O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou os dados do Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre de 2024, revelando um crescimento de 0,8% em comparação ao trimestre anterior, resultado em linha com as expectativas do mercado. No acumulado dos últimos quatros trimestres, a expansão da economia brasileira se mantém em 2,5%, ajustando minimamente as projeções anuais.
No entanto, apesar do crescimento positivo, esses números enviam um alerta importante sobre a composição do PIB e os rumos do País. A análise por tipo de despesa (consumo do governo, consumo das famílias e investimentos) revela que o crescimento acumulado de quatro trimestres é impulsionado, principalmente, pelos consumos governamental (2,1%) e familiar (3,2%).
Essa expansão está diretamente relacionada ao mercado de trabalho aquecido e à política fiscal expansionista. Por outro lado, a formação bruta de capital fixo (FBCF), que representa o investimento na economia, apresentou alta na margem no último trimestre, embora ainda acumule contribuição negativa de 2,7% no ano.
Esse cenário indica que os estímulos ao consumo podem ter chegado ao seu limite, tornando necessário um direcionamento das políticas públicas para o incentivo do investimento privado. Essa necessidade se torna ainda mais evidente com a deterioração das expectativas de inflação para o futuro, conforme apontado pelo relatório Focus, do Banco Central (Bacen). Nas últimas quatro semanas, as projeções para o IPCA neste ano subiram de 3,72% para 3,88%, enquanto que também há previsão de elevações para 2025 e 2026.
O aumento das expectativas inflacionárias entre os agentes econômicos sinaliza que a economia nacional já atingiu um ponto de inflexão, no qual novos estímulos ao consumo, sem o devido direcionamento a investimentos, podem levar a uma alta ainda maior nos preços em detrimento da produção. As empresas já estão na fase ascendente das curvas de custos, pressionadas tanto pelo encarecimento da matéria-prima quanto pelos sucessivos reajustes do salário real médio e da massa salarial total.
Assim, o PIB transmite uma mensagem clara: frente à estrutura econômica atual, o crescimento das despesas do governo tende a se traduzir apenas em maior inflação. É necessário, portanto, abrir espaço para o investimento privado, mediante uma política fiscal mais austera que permita uma redução mais significativa da taxa Selic, sem pressionar ainda mais os preços. Apesar de estar alinhado com as expectativas do mercado, o resultado do PIB deve provocar uma mudança no foco de análises e projeções.
O Comitê de Política Monetária (Copom), do Bacen, precisa direcionar a atenção para a desancoragem das expectativas de inflação e para os índices inflacionários, principalmente no setor de Serviços, em vez de se concentrar exclusivamente nos indicadores de atividade, próximos do esperado. Além disso, o Copom acompanhará de perto a dinâmica da política, dada a sua influência direta nas expectativas de mercado. Assim, salientamos, mais uma vez, a mensagem do PIB: a economia brasileira precisa de um redirecionamento das políticas públicas para garantir um crescimento sustentável e evitar um novo surto inflacionário.