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ARTIGO DE ECONOMIA

Moeda comum não vem da noite para o dia

Neste artigo, o especialista explica a necessidade de uma prévia homogeneização de políticas econômicas antes de pensar em moeda comum.

03/02/2023 13:30

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Moeda comum: um debate a respeito

Moeda comum não vem da noite para o dia Foto: Pixabay

Imagine que dois países resolvam construir uma moeda comum. Um deles tem um déficit fiscal alto, e outro, zero. Mesmo com estas diferenças, ambos resolvem adotar um processo rápido, sem seguir todos os passos técnicos necessários. O deficitário tem duas opções para compensar: ou emitir moeda ou emitir dívida em nome da nova moeda, já que não há nenhuma outra em circulação. 

Neste caso, as duas economias sofrerão ou com o aumento da inflação (no caso de emissão de moeda) ou com o aumento dos juros (no caso de emissão de dívida). Aqui, a nação mais “ajuizada” sofrerá com o excesso de gastos.

Pois bem, este é um exemplo claro de que há a necessidade de uma preparação prévia de homogeneização de políticas econômicas antes de se pensar em qualquer moeda comum. 

Antes disso, qualquer intenção neste sentido não passa de pura especulação ou discurso. O que se considera entre Brasil e Argentina não é uma moeda única nos moldes do euro. Nem poderia ser. A ideia é de uma terceira moeda que circularia paralela às outras duas só para efeito de trocas comerciais. 

Funcionaria tal como se o Brasil tivesse uma poupança em peso e a Argentina, uma poupança em reais e não houvesse a necessidade de dólares para trocas entre ambos. Com o tempo, este dinheiro poderia se tornar uma moeda de curso único nos dois países – mas isso ainda não está em discussão.

Neste contexto, parece que o dólar faz bem a função, mesmo que seja como benchmark de valor, apenas para determinação do preço relativo entre reais e pesos. Assim, toda esta ideia não seria uma medida que traria grandes ganhos a empresários brasileiros e argentinos, que nem sequer sentiriam a diferença, tampouco haveria qualquer ganho para esses países.

Além de todas as dificuldades, ainda estamos tratando de uma nação responsável por menos de 5% das exportações nacionais. Por outro lado, o mundo vive num momento em que o dissenso entre Estados Unidos e China traz a necessidade de substitutos de alguns países asiáticos na cadeia global de suprimentos – ou seja, há uma brecha gigante da qual o Brasil poderia se aproveitar, dedicando mais tempo e energia diplomáticas. Daí, surge a dúvida: vale a pena gastar esforço num tema que trará tão poucos benefícios ao setor privado nacional?

Em suma, não parece, neste momento, valer a pena todo o esforço para o início de um processo de criação de moeda única. 

O trabalho que envolve decréscimo das tarifas médias de importação, reinserção na cadeia global de suprimentos e desburocratização do sistema alfandegário brasileiro traria muito mais benefícios ao setor privado do que ações por uma moeda única com o nosso país vizinho, neste caminho de reformulação de blocos econômicos que o mundo tem seguido.

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