ocorrido nos Estados Unidos, onde a queda para um certo nível (3,5% lá e 4,5% aqui), foi relativamente tranquila, porém parece não se manter abaixo desses valores nas condições atuais. Além disso, um dado ainda mais preocupante é do índice calculado pela área de Estratégia Macro da XP Investimentos, que aponta alta nos serviços intensivos de mão de obra. A média móvel de três meses subiu de 6% para 7,2% ao ano (a.a.), indicando potencial contaminação do IPCA pelo mercado de trabalho aquecido.
A sazonalidade observada em fevereiro, com destaque para educação e transportes, ao lado do comportamento mais linear da inflação no segundo semestre de 2023, ainda permite algumas reduções de 0,5 p.p. na Selic — mas o espaço vai se estreitando. Além da resistência dessa inflação, que permanece na banda superior da meta, a força dos serviços, até janeiro, e, principalmente, as declarações sobre a política fiscal do governo são inquietantes, inclusive frente ao aumento da arrecadação e da possibilidade de relaxamento da meta fiscal.
Dada essa situação-limite, uma política expansionista, agora, obrigaria o Bacen a interromper a redução das taxas de juros antes do esperado, talvez já no primeiro semestre, em uma situação mais extrema.
Ao considerar os números mais alarmantes do último IPCA, somados à percepção de que o governo pode seguir um caminho menos austero na situação fiscal, haverá uma clara pressão sobre a curva de juros e as expectativas de mercado, o que complicará o trabalho do Bacen nas próximas reuniões. É necessário que o governo mantenha e cumpra as metas do arcabouço para prolongar a redução dos juros por mais tempo.