Sem deixar de reconhecer a importância de outras profissões, vou fazer alguns comentários sobre essas três atividades seculares com o único objetivo de mostrar que todas elas são importantes e não se deve fazer distinção entre uma e outra profissão.
O que vou comentar neste texto é uma opinião a partir do meu ponto de vista. Portanto, não deve ser entendido como um axioma incontestável. Desejo, tão-somente, externar uma posição pessoal.
Em um determinado dia, há alguns anos, fui consultado por um aluno que precisava de orientação sobre um tema para sua monografia de conclusão de curso. Durante nossa conversa, ele sentiu-se tão à vontade que terminou me fazendo uma confissão inesperada. Disse-me que seu pai não gostava do curso que ele fazia e até sentia certo desconforto quando alguém lhe perguntava sobre a futura profissão do filho.
De família de classe média alta o jovem aluno aparentava estar ainda confuso, mesmo já em fase de conclusão do curso de Ciências Contábeis. Perguntou-me, então, o que eu achava da posição de seu pai e como eu, pessoalmente, via a profissão do contabilista no Brasil.
Precisei de alguns minutos para iniciar uma explicação que poderia ser muito importante para a vida profissional daquele estudante. Eu não deveria tratar com esquiva um assunto de tamanha responsabilidade, por mais que desejasse ser indiferente em relação ao que outras pessoas pensam sobre minha profissão. Citei que já fui balconista de bar, vendedor de leite, guitarrista e cantor de banda de música popular. Hoje eu sou contador. Mas continuo tocando violão, guitarra e realejo. Tudo isso por diletantismo e nas horas de lazer. Sou também compositor, consultor de finanças e negócios, escritor e professor. Minha esposa é empresária e nossas duas filhas são médicas. Ambas possuem especializações diferentes.
Não descobri nenhum conflito de atuação nessas atividades, porque elas são exercidas por nós em momentos distintos.
Procurei estabelecer uma relação entre a atuação do profissional de contabilidade e outras atividades importantes. Escolhi as atuações dos advogados e dos médicos, citadas aqui em ordem alfabética, apenas para dar ênfase ao assunto, já que esses profissionais são muito conceituados e respeitados por toda a sociedade, principalmente quando são bem-sucedidos. Contudo, volto a repetir: reconheço e considero que todas as profissões são importantes para a sociedade. O que seria de nós sem os garis nas ruas? E sem as domésticas? São apenas dois exemplos bem interessantes.
Após algumas considerações sobre o papel dos advogados e dos médicos, passei a explicar o que um profissional de contabilidade pode fazer e como ele deve ser visto pela sociedade. O jovem estudante prestava bastante atenção naquilo que eu argumentava.
Comentei que, por menor que seja uma empresa, um dia ela precisará dos trabalhos profissionais de um profissional de contabilidade. Em seguida tratei de destacar a reserva de mercado que existe para esse profissional. Em grandes organizações, o contabilista é um dos profissionais indispensáveis ao bom acompanhamento da empresa, sendo exigido por lei que ele seja um dos responsáveis pelas demonstrações financeiras e outras informações contábeis.
O contabilista é o profissional que precisa e deve saber sobre quase tudo que acontece na empresa. Ele conhece mais a empresa do que o advogado dela. Também conhece a empresa mais do o que o médico que cuida da saúde de seus colaboradores.
Em alguns casos, a pessoa responsável pela contabilidade conhece a empresa mais do que o próprio dono ou então acionista. E sua responsabilidade é tão grande que a legislação pertinente estabelece punições rigorosas para profissionais que, por incompetência ou por dolo, praticarem atos irregulares na contabilidade de uma empresa, vindo a lhe causar prejuízos decorrentes desses erros de procedimento.
Enquanto o jovem aluno ouvia atentamente meus comentários, pude verificar que ele parecia ter percebido o quanto a nossa profissão é importante. Mas, continuei tratando sobre vários outros aspectos.
