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ARTIGO DE ECONOMIA

Depois do PIB, atenção agora deve ser voltada ao IPCA

Neste artigo, o especialista comenta a respeito da alta do indicador do IPCA e os grupos que demonstram o crescimento da inflação no Brasil.

13/06/2024 13:30

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Depois do PIB, atenção agora deve ser voltada ao IPCA

Depois do PIB, atenção agora deve ser voltada ao IPCA Foto: José Cruz/Agência Brasil

No texto da semana passada, alertei sobre os sinais preocupantes que os dados do Produto Interno Bruto (PIB) apontavam. A queda consistente nos investimentos, tanto ano a ano quanto como porcentagem do PIB, compromete a oferta no médio e no longo prazos. 

Uma oferta mais restrita significa maior pressão inflacionária, especialmente num ambiente de demanda aquecida e superestimulada. Esta é a notícia da recente divulgação do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA): a demanda continua aquecida.

Os resultados de maio do indicador apontaram alta de 0,46% no mês, contra 0,28%, em abril, e 0,23%, em maio do ano passado. Diante disso, o resultado em 12 meses voltou a um patamar próximo da banda superior da meta, atingindo 3,93%. Nos 12 meses até abril, o IPCA crescia 3,69%. 

Os grupos de alimentação e bebidas e habitação continuam pressionados, representando metade de toda a expansão do índice no mês. Ao somarmos transportes e serviços pessoais, esses quatro grupos serão responsáveis por quase todo o crescimento da inflação.

Contudo, o dado mais alarmante foi observado no último segmento citado. Em um cenário de não cumprimento da meta fiscal e incertezas acerca do futuro do arcabouço, o índice de serviços voltou a crescer próximo a 0,4%, após ter registrado 0,05% e 0,10% nos dois meses anteriores, respectivamente. 

Assim como o PIB, o IPCA dá um aviso claro: com alimentos e habitação pressionados, os serviços parecem ser “o fiel” da balança. Esse segmento é muito sensível à pressão da demanda que, por sua vez, responde diretamente aos gastos do governo. Fato é que política fiscal expansionista resulta em encarecimento direto dos serviços, via mercado de trabalho. 

Assim, se esse cenário se perdurar, sem respeito às metas fiscais estabelecidas, os próximos resultados do IPCA vão piorar consistentemente. Além disso, é importante lembrar que, em junho de 2023, o indicador sofreu queda de 0,08%, enquanto em julho registrou alta de apenas 0,12%, o que deve levar o índice de 12 meses para muito acima de 4% até o fim de julho.

Esse resultado, provavelmente, levará o Banco Central (Bacen) a interromper o ciclo de queda da Selic na próxima reunião, porque, além do resultado de maio, às expectativas de inflação, avaliadas tanto pelo relatório Focus como pela curva de DI futuro, estão piorando de forma gradativa. 

Na atual conjuntura, a inflação está próxima de “desancorar”, termo que no jargão econômico significa perder o controle das expectativas no longo prazo. Esse processo é perigoso, uma vez que pode gerar indexação no curto prazo, alimentando a inflação corrente.

Em suma, a inflação é mais uma variável que, além do PIB, emite um alerta. A economia brasileira já está operando na parte crescente dos custos de produção, e aumentar a demanda, agora, significa aumento de preços. 

Qualquer política de estímulo, neste momento, se traduzirá em problemas futuros, especialmente para a classe mais pobre, que perderá poder de compra. Ainda, a necessidade de juros mais altos deprimirá ainda mais o investimento e as condições do mercado de trabalho no médio prazo. Mais um recado dado.

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