Por muito tempo, os Estados Unidos se aproveitaram do crescimento chinês para ajudar a debelar o próprio processo inflacionário. Enquanto o Federal Reserve (FED) despejava trilhões de dólares na economia para evitar recessão, os produtos do gigante asiático inundavam o mercado estadunidense e seguravam os preços, mesmo com a irresponsabilidade monetária.
No entanto, esta simbiose só valeu até os norte-americanos perceberem que a China não era mais um parceiro, mas uma ameaça para a sua liderança mundial. A partir disso, ao se darem conta da dependência chinesa de semicondutores, pensaram em uma maneira de brecar o crescimento do país, afetando o seu acesso a tudo referente a esta tecnologia.
Sendo assim, proibiram qualquer comunicação entre empresas dos Estados Unidos que atuassem na área, em qualquer ramo da cadeia, e a China. Outra medida foi dificultar a entrada de estudantes chineses em universidades estadunidenses, principalmente nos cursos em áreas relacionadas à Engenharia. Houve, ainda, uma queda nas compras de qualquer tecnologia de chips do país asiático.
O plano já começa a dar resultado: duas gigantes chinesas do setor já encontram dificuldades para manter os planos de expansão e de pesquisa e desenvolvimento.
A primeira, a Yangtze Memory Technologies (YMTC), situada a 40 quilômetros do centro de Wuhan, fundada em 2016, teve de rever os planos após investimento de US$ 15 bilhões numa nova planta que triplicaria a produção. Após o anúncio das sanções, a empresa não conseguiu ganhar a escola desejada e está demitindo milhares de trabalhadores, criando um clima horrível de insegurança entre colaboradores e fornecedores.
Outra companhia que sente os efeitos do bloqueio é a ChangXin Memory Technologies (CXMT), que planejava a construção de uma nova planta, cujas operações se iniciariam já neste ano. Resultado: o projeto foi adiado para 2025, sem previsão de promessas cumpridas.
Aqui, também foi preciso demitir gente. No planejamento central da economia da China, o plano era chegar a 50% de autossuficiência em semicondutores em 2030. Agora, a meta foi reavaliada para 30%.
Em 2015, este número era de 10%, o qual chegou a 24% em 2021. Por outro lado, a Índia parece que será umas das substitutas – junto a outros países asiáticos, como Vietnã e Tailândia – nas produções de itens que, antes, eram “made in China”.
A ideia é passar dos atuais 10% na participação da construção de iPhones para 40% em alguns anos, claramente em substituição às linhas de montagem chinesas.
Nesta empreitada, o Brasil parece ter perdido uma grande oportunidade, graças a uma lacuna tecnológica considerável. Felizmente, o novo modelo das redes globais tem chances de “pegar carona”. Contudo, para isso, é preciso desenhar planos de inovação e, principalmente, educação, urgentes.