x

ARTIGO DE ECONOMIA

O prêmio Nobel, o FED e o Brasil

Neste artigo, o especialista comenta sobre o cenário econômico estadunidense.

14/10/2022 17:00

  • compartilhe no facebook
  • compartilhe no twitter
  • compartilhe no linkedin
  • compartilhe no whatsapp
O prêmio Nobel, o FED e o Brasil

O prêmio Nobel, o FED e o Brasil Pexels

Na semana em que tivemos a divulgação do prêmio Nobel de Economia para Ben Bernanke, ex-presidente do banco central norte-americano (Fed), ao lado dos colegas Douglas W. Diamond e Philip H. Dybvig, por estudos sobre bancos e crises financeiras, o cenário estadunidense continua “ruim” para o novo presidente do banco, Jerome Powell. 

O trabalho de Bernanke está longe de abarcar o maior problema enfrentado pelos Estados Unidos atualmente – o superaquecimento da demanda –, mas a coincidência, quase que direta, acaba por nos fazer pensar como a importância da Teoria Monetária foi restabelecida, após um período em que tudo o que era discutido era a emissão de mais moeda.

Acontece que o prêmio veio graças a análises de como lidar com crises financeiras, do efeito contagioso que estas causam aos bancos e de como é essencial que os governos evitem que essas instituições entrem em colapso – estudos estes que incluem desde a Depressão de 1930 até a quebra do Lehman Brothers, em 2008, justamente a época que Bernanke liderava o banco central. 

No entanto, ajustar os perigos de graves crises bancárias tem um preço. Desde o começo da pandemia, o Fed vinha injetando recursos “como se não houvesse amanhã”. Como, por vários motivos, não havia inflação, o medo da emissão era praticamente nulo. 

Assim, as taxas de juros despencaram por um período longo, e o dinheiro jorrou abundantemente. Os Estados Unidos viveram tempos bons, com uma economia aquecida sem inflação.

Contudo, diante da mudança nas estruturas econômicas mundiais, a China deixou de ser fornecedora de desinflação, e o mercado de trabalho norte-americano começou a pressionar a inflação, cujos índices, que estavam próximos a 2%, chegaram a bater dois dígitos. Além disso, as empresas têm enfrentado dificuldades para achar trabalhadores até para repor vagas.

Os números são impressionantes: há mais de 10 milhões de vagas de emprego em aberto nos país e menos de 6 milhões de desempregados, mesmo com o número de empregados líquidos (já descontadas as demissões), entre julho e agosto, somaram mais 850 mil contratos assinados. 

Muitos setores, como hospedagem e bares, informam que os serviços prestados não estão completos por falta de mão de obra, enquanto o salário inicial do McDonald’s já passa de US$ 20/hora, em algumas praças.

E eis aqui o grande erro do Fed: o tímido aumento de juros. Segundo cálculos de economistas, a taxa atual (até 3,25%) ainda não chegou à neutralidade, ou seja, se mostra expansionista. Isso significa que o banco central estadunidense terá de aumentar este valor a níveis muito maiores e por mais tempo, a fim de ajustar o erro cometido até então.

Todo este processo causa impacto direto no Brasil e nos emergentes: à medida que o Fed aumenta os juros, os Estados Unidos ficam mais atrativos para investimentos. 

Desta forma, os dólares do mundo todo, principalmente dos países em desenvolvimento, voltam para as terras natais, causando uma desvalorização em massa nesses países, prejudicando o controle da inflação e, em casos mais extremos, causando crise cambial.

No entanto, o Brasil pode se livrar deste efeito. Diante dos concorrentes em situação difícil (Rússia, Turquia, México, Argentina, entre outros) e de potencial estabilidade pós-eleição, os recursos podem voltar para cá, dado o potencial de retorno do País. 

Além disso, o Banco Central (Bacen) fez sua lição de casa bem-feita: é possível que os juros já despenquem em 2023, atraindo capital produtivo.

Mesmo frente a um cenário externo difícil, temos a faca e o queijo na mão. Entretanto, para que isso se consolide, é preciso que o próximo governo se comprometa com a responsabilidade fiscal e mantenha o termômetro político a uma temperatura amena. 

Leia mais sobre

O artigo enviado pelo autor, devidamente assinado, não reflete, necessariamente, a opinião institucional do Portal Contábeis.
ÚLTIMAS NOTÍCIAS

ARTICULISTAS CONTÁBEIS

VER TODOS

O Portal Contábeis se isenta de quaisquer responsabilidades civis sobre eventuais discussões dos usuários ou visitantes deste site, nos termos da lei no 5.250/67 e artigos 927 e 931 ambos do novo código civil brasileiro.