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Sobrou o “trabalho duro” para o Banco Central

Neste artigo você vai entender as decisões do Copom na elevação da taxa de juros e os impactos para a economia.

08/11/2021 13:30

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Sobrou o “trabalho duro” para o Banco Central

Sobrou o “trabalho duro” para o Banco Central Foto de Anna Nekrashevich no Pexels

O Comitê de Política Monetária (Copom) apertou o ritmo de aumentos da taxa de juros na última reunião do órgão. Antes, o ritmo era de 1%, agora, foi para 1,5%, elevando a taxa a 7,75% ao ano (a.a.). Além disso, já deixou claro que fará o mesmo no próximo encontro. E foi direto na mensagem do comunicado:  o risco mais claro é o risco fiscal. 

Na última semana, discutimos neste espaço as importâncias da Lei de Responsabilidade Fiscal e do teto de gastos e, agora, estamos vendo isso na prática. Em termos mais simples, temos duas maneiras de combater um processo inflacionário: o primeiro é pelo lado fiscal, o segundo, pelo  monetário. Os dois têm apenas um objetivo: retirar dinheiro da economia. Quando gasta menos do que arrecada, o governo está retirando o excedente de recursos da economia, assim como quando o Banco Central (Bacen) aumenta os juros, sua intenção é fazer as pessoas pouparem, em vez de gastarem, e tirar dinheiro de circulação.

Por outro lado, o governo, quando gasta mais, e o Bacen, quando diminui os juros, irrigam a economia de recursos, ou seja, “jogam” moeda no sistema. O dinheiro é uma mercadoria como qualquer outra: se houver em excesso na economia, seu preço diminui em relação aos outros bens, ou seja, você precisará de mais dinheiro para comprar o mesmo produto, na mais exata definição de inflação.

E como nos inserimos neste contexto? Os últimos números da inflação mostram que, em 12 meses, ela já passa de 10%. E o pior: está generalizada em todos os setores. Não é algo pontual, nem de produtos que sofreram um grande choque. A recuperação da economia, somada aos gargalos da cadeia produtiva e ao dólar muito desvalorizado, criou uma inflação preocupante e com força para produzir inércia. Como consequência, o mercado já começa a desancorar (imaginar que a taxa será maior do que a meta) as inflações não só de 2021 e 2022, mas também a de 2023.

Este seria o momento de uma política combinada restritiva tanto monetária quanto fiscal. O governo deveria diminuir os gastos, reforçar o teto e enxugar a liquidez. Por sua vez, o Bacen deveria subir os juros para também conter a liquidez. Se os dois fossem na mesma direção, o remédio de cada um seria menos amargo, e não seriam necessários tantos juros para debelar a inflação.

Contudo, o que está acontecendo não é isso. O governo insiste em aumentar benefícios sociais sem ter como pagá-los e sem diminuir outros gastos. Reformas, fora a da Previdência, não foram feitas com o objetivo de aumentar o espaço para os bem-vindos benefícios sociais. Assim, os gastos e, consequentemente, a inflação, continuam pressionados. E os efeitos de mais benefícios sociais, neste contexto, se exaurem no longo prazo, porque a inflação prejudicará sensivelmente os mais pobres, e os juros altos diminuirão o emprego e a renda.

Assim, o Bacen é obrigado a “enxugar gelo”, pois tem que tirar de circulação os excessos do governo. E isso é muito preocupante, porque, com os juros maiores, o setor privado deixa de investir em produção, e temos apenas uma troca de dinheiro privado (mais eficiente) por público.

Se este quadro persistir, o banco será obrigado a dar aumento de juros cada vez maiores e a aumentar tanto a dívida pública quanto a derrocada da economia, pois os juros impedem o crescimento. Então, o Bacen fica com o trabalho sujo. Enquanto o fiscal não fizer a sua parte, estaremos presos a este ciclo terrível.

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