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ARTIGO DE ECONOMIA

A boa é a má notícia da inflação

Neste artigo, o especialista discute sobre a inflação no país e de que forma isso atinge a sociedade, principalmente os mais vulneráveis.

19/08/2022 13:30

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A boa é a má notícia da inflação

A boa é a má notícia da inflação Foto: Marcos Santos / USP Imagens

O número da inflação oficial de julho do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) foi, inegavelmente, positivo. 

A deflação, em meio a um claro processo inflacionário, pode ser um ótimo sinal, pois, no caso do Brasil, ajuda o trabalho do Banco Central (Bacen) a debelar o núcleo duro da inflação e alivia os índices anuais. 

Vendo por este ângulo, parece que temos apenas boas notícias, certo?! Não exatamente.

A deflação de julho (0,68%), a menor do índice desde o início da divulgação, em 1980, apresentou queda de 4,51% no mês, encabeçada pela queda dos combustíveis, com retração de mais de 14% – influenciando em 1,04 ponto porcentual (p.p.) o índice. 

Isto é, se este subitem se mantivesse constante no mês, o índice geral marcaria uma inflação de 0,36%, e não a deflação que observamos. A habitação também apontou queda (-1,05%), puxada pela energia elétrica, que caiu 5,78%. 

Assim, é perceptível que todo este resultado tenha sido fortemente influenciado pelas diminuições do ICMS dos combustíveis e do preço mundial do petróleo.

Contudo, temos um outro lado: alimentação e bebidas cresceram 1,3% no mês, puxadas com força pela alimentação por domicílio (1,47%). Este item é o que mais castiga as famílias de renda mais baixa, já que estas não são diretamente beneficiadas pela baixa da gasolina. 

A queda dos combustíveis só se dissemina por toda a economia quando afeta o diesel, já que este último tem ramificações nos preços dos fretes. E o pior: o leite foi o maior responsável pelo encarecimento da alimentação por domicílio, atingindo crianças pobres. A alimentação fora de casa também cresceu, mas um pouco menos: 0,82%.

Outro item que, apesar da deflação total, subiu foi o de vestuário e calçados  (0,58%), principalmente as roupas de inverno – só o agasalho infantil apontou alta de 3,66%. As despesas e os serviços pessoais também registraram acréscimo (1,13%).

Ao considerar 12 meses, a elevação dos gastos com alimentação já bate 14,72%, ao passo que o setor de vestuário e calçados chega a quase 17%, ambos bem acima do índice geral (10,07%). 

Por isso é comum ouvirmos falar que a inflação na “pele” é maior do que a oficial; isso vem do fato de as pessoas consumirem mais um certo produto (que sobe mais) do que a média da população.

Em suma, a deflação ainda não está sendo sentida pelos mais pobres, influenciando mais diretamente lares de renda média/alta. Os produtos mais essenciais ainda sofrem com o excesso de demanda e a dificuldade de ajuste da oferta. 

Desta forma, como o mercado de trabalho não consegue, por vezes, sequer repor a inflação média, há um empobrecimento da base da pirâmide social.

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