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ARTIGO DE ECONOMIA

A “nova velha” China e o que isso significa para o mundo

Neste artigo, o especialista comenta sobre as últimas decisões de Xi Jinping e de que forma elas podem atingir a economia chinesa.

20/10/2022 13:30

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 A “nova velha” China e o que isso significa para o mundo

 A “nova velha” China e o que isso significa para o mundo PxHere

Nesta semana, Xi Jinping será reconduzido ao poder pela terceira vez consecutiva, fato que não acontecia na China desde o líder da revolução cultural Mao Tsé-Tung. Um verdadeiro marco histórico contemporâneo, pois pode significar a continuação de uma mudança radical nos rumos daquele país, tanto em termos geopolíticos como econômicos. 

Secretário-geral do Partido Comunista Chinês (PCCh) desde 2012 e presidente do gigante asiático desde 2013, Jinping será reconduzido no vigésimo congresso do partido, iniciado no último dia 16.

Para tal, o líder conseguiu mudar uma regra que vigorava desde a década de 1980: o secretário-geral só pode ficar no poder por dez anos, período este dividido em dois mandatos de cinco. Mediante uma habilidade política ímpar e estratégia de esterilização da oposição extremamente bem-sucedida, em 2018, Jinping conseguiu suprimir esta restrição. 

De personalidade forte e vocação quase messiânica, o ego do líder foi moldado pelo castigo que seu pai, militar, recebeu no governo de Deng Xiaoping, sendo enviado a uma fazenda de porcos para cuidar dos animais – uma das maiores desonras para um homem chinês. 

Eis a mistura perfeita para a um temperamento vingativo, resiliente e autocrático. Isso sem falar na sua inclinação marxista-leninista, e, embora negue a visão igualitarista da política de common prosperity, típica do comunismo, as ações de Jinping são todas neste sentido, revertendo as reformas liberalizantes e pró-mercado, todas comandadas por Deng Xiaoping, o algoz de seu pai.

Para Xi Jinping, diante da decadência da civilização ocidental, cabe à China, com sua tradição cultural, reerguer o orgulho e a capacidade da potência mundial oriental. Esta ideia é baseada no seu principal ideólogo, Wang Huning, que identificou, nessa mesma civilização ocidental, a degradação da unidade familiar, a falta de vontade dos jovens e a cooptação do Estado pelas empresas. 

Assim, o caminho seria o controle estatal, por meio da exigência de disciplina e produtividade dos cidadãos, e o cerceamento do poder da iniciativa privada na economia.

Por falar nela, o líder chinês tem objetivos claros para a área econômica: reversão, mesmo que parcial, da abertura e da liberalização implementadas por Deng Xiaoping e mais rigor na regulação (além de diminuição) do tamanho das empresas nos setores de tecnologia e imobiliário. 

É óbvio que, ao seguir este rumo, reforçado pela nova luta empreendida pelo mundo ocidental contra o excesso de poder autocrático, a China perca laços comerciais e tecnológicos e se sinta obrigada a se isolar.

Contudo, o grande problema que estas decisões e esta visão de mundo trazem é muito preocupante. Ao reverter as reformas e limitar as fontes de financiamento de empresas tecnológicas, o governo mata a única variável capaz de manter o crescimento ativo da economia: a produtividade. 

Além disso, ao também balizar a alavancagem do segmento imobiliário, diminui-se a riqueza de uma população que conta com cerca de 80% dos seus ativos de poupança ligados ao setor.

Em suma, as mudanças que Jinping quer implementar claramente correm o risco de criar um paradoxo: estrangular a única variável que poderia manter o crescimento potencial chinês mais alto. Se postas em prática, vão limitar não só o desenvolvimento de curto prazo, mas também o padrão de longo prazo da economia. 

Aquela China que crescia a dois dígitos já está no passado. Agora, estamos diante de uma nova nação. E a elite daquele país, vai reagir? Só tempo dirá.

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