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Milagre chinês tem prazo de validade?

Neste artigo você vai entender a atuação da China frente a economia e sistema político.

06/08/2021 13:30

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Milagre chinês tem prazo de validade?

Milagre chinês tem prazo de validade? Foto de zhang kaiyv no Pexels

Muitas vezes, ouvimos que não é possível que um país seja liberal na economia e autoritário no sistema político. Nos últimos 20 anos, pelo menos, a China vem contradizendo esta afirmação com um país altamente fechado no dia a dia e livre nas iniciativas econômicas. E com crescimento impressionante do seu Produto Interno Bruto (PIB) para os padrões ocidentais.

Apesar disso, nos últimos meses, um processo que parece ser irreversível vem surgindo no gigante asiático: o conflito entre os interesses públicos e privados, que pode minar o crescimento chinês, principalmente no longo prazo. Por diferentes motivos foram instalados sérios conflitos com grandes empresas do setor privado que têm em comum busca de capital estrangeiro, seja por investimento direto, seja por abertura de capital em Nova York.

O primeiro caso mais relevante de desavença de objetivos foi com o grupo Ali Baba. Os reguladores chineses começaram a punir frequentemente a empresa por falta de “espírito competitivo” e por “pressionar comerciantes a venderem os seus produtos”.

Assim, a empresa foi condenada pelo órgão e proibida de levar adiantes seu lançamento de ações na bolsa de Nova York. Fontes do mercado afirmaram que o IPO (“oferta pública inicial”, em inglês) poderia levantar quase US$ 40 bilhões no que seria a maior abertura de ações de um grupo na Bolsa norte-americana.

Entretanto, como tudo no governo do país asiático, a justificativa oficial não é, na verdade, a causa real.O grupo Ali Baba se aventurou no ramo financeiro, tendo constituído uma empresa de pagamentos eletrônicos e um asset para administração de fundos.

Esse fundo teve tanto sucesso que os governos provinciais reclamaram com o governo central de que os fundos das poupanças estavam migrando para os da empresa e prejudicando as bases para investimentos estatais nos planos de crescimento.

Além disso, junto com a Tecent, a Ali baba concentra mais de 94% dos pagamentos eletrônicos dos chineses, movimentando mais de US$ 50 trilhões por ano (lembrando que um mesmo dólar pode circular centenas de vezes pelo sistema dentro de um ano).

O último motivo é a causa transversal a todos os conflitos: busca de recursos em outros países, principalmente nos Estados Unidos. Com as guerras tecnológica, comercial e financeira com país norte-americano, o governo chinês pretende implementar uma política mais independente de recursos estrangeiros – e está forçando as empresas a abrirem mão deste recurso. Esse processo de independência produtiva é chamado de decoupling.

O segundo episódio que agitou os mercados é o caso do aplicativo de caronas DiDi. O grupo, que oferece uma série de serviços que englobam aluguel de bicicletas, entrega sob demanda, vendas de automóveis e operação de frota, obteve uma receita de mais de U$ 25 bilhões nos últimos 12 meses até junho, mais que o dobro da Uber.

No fim de junho, a empresa levantou US$ 4 bilhões em um) IPO na Bolsa norte-americana, e tem como sócios a própria Uber (12,8% do capital) e o SoftBank (25%). Coincidentemente, em 2 de julho (três dias após o IPO), o governo suspendeu, de uma hora para a outra, novos downloads do aplicativo em território chinês – e o plano de expansão da empresa.

A justificativa: “Violação grave da segurança dos dados”. Além da proibição de novos consumidores, a empresa foi violentamente multada por medidas antitruste. Obviamente, esse processo teve um efeito paralelo em outras ações de tecnologia chinesas, enquanto as ações da DiDi caíam 30% em Nova York, o índice das empresas do país asiático negociadas naquela Bolsa caiu 14,5%, em apenas uma semana.

O evento mostra que o governo chinês parece estar preocupado com o aumento de poder das empresas de tecnologia e, principalmente, com sua internacionalização.

O terceiro caso foi o setor de educação privado. A partir de um decreto, os reguladores chineses obrigaram todas as escolas particulares a se transformarem em organização sem fins lucrativos e todas estão proibidas de abrir capital, além de restringiram fortemente investimento externo no setor. O movimento tem como objetivo diminuir o custo da educação para as famílias, já que o governo de Pequim teme a pressão da classe média e quer impulsionar a taxa de natalidade. Novamente, aqui há restrição de investimentos ou recursos estrangeiros.

Impactos no crescimento econômico

O que há em comum em todos estes conflitos é que a China se prepara para um tempo que quer prescindir de investimentos de fora e depender cada vez mais de seu mercado interno. Geralmente, a razão regulatória é apenas uma desculpa, já que o governo do país nunca esteve preocupado com empresas com poder de mercado. Todo o modelo de crescimento chinês, até então, foi baseado em um mercado externo forte que dava vazão à produção, embora o país sempre teve como fonte de crescimento a poupança interna.

O resultado disso deve ser uma diminuição sensível da produtividade da economia, já que os setores que estão sendo punidos são os de tecnologia e produtividade econômica mais altas. Assim, o crescimento de dois dígitos ao ano é cada vez mais passado. E o conflito com o setor privado pode ser o início de um grande problema da manutenção de um sistema político restrito e autoritário.

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