O Brasil termina 2021 diferente do que terminou 2020. Naquele longínquo dezembro do ano passado, tínhamos notícias bem promissoras da vacina, expectativas de melhores condições sanitárias, muita poupança para ser gasta e inflação relativamente controlada.
Apesar das chagas econômicas da pandemia bastante salientes, os sentimentos de esperança e de recuperação eram evidentes. Além de tudo isso, predominava o famoso efeito estatístico carry-over, ou seja, praticamente o ano inteiro em queda, mas com reação nos últimos meses. Assim, começávamos 2021 de forma a conseguir boa recuperação sem precisar crescer muito na margem.
O panorama fiscal era alentador. Após gastos substanciais necessários para debelar os efeitos da crise sanitária, o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e um potencial ajuste fiscal poderiam levar os dados da dívida a uma dinâmica sustentável e saudável. Bastava manter o ambiente político estável, os pilares do teto de gastos e a normalização da política monetária para que tivéssemos todas as condições de turbinar o investimento econômico, a fim de aproveitar tanto a gigantesca liquidez mundial quanto a enorme poupança de uma parte dos agentes econômicos nacionais.
O problema foi que, no decorrer deste ano, alguns acontecimentos mudaram esta perspectiva positiva. A proximidade da eleição e a diminuição da popularidade do atual presidente ensejaram algumas ações que podem pôr em risco o teto de gastos. O mercado não apenas se atenta a um ato isolado, como também entende que, ao renunciar à regra do teto, é possível que ocorra infração dos pilares da responsabilidade fiscal.
Este efeito de risco ficou claro quando, mesmo com aumento considerável da taxa de juros e manutenção dessa taxa nos outros países, o câmbio continuou muito desvalorizado. O efeito natural seria a entrada de recursos para aproveitar o spread, mas se os investidores entendem que há risco na economia do País, preferem não aplicar recursos – e o real se desvaloriza.
Este fato somado à recuperação dos preços mundiais em dólar imprimiram resultado inflacionário consistente à economia brasileira. Assim, panorama fiscal arriscado, câmbio desvalorizado e inflação em alta impuseram ao Banco Central (Bacen) uma ação rigorosa com os juros, os quais praticamente quintuplicaram no ano.
Desta forma, com inflação crescendo, fiscal em risco aumentado, juros nas alturas e mercado de trabalho fraco, a economia respondeu com perdas no varejo e na indústria, além do serviço com expansão menor do que o esperado. O PIB dava sinais negativos já no terceiro trimestre.
Este é o ponto que estamos no momento. Setores como o de automóveis – também estrangulado por falta de peças – e o de construção civil devem ter um ano mais fraco, pois juros altos e expectativas baixas são fatais a segmentos nos quais a compra se pensa no longo prazo. A inflação, cada vez mais, empurra o consumo para itens básicos, e isso deve se manter no início de 2022, o que mostra uma perspectiva bem menos otimista para os primeiros trimestres.
No entanto, este cenário pode mudar rapidamente, caso um dos candidatos entre os primeiros na corrida presidencial apresente planejamento de longo prazo mais liberal para economia: respeito ao teto, abertura econômica e ponderação na melhoria dos planos de auxílio, além de reformas administrativas e tributárias bem desenhadas. Isso já será suficiente para uma mudança rápida de rumo.
Os dados da economia mundial ainda podem ser assertivos, apesar da mudança da política monetária dos Estados Unidos. Além disso, a inflação ainda está alta, mas em situação mais animadora, com concentração em energia e petróleo e possibilidade de arrefecimento no início do ano.
O ambiente está posto para uma recuperação. Somente um plano sério de responsabilidade fiscal e o compromisso com o longo prazo podem fazer esta realidade acontecer. Por enquanto, as perspectivas não são muito otimistas. Vamos torcer para que isso mude em 2022.