No início do ano, dados mais sólidos da atividade econômica dos Estados Unidos alteraram as expectativas a respeito da flexibilização monetária do FED (o banco central de lá), indicando que a redução das taxas de juros ocorreria apenas na última reunião deste ano ou na primeira do próximo.
Em artigos anteriores, já alertamos para esse novo cenário. Contudo, a economia é muito dinâmica, e novas informações estão mudando, gradativamente, a percepção do mercado. Alguns operadores mais ansiosos, inclusive, já especulam uma queda já no primeiro semestre, enquanto a maioria ainda espera pela primeira redução em setembro.
Mas o que provocou essa rápida mudança? O dado mais animador que segue em direção a um corte mais rápido foi o último do Consumer Price Index (CPI), equivalente ao nosso Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Entretanto, diferentemente do Banco Central do Brasil (Bacen), o FED tem como foco o núcleo da inflação, excluindo preços mais voláteis.
Em junho, esse núcleo subiu apenas 0,1%; já o índice geral revelou uma deflação de 0,1%, além do aumento de 3,1% em 12 meses. O núcleo anual, por sua vez, chegou a 3,3%, menor nível desde o início de 2021, apontando uma trajetória de convergência para a meta de 2%.
Esse resultado motivou declarações otimistas de membros do alto escalão da autoridade monetária estadunidense. O próprio presidente do FED, Jerome Powell, afirmou que, embora seja necessário mais informações, já é possível vislumbrar uma tendência de convergência inflacionária para a meta — e os números de junho reforçam essa confiança.
O entusiasmo no mercado foi ainda mais acentuado pela desaceleração do índice de aluguéis, que vinha pressionando o CPI de forma consistente. Já a taxa de desemprego, ainda que em níveis baixos, aumenta gradualmente, passando de 3,4% para 4,1%, no último resultado de junho.
Contudo, nem todos esses indicadores favorecem uma contração rápida dos juros: o último dado do varejo, que tem mostrado grande volatilidade, surpreendeu. Em junho, excluindo automóveis e gasolina, o índice subiu 0,8%, quase quatro vezes o esperado. Além disso, o número de maio foi revisado de 0,1% para 0,3%, levando muitos a desistir da ideia de uma queda no primeiro semestre, embora alguns ainda apostem nessa possibilidade.
Assim, o quadro mais provável é de uma ou duas reduções em 2024, o que pode aliviar a pressão sobre os juros no Brasil. Se o governo daqui fizer os cortes no orçamento e ajustes de médio prazo, poderá abrir caminho para uma futura queda das taxas nacionais.
Todavia, essa decisão não pode ser apenas pontual, mas uma mudança de visão. Em pleno emprego, o gasto se transforma em inflação. Neste momento, precisamos incentivar investimentos, e não consumo.