Em uma entrevista para um programa de finanças, fui questionado sobre minha primeira medida caso fosse eleito presidente. Contrariando expectativas de respostas sobre política monetária ou fiscal, afirmei prontamente: implementar um abrangente programa para a primeira infância, com acompanhamento desde a gestação até os seis anos de idade — período marcado por evoluções fundamentais nos desenvolvimentos cognitivo, motor, social e emocional.
Nessa fase, o cérebro infantil experimenta um crescimento acelerado, formando até um milhão de novas conexões neurais por segundo nos primeiros mil dias após a concepção.
Por isso, essa etapa é determinante para a formação das capacidades intelectuais, sociais e emocionais que acompanharão o indivíduo por toda a vida. A ausência de estímulos adequados pode comprometer substancialmente os desenvolvimentos cerebral e emocional, com impactos duradouros à vida adulta e à futura produtividade.
James Heckman, economista laureado com o Prêmio Nobel, destaca-se como pioneiro nos estudos sobre a relevância desse investimento social. Suas pesquisas revelam como o aporte de recursos nos anos iniciais da infância pode gerar retornos expressivos, beneficiando tanto os indivíduos quanto a sociedade.
O aspecto central das análises de Heckman é o retorno econômico dos investimentos nessa fase da vida. Os cálculos do economista indicam que cada dólar aplicado em programas de qualidade para crianças pequenas pode render até 13% ao ano. Esse retorno se materializa na redução de gastos com educação especial, saúde, assistência social e sistema judicial, além do incremento na produtividade e nos rendimentos futuros.
Um programa eficaz deve abranger desde a educação pré-natal e o apoio familiar — com visitas domiciliares de profissionais de saúde e assistência social — até a implementação de creches, pré-escolas e centros especializados. Essas iniciativas visam garantir cuidados pré-natais adequados e conscientização acerca da importância do desenvolvimento infantil.
Existem modelos internacionais bem-sucedidos que podem nos inspirar. O programa Abecedarian, nos Estados Unidos, iniciado na década de 1970 e estudado por Heckman; o Perry Preschool Program, lançado em Michigan nos anos 1960 para crianças afro-americanas; e o Sure Start, um projeto britânico de 1998 voltado a famílias em áreas carentes, são exemplos notáveis.
O desenvolvimento do Brasil está intrinsecamente ligado à adoção de um programa dessa natureza. Ainda que a educação básica seja fundamental, o seu sucesso depende de receber crianças bem preparadas desde os primeiros anos de vida. É preciso que o País se mobilize urgentemente nessa direção, com o objetivo de construir uma sociedade mais justa e próspera.