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ARTIGO DE ECONOMIA

Não há nenhum espaço para a queda de juros na inflação

Neste artigo, o especialista comenta e analisa a situação inflacionária do país.

17/03/2023 13:30

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Inflação: não há espaço para queda de juros

Não há nenhum espaço para a queda de juros na inflação

O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de fevereiro, voltou a reforçar a preocupação com a inflação, ao mostrar que ainda estamos longe de um cenário tranquilo. 

O valor mensal, um aumento de 0,84% em 30 dias, já responde por cerca de 25% da meta integral do ano (3,25%). Ao projetarmos uma inflação mensal de 0,84%, teríamos, em 12 meses, aproximadamente 10,5%, valor muito distante da meta e de números “civilizados”. Num primeiro momento, uma conta simples já mostra o quão longe da estabilidade estamos.

Contudo, ao nos aprofundarmos na análise destes dados, os argumentos se tornam ainda mais vigorosos. 

Sabemos que a inflação que mais mede a intensidade da demanda é a de serviços. Quando a propensão das pessoas a consumir aumenta, é sinal de que o poder de compra médio está melhor (ou melhorando). Sendo assim, os serviços são usados com mais frequência. 

Entre os economistas, a inflação dos serviços, vista como um bom monitor do crescimento da demanda (aquela que mais deve ser combatida com a alta de juros) , é praticamente unânime. 

Pois bem, o IPCA de serviços do mês passado apresentou alta robusta de 1,41%, contra alta bem menor em janeiro (0,60%), e está no maior nível desde o início da série histórica, em 2012. Aqui, há um argumento muito preponderante a favor de não se pensar na queda de juros nem no curto, nem no médio prazo.

Outro ponto a se destacar é que a inflação apontou alta mesmo com o arrefecimento substancial do preço dos alimentos. O grupo, em geral, mostrou crescimento de apenas 0,16% no mês, com alimentação no domicílio praticamente estável (0,04%). Vale lembrar que, em janeiro, o mesmo segmento havia marcado 0,59%. Esta baixa foi causada, em grande parte, pelo barateamento das carnes e do tomate. 

Por outro lado, cabe ressaltar a influência negativa do grupo de educação, já que os aumentos anuais sempre são relacionados à inflação de fevereiro, com alta sazonal de 6,28%. 

Além disso, há apreensão quanto aos próximos meses, pois o aumento da gasolina, fruto da reoneração do produto, deve chegar com tudo em março, pressionando o índice cheio.

Nos próximos meses, devemos ter cuidado para não cair numa armadilha, pois a inflação de 12 meses deve continuar despencando, já que os dados dos primeiros meses do ano passado sofreram grande influência da guerra na Ucrânia, os índices de março a julho de 2022 foram, respectivamente, 1,62%, 1,06%, 0,47%, 0,6% e -0,68%. 

Contudo, a partir de julho, diante das deflações geradas pela queda do imposto da gasolina, a situação vai se reverter. Não se pode confundir a queda parcial com uma tendência geral.

O boletim Focus (relatório que projeta a expectativa dos agentes privados sobre várias variáveis econômicas) da semana (divulgado no dia 13 deste mês) já mostra piora nas perspectivas. 

Além disso, o IPCA de 2023 passou de 5,9%, na semana passada, para 5,96% nesta semana, incorporando o dado de fevereiro, há quatro semanas, estava em 5,7%. Aqui, os juros servem para manter as projeções sem sobressaltos, lembrando que frente a uma expectativa muito alta, as taxas de mercado de longo prazo (bancos e futuros) já sobem mesmo sem aumento da Selic.

Em suma, estamos diante de uma conjuntura ainda assustadora, a despeito da intempestiva discussão sobre a mudança da meta. A inflação, que ainda corre muito acima da banda superior, dá sinais inequívocos que não deverá ceder com facilidade nos próximos meses (ou mesmo no médio prazo).

Agora, o melhor remédio é esperar e manter os juros como estão, até que se tenha uma visão mais clara dos objetivos fiscais do novo governo e do comportamento dos serviços. 

Não há nenhum espaço para a queda de juros, que serviria como combustível para o fogo inflacionário. Já vimos este filme em 2014 e 2015, com resultados desastrosos para a economia brasileira, por isso, não podemos, de maneira alguma, repeti-lo. 

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