Neste artigo vou relatar um fato interessante que aconteceu comigo há mais de duas décadas.
Estávamos nos preparativos para a finalização do balanço de determinado exercício social, e a conciliação bancária era muito importante para verificar a consistência dos saldos das disponibilidades em bancos.
A pessoa que fazia a referida conciliação já estava há mais de trinta (30) dias sem concluir os relatórios com as anotações das pendências identificadas e outros registros pertinentes.
Perguntei, de maneira educada, por que estava tendo tanta demora para a conclusão do trabalho de conciliação bancária. A resposta foi imediata: estou procurando uma diferença de R$ 32,20 (trinta e dois reais e vinte centavos), que não consigo localizar.
Sabendo da tendência de perfeccionismo daquele colaborador, solicitei que o valor fosse anotado no rodapé da folha de conciliação correspondente com a seguinte informação: valor pendente a identificar - R$ 32,20.
A pessoa aceitou a recomendação, até porque eu disse a ela que aquele valor era irrelevante para ser considerado como um obstáculo para concluir a conciliação bancária do balanço do exercício. Além disso, havia uma incoerência notável: a empresa estava pagando por mês a ele uma remuneração 100 vezes maior do que o valor que ele procurava. Isso sem considerar os encargos e benefícios sociais.
Ao final do dia a pessoa concluiu os trabalhos e ficou tudo resolvido.
O que fica evidente neste breve relato é como alguns profissionais de contabilidade não observam com atenção um critério tão importante para considerar alguns registros: a relevância de valores.
Embora essa relevância deva ser observada sob diversos aspectos, é importante ter isso em mente. A conta que estava sendo analisada tina saldo superior a 30 milhões de reais. Como perder tempo tentando identificar uma diferença irrisória de R$ 32,20? Aquilo era sem qualquer lógica.
Há várias situações parecidas com essa em contabilidade. O que muda é a percepção de quem está analisando as contas, seja um analista, um auditor externo ou qualquer outra pessoa que precise apresentar informações, mas que buscam de maneira equivocada e desnecessária o perfeccionismo dos números.
É importante salientar que em contabilidade não há perfeição em números, assim como em tudo na vida. Isso não significa negligenciar eventuais divergências significativas de valores. Se os valores são relevantes, eles precisam e devem ser analisados à exaustão. Todavia, ficar refém do preciosismo contábil denota pouco conhecimento de contabilidade, cuja lógica deve predominar no dia a dia dos trabalhos de quem atua na área.
Por fim, não confundir zelo nos trabalhos com preciosismo e ausência de critério. Em contabilidade deve prevalecer, sempre, o bom senso.