Falei sobre as oportunidades de trabalho e disse que o profissional de contabilidade pode atuar em várias áreas de uma empresa, em várias funções. Todavia, que somente o profissional de contabilidade, habilitado perante o respectivo conselho de classe, pode assumir a responsabilidade pelas informações contábeis de uma empresa, assinando vários documentos juntamente com os proprietários, sócios ou seus representantes legais.
Nenhum outro profissional pode substituí-lo nessa prerrogativa. Claro que, da mesma forma, o contabilista não pode substituir o advogado ou então o médico em suas atribuições específicas. Mas, dependendo do porte da empresa, ela não precisa ter um advogado ou então um médico à sua disposição. Entretanto, mesmo em uma pequena empresa e em uma empresa de médio porte, a participação do profissional de contabilidade é necessária.
Ele presta informações importantes para diversos órgãos federais, estaduais, distritais e municipais.
O que tentei mostrar àquele aluno foi que a nossa profissão é privilegiada sim, da mesma forma que tantas outras, claro. Mostrei também que o contabilista tem muita responsabilidade e que quando o profissional é competente e íntegro, não lhe faltam oportunidades no mercado de trabalho ou mesmo para exercer qualquer atividade autônoma.
Que o contabilista pode atuar como professor, gerente, empresário, autor de livros, perito contábil, contador, gestor de controladoria, consultor de empresas, profissional autônomo, auditor etc.
Que a tecnologia facilita muito o exercício da profissão, tornando essa atividade mais gratificante do que antes porque coloca à nossa disposição importantes ferramentas que facilitam bastante o nosso trabalho diário. E que, em relação ao advogado e ao médico, o profissional de contabilidade tem a vantagem de poder cometer erros involuntários e posteriormente corrigir esses erros, sem comprometer a vida de pessoas. Eu disse ainda que se um advogado cometer um erro involuntário na defesa de uma ação penal contra seu cliente, este cliente poderá ir parar na cadeia.
Note-se que estou falando de erro involuntário. E que se um médico cometer um erro fatal, também involuntário, seu paciente poderá ir parar no cemitério. Tudo isso foi dito por mim mostrando ainda que, até mesmo em um eventual deslize do profissional de contabilidade, desde que não seja por atitude fraudulenta ou por incompetência profissional, o erro decorrente desse deslize pode ser reparado sem comprometer vidas. No caso, pode haver uma punição pecuniária para a empresa ou para o próprio profissional de contabilidade.
Todas essas informações fizeram com que aquele jovem estudante passasse a ter outra visão da profissão contábil, sem perder de vista a importância de outras profissões. Expliquei-lhe que a diferença está no perfil de cada pessoa e não na profissão escolhida.
Desejo acrescentar que a ideia de escrever este artigo não foi com o intuito corporativista e muito menos sensacionalista. Sou uma pessoa com opinião formada sobre muitas coisas, e não me faria bem propagar algo que não fosse a realidade sobre o que penso. Em relação à contabilidade, não tenho dúvida: sempre foi, é, e sempre será uma excelente profissão, desde que seja levada a sério, desempenhada de maneira competente e com muita responsabilidade.
Os bons profissionais de contabilidade definem suas condições de trabalho, principalmente no que diz respeito às questões éticas. E os bons profissionais de outras áreas também fazem assim.
Eu acredito nesta profissão, valorizo e respeito esta profissão e, talvez por esta razão, eu me considero bem-sucedido na escolha que fiz. Todavia, não cultivo qualquer sentimento de vaidade pessoal ou de megalomania. Sou mesmo uma pessoa simples, por natureza. E gosto de ser assim.
Para minha alegria, recebi o convite de formatura desse aluno. Espero que ele tenha convencido seu pai sobre a importância da nossa profissão. Mas se não o fez, peço-lhe que ofereça este artigo para seu genitor ler. Talvez seu pai mude de ideia.