Em artigo do jornal Inglês Financial Times, intitulado “What went wrong with capitalism” (“O que deu errado com o capitalismo”, na tradução para o português), Ruchir Sharma faz uma análise completa e bem estruturada sobre como os incentivos ilimitados de governos e bancos centrais têm prejudicado o capitalismo, em especial quanto ao próprio futuro. Acredito que essa reflexão seja extremamente relevante para o Brasil também.
Segundo Sharma, os excessos de moeda injetados na economia desde setembro de 2001 até a pandemia ultrapassaram todos os limites aceitáveis, pois salvaram, indiscriminadamente, tanto as empresas saudáveis quanto as improdutivas.
Na verdade, muitos negócios ineficientes são alvo de programas de compras do governo, desde ações até dívidas corporativas. No desespero, o governo não consegue discernir se está salvando essas empresas em razão dos efeitos de um problema externo (ataques terroristas, crise imobiliária, pandemia etc.) ou não, e acaba injetando dinheiro sem critério algum — geralmente nas companhias maiores, que têm dívida privada e ações na Bolsa.
Além disso, grandes empresas são incentivadas a se fundirem, criando enormes conglomerados com intenso poder político e pouco espaço para as menores, mesmo as competentes e arrojadas, se estabelecerem no mercado. Isso cria uma barreira contra a inovação, o que pode explicar parte da baixa produtividade da economia norte-americana.
O autor do artigo ainda aponta que, nos últimos 50 anos, não houve redução estatal, mesmo na economia dos Estados Unidos — medida defendida pelos liberais e, principalmente, pelos republicanos. No entanto, desde Reagan, o que se viu por parte desses últimos foram apenas cortes de impostos e aumento da dívida, enquanto os democratas, em geral, preferem mais gastos diretos.
Essa situação pode ser expandida para o Brasil. As grandes tarifas que protegem a Indústria nacional, há mais de 70 anos, reduzem tanto a possibilidade de competição quanto o incentivo do setor a investir, uma vez que não precisa competir com estrangeiros, e o acesso a novas empresas inovadoras é bloqueado. Assim, não há necessidade de se buscar mais eficiência — e grandes somas de subsídios são direcionadas sem nenhuma avaliação direta.
Coincidência ou não, o País sofre de uma grande pane de produtividade que, desde a década de 1980, só tem se agravado. Nossa falha no sistema educacional e as dificuldades no ambiente de negócios, de fato, contribuíram, mas a ineficácia na alocação de recursos é um dos maiores culpados por esse cenário.
Aqui, é importante destacar que tanto este artigo que escrevo quanto o original citado, que trouxe toda a discussão, não criticam a política industrial em si. A ideia é que os gastos do governo para incentivar a economia precisam ser muito bem definidos e seguidos de rigorosa avaliação de políticas públicas. Devemos sempre ter em mente que os recursos destinados a esses fins deixam de ser aplicados em Educação, Saúde e Transportes — portanto, devem gerar resultados satisfatórios para justificar todo o investimento.