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Artigo Economia

O papel do Estado nas economias norte-americana e chinesa

Nesse artigo, você vai entender como o papel dos estados nos novos rumos da economia.

21/05/2021 16:00

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O papel do Estado nas economias norte-americana e chinesa

O papel do Estado nas economias norte-americana e chinesa pxhere/pixabay

Tivemos um grande marco no século passado: a queda do Muro de Berlim. Naquele momento, parecia que teríamos uma só superpotência dominando e traçando os rumos da nossa civilização.

Sem nenhum concorrente, os Estados Unidos não precisavam mais de um Estado que fizesse Guerra Fria contra um inimigo potencial, e os investimentos militares e em inovação poderiam ser levados adiante pelo próprio mercado.

Governos essencialmente liberais diminuíram a interferência do governo em setores estratégicos da economia.Paralelamente a isso, um gigante trabalhava justamente no sentido oposto.

A China abriu a sua economia para o exterior, mas continuou fechada politicamente e com um direcionamento gigantesco da administração, com o Estado não só interferindo diretamente no investimento em setores estratégicos, mas também canalizando recursos privados para os setores que o Partido imaginava que geraria mais retornos no longo prazo. Por exemplo, o investidor chinês não pode investir em bolsas estrangeiras, direcionando todo o montante para o mercado de capitais doméstico.

Impactos para as empresas

Em um artigo muito detalhado, “Who Lost Lucent?: The Decline of America’s Telecom Equipment Industry” , Roberto Atkinson critica a abordagem norte-americana de delegar ao mercado as empresas estratégicas.

Segundo ele, a soma de três fatores – necessidade de curto prazo dos detentores de ações e administradores; ação antitruste que diminui ganhos de escala em relação a chinesas e europeias; e falta de plano estratégico de ação – foram vitais para destruir as empresas de telecomunicações estadunidenses, que, atualmente, estão longe do estado das artes dos concorrentes chineses e europeus.

Essas empresas necessitam de escala para competir, inovar e ter forças para concorrer com empresas que claramente sofreram influências e/ou estratégias de governos. Assim, ao buscar lucro de curto prazo, ao diminuir poder de concentração das empresas e por não ter um direcionamento estratégico, a indústria de comunicações pagou um preço alto.

Nesse ínterim, o país chinês fortaleceu a sua economia e conseguiu altíssimas taxas de crescimento com estratégias de desenvolvimento tecnológico muito claro. Hoje, em muitos setores, o país já e uma ameaça aos planos norte-americanos, embora ainda dependa do Ocidente, ou melhor de aliados do Ocidente (Taiwan, assunto para um outro artigo) para o principal componente da guerra tecnológica: semicondutores de alta tecnologia.

Os Estados Unidos, então, perceberam que a ameaça era maior do que esperavam. Sendo assim, começaram a desmontar a política liberal que tinham. Iniciaram pela estratégia clara de bloquear o crescimento de empresas chinesas, proibindo empresas nacionais ou aliadas de ceder tecnologia a elas. Chegaram até a punir executivos empresariais daquele país, sob a acusação de espionagem. Sem contar que dificultaram a entrada de estudantes chineses em universidades de ponta americana.

Contudo, o ponto que mais nos interessa aqui é o comportamento do governo Biden, aproveitando-se do enfraquecimento da economia em decorrência das restrições necessárias para a não transmissão do vírus.

Diversos pacotes e planos vêm sendo revelados, sendo um de alívio financeiro para a população (de US$ 1,9 trilhão), um de infraestrutura (que ainda depende de aprovação do congresso), de mais de US$  2 trilhões  – plano que conta com muitos recursos para investimento em setores estratégicos, como 5G, carros com energia renovável e infraestrutura física) –, e um terceiro, ainda no papel, sobre primeira infância e educação infantil, que deve se aproximar de US$ 2 trilhões.

Papel dos Estados

Em resumo, a situação delicada do pós-pandemia, um governo democrata e o entendimento da necessidade do Estado como indutor do crescimento econômico mudaram a maneira de pensar dos Estados Unidos e os rumos da política econômica.

Entretanto, isso não vem sem custos. A China, após décadas de políticas fiscais e monetárias expansionistas, se vê numa encruzilhada: empresas não financeiras extremamente alavancadas não permitem que o governo do país ouse em novos estímulos, porque qualquer aumento mais significativo de juros, no futuro, pode gerar um efeito em cascata. Por outro lado, pequenas e médias empresas se veem sufocadas com as contas da pandemia sem receber ajuda em financiamentos mais vantajosos. O desequilíbrio do crescimento chinês é visível neste momento.

No país norte-americano, o perigo iminente da inflação, que já está atingindo níveis muito altos para o histórico estadunidense, faz com que o mercado se mantenha desconfiado da margem de manobra que o governo tem para reforçar esta intromissão na economia. Uma dívida pública que aumenta consistentemente e um déficit que já chega a 10% do Produto Interno Bruto (PIB) preocupam os economistas, que percebem que toda esta dívida está sendo “empurrada” para a geração seguinte.

A solução está na ponderação: até quando o Estado pode ser parceiro da iniciativa privada em ações de desenvolvimento? Até o ponto que isso não faça com que ele seja tão grande que precise tirar recursos da própria inciativa privada, a fim de financiar os planos.

Aqui, no Brasil, o Estado paquidérmico e muito endividado não permite planos de longo prazo. Primeiro, temos de arrumar a casa, e, nesse sentido, a Reforma Administrativa irrestrita seria um grande passo. Rearranjando gastos, reestruturando as carreiras do setor público e reestimando as necessidades de mordomias de alguns poderes, seria possível contratar para o longo prazo um Estado mais estratégico. Hoje, não podemos, infelizmente, nem pensar nisso.

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