Ser um líder é estar em uma posição de destaque, mas também de responsabilidade. Muita gente busca a liderança pelo status e pela autonomia, mas nem todos compreendem o verdadeiro desafio: desenvolver novos líderes e mobilizar pessoas. É aqui que surge um dilema. Como formar sucessores sem sentir que está, aos poucos, abrindo espaço para ser substituído?
A resposta é simples, mas nem sempre fácil de aceitar: formar sucessores é sim viver com o risco de ser superado e substituído, mas também o único caminho para continuar crescendo. Quem teme ser superado não é um líder de verdade. No final das contas, é apenas um gestor preocupado com a própria relevância e que pensa pouco na organização no longo prazo. O líder de verdade sabe que sua importância não está em manter a posição a qualquer custo, mas garantir que o crescimento da empresa e da equipe continue, talvez sem ele, e estar preparado para novos desafios.
Vamos encarar a realidade: todos somos substituíveis. E isso não significa que nosso trabalho seja irrelevante, mas sim que o mundo corporativo necessita estar em constante evolução. Se um líder teme a própria substituição, ele acaba sabotando o crescimento da equipe e da empresa, mas principalmente o seu próprio.
O verdadeiro líder é aquele que forma pessoas e tem capacidade de construir um legado. Quando ele sai, a empresa não entra em colapso, porque ele preparou outras pessoas para assumir seu lugar. O próprio mercado valoriza muito mais os que têm a capacidade de desenvolver equipes e talentos do que aqueles que tentam a auto preservação pelo caminho da dependência na sua figura.
Na verdade, a insegurança de perder espaço para um sucessor pode ser trabalhada. Ela passa por mudar a mentalidade de "preservação no cargo" para uma visão mais ampla: o desejo de assumir novos desafios e por isso formar novos líderes, garantindo a continuidade e o sucesso do trabalho que você construiu. Um legado em realizações, cultura de liderança e desenvolvimento humano.
Um estudo publicado pela Harvard Business Review mostrou que líderes que investem no desenvolvimento de suas equipes aumentam a retenção de talentos em até 50%, reduzindo custos com recrutamento e treinamento de novos funcionários, mas principalmente garantindo a coesão cultural e o alinhamento. Ou seja, ao criar um ambiente onde os profissionais enxergam possibilidades reais de crescimento geram engajamento, mobilização e estimula a criatividade e inovação.
Isso não apenas fortalece a cultura organizacional, mas também gera melhores resultados econômicos. Uma empresa que não precisa substituir funcionários o tempo todo ganha em eficiência, produtividade e engajamento.
Se ainda restam dúvidas sobre a importância de formar sucessores, basta olhar alguns dos maiores nomes da liderança empresarial. Olhe a sua volta. Facilmente você distinguirá líderes que buscam novos desafios e para isso formam novos líderes continuamente. Ou líderes que personificaram tanto a sua posição, que mesmo com grandes realizações, ao se afastarem, deixaram lacunas às vezes irreparáveis e até grandes danos.
Esses exemplos mostram que o verdadeiro líder não tem medo de formar sucessores. Pelo contrário, ele entende que seu sucesso está diretamente ligado à capacidade de inspirar e preparar outros para continuar seu caminho.
E também mostra que é responsabilidade das empresas montar programas consistentes de sucessão, evitando a personificação de posições críticas e de alto impacto.
No fim das contas, a questão é simples: você quer ser lembrado como alguém que segurou talentos por medo ou como quem criou uma geração de novos líderes?
A escolha é sua.
Por: João Roncati é diretor da People + Strategy, consultoria de estratégia, planejamento e desenvolvimento humano.