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ARTIGO DE ECONOMIA

A “superssemana” da economia

Neste artigo, o especialista comenta sobre decisões econômicas essenciais para o Brasil e Estados Unidos.

31/03/2023 13:30

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A “superssemana” da economia

A “superssemana” da economia

Em apenas uma semana, duas decisões de vital importância para a economia brasileira foram tomadas, aqui e nos Estados Unidos. Trata-se do que os economistas chamam de “superssemana”, em que os comitês de política monetária se reúnem, no Brasil e na América do Norte, para decidir a respeito da fixação da taxa de juros básica e das impressões sobre os próximos passos da oferta monetária na economia.

Vale lembrar que juros mais altos desincentivam consumo, incentivam poupança e tendem a esfriar a demanda. Neste caso, este recurso deve ser usado contra inflações altas, principalmente aquelas provenientes de um excesso de demanda. Juros mais baixos são registrados quando a inflação está muito abaixo da meta, e isso leva o país a uma recessão. 

É relevante também ter em mente que a política monetária atual tem influência nas expectativas futuras de inflação: se o Banco Central (Bacen) for muito leniente com o “inchaço”, os agentes imaginarão que, no futuro, a situação vai se agravar, embutindo nos títulos ligados a juros prefixados um prêmio maior, para dar conta da depreciação do dinheiro. Aqui, um erro para baixo nestes juros pode baixar o juro de curtíssimo prazo, mas elevar os de médio e longo prazos.

Diante disso, e cientes de que o cenário mundial foi surpreendido com as quebras do Silicon Valley Bank (SVB) e a incorporação do Credit Suisse pela UBS Group AG, os bancos centrais ao redor do globo decidiram a nova meta de juros. 

Em tempo: caso estes eventos isolados gerassem um efeito generalizado na economia, os bancos centrais poderiam decidir por não aumentar (ou até baixar) as taxas de juros, entretanto, a princípio, não parece que foi isso que, de fato, aconteceu.

A deliberação do Bacen nacional, enfim, foi de manter a taxa de juros no patamar de 13,75% ao ano (a.a.). Em comunicado, o banco citou três fatores de risco e três fatores que podem auxiliar na luta contra o aumento dos preços. 

Os fatores de risco: a persistência da inflação no mundo (mesmo com alta de juros), a incerteza sobre o arcabouço fiscal brasileiro e a desancoragem das expectativas para 2023 e 2024. 

Os fatores auxiliares: a baixa dos preços das commodities, a desaceleração em curso da economia global e os problemas de concessão de crédito no Brasil.

Assim, no balanço de riscos, o resultado não poderia ser outro: manutenção da Selic. A não divulgação e mesmo as críticas internas do governo à meta fiscal proposta pelo Ministério da Fazenda (ainda desconhecida), além das expectativas da inflação se mantendo acima da meta e das bandas em 2023 e 2024, desautorