Com a cúpula do Brics, ressurge o debate sobre a possível desdolarização mundial, ou seja, a substituição do dólar como principal moeda de trocas internacionais. Antes de entrarmos nos aspectos técnicos, vale perguntar: você já pensou em comprar iuans para uma reserva de valor? Talvez, no máximo, euros, certo?!
Essa é uma das razões pelas quais o dólar é amplamente aceito internacionalmente — a confiança no emissor (o FED, o banco central dos Estados Unidos) e no governo norte-americano, que jamais deu um calote na própria dívida.
Além disso, trata-se de um país democrático, com um sistema de pesos e contrapesos entre os poderes e que, até hoje, é detentor do maior Produto Interno Bruto (PIB) do mundo. Esses fatores sustentam a força e a credibilidade da moeda.
Vale lembrar que o dólar nem sempre foi referência mundial. Até meados do século 19, a moeda de maior uso era a libra esterlina, uma vez que o Reino Unido ocupava o posto atual dos Estados Unidos. O dólar pode até vir a ser substituído no futuro, mas não vislumbramos esse cenário no presente horizonte.
Na verdade, a moeda se fortaleceu já no início do século 20, mas o seu auge ocorreu após a Segunda Guerra, quando o Reino Unido e grande parte da Europa estavam em reconstrução, contando com o financiamento dos Estados Unidos — que também ajudaram o Japão. Assim, o dólar se tornou hegemônico não por uma imposição, mas pela posição de potência que o país norte-americano conquistou.
Outra questão relevante é o histórico estadunidense de controle da inflação. Em qualquer lugar do mundo, as pessoas desejam uma moeda confiável e que mantenha o valor ao longo do tempo. Quem viveu no Brasil durante o período do cruzeiro, com inflação anual de 100%, entende o prejuízo de guardar uma moeda que perde valor rapidamente. É natural, portanto, que as pessoas queiram estabilidade.
Além disso, os mercados de dólar são os mais líquidos mundialmente. Quando viajamos, quase sempre compramos dólar, independentemente do destino, pois a sua diferença entre compra e venda é menor do que a de outras moedas, tornando-se mais acessível e prático.
Em suma, as características da economia dos Estados Unidos garantem, ao longo do tempo, a preferência pelo dólar. Isso tudo é resultado de uma estrutura econômica forte e confiável. O simples crescimento da China como potência, ou o aumento do comércio global em iuans, não é suficiente para substituir o dólar — como também não foi o euro. Apenas um enfraquecimento relevante da economia norte-americana, seja por descontrole fiscal, seja por inflação alta, poderia desencadear uma mudança, e isso seria apenas o começo de um longo processo.