O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) liberou os dados da Pesquisa Industrial Mensal – Produção Física (PIM-PF) de agosto, a qual apontou queda do setor de 0,6% em relação a julho deste ano, mas um aumento de 2,8% em comparação ao mesmo mês do ano passado.
Contudo, não foram estes números que chamaram a atenção. O setor está 1,5% aquém do nível pré-pandemia e 17,9% inferior ao seu pico, que foi em maio de 2011.
É assustador imaginar que a indústria nacional esteja 20% abaixo do patamar de mais de dez anos atrás, ou seja, houve uma retração absurda da produção industrial física na última década. Este fato, obrigatoriamente, nos mostra a necessidade de uma ponderação das causas e como podemos priorizar políticas públicas para solucionar este problema.
Antes de tudo, temos de admitir que a reversão do quadro não se faz no curto prazo. Sabemos que existem formas de melhorar imediatamente estas condições:
- Diminuição de impostos;
- Facilitação no pagamento de tributos;
- Atenuação da burocracia;
- Aprofundamento da Reforma Trabalhista;
- Estabilidade no ambiente macroeconômico
Entretanto, apesar de tudo isso exercer um impacto imediato na produção, ainda não dá a consistência necessária para o crescimento sustentável.
A primeira ação de longo prazo, e que deve ser tratada com urgência, é a inserção da indústria brasileira na cadeia global de produção.
Diante de uma divisão de mundo baseada em dois blocos, Estados Unidos e China, já perdemos uma grande chance de fornecer equipamentos para o Ocidente, já que não temos tecnologia para isso.
É preciso abertura comercial, para que as empresas brasileiras possam comprar essa tecnologia e vender produtos dentro da cadeia. O professor Edmar Bacha é autor de um extenso trabalho neste sentido, o qual poderia ser usado como base para o início do ciclo.
O segundo ato é a integração entre universidades e o mercado. O Brasil não tem tradição de fazer pesquisa direcionada à produção, seguindo um viés mais acadêmico. Claro que a pesquisa acadêmica não deve acabar, mas é necessário fomentar a pesquisa útil para o dia a dia empresarial.
O Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) vem desempenhando um papel pioneiro na junção de pós-graduação strictu sensu com as necessidades da iniciativa privada, mediante pesquisas financiadas, pelas próprias empresas, em busca de inovação. É o caminho a ser seguido.
E, por fim, é preciso um direcionamento de recursos do Estado para os setores mais importantes ao desenvolvimento, elegendo, com a sociedade, aqueles que são vitais num mundo onde a tecnologia é essencial.
E que fique claro: nenhum país se torna eficiente na produção tecnológica da noite para o dia. Neste caso, sem dúvida, podemos aprender um pouco com a China.
Em suma, precisamos de um planejamento traçado com cuidado e parcimônia, visando a objetivos claros e com indicadores definidos de progressão.
É imperativo que o próximo governo trate o assunto de maneira séria e ordenada, a fim de se evitar uma queda maior do setor na próxima década.