Há uma crescente pressão para que o Banco Central (Bacen) reduza os juros. Contudo, conforme discutido em textos anteriores, o cenário atual não é favorável a cortes na taxa Selic. Na verdade, o problema é ainda mais profundo, pois reduzir os juros neste momento pode piorar as condições de crédito empresarial.
Essa questão está relacionada ao mercado futuro desses juros. Aqui, é possível negociar taxas futuras com valores fechados hoje em contrato. A média desses valores é representada na curva de juros futuros, que mostra, no eixo “X”, os vencimentos (seis meses, um ano, dez anos, etc.), e, no eixo “Y”, os juros negociados para cada período.
O formato da curva depende das decisões do Bacen a respeito da Selic, que serve como base para a sua construção. E a inclinação dessa curva é essencial, pois indica se a taxa será mais alta no futuro.
Assim, se o órgão adotar uma postura leniente quanto à inflação, e a Selic estiver abaixo do necessário, o mercado vai entender que a autoridade monetária precisará subir os juros de forma mais intensa, em razão da inflação crescente. Isso influencia os mercados futuros pelas expectativas.
Dessa forma, a curva se torna mais inclinada, e os empresários que buscam financiamento de longo prazo enfrentam juros mais altos. Pressionar o Bacen a baixar a Selic sem conjuntura propícia resulta em aumento das expectativas, elevando os juros de mercado agora, especialmente para os negócios.
Portanto, às vezes, é preferível uma taxa um pouco mais alta a curto prazo para manter os financiamentos produtivos mais acessíveis no longo prazo — e essa é a estratégia atual do Bacen. Além disso, outros fatores podem expandir as taxas de longo prazo.
Declarações ou ações do governo rumo a uma política fiscal expansionista (com mais gastos) podem elevar os juros, ainda mais em uma situação recorde de baixo desemprego — como a atual e a de pré-crise de 2014–2015. O governo, como um grande consumidor, impulsiona a demanda com despesas. Frente a oferta constante, esse crescimento de demanda é repassado para os preços.
O Bacen interrompeu o ciclo de queda graças a isto: a política fiscal pouco austera desestabilizou as expectativas futuras de inflação, refletindo na curva de juros. Para evitar a desancoragem das expectativas (superação da meta inflacionária), o banco foi obrigado a agir.
Logo, os empresários devem se manter atentos a isso. Se os gastos do governo continuarem a subir, o Bacen terá de manter a Selic nas alturas. Combinado a um cenário externo adverso, pode dificultar a economia — e essa aparente aquecida atual corre o risco de se transformar rapidamente, como ocorreu em 2014.
A única forma de reverter um cenário mais sombrio é o plano de corte de gastos e melhoria do resultado primário governamental. Um aumento nos impostos, por si só, não resolverá o problema — e repetir o erro de sobrecarregar a economia pode ser desastroso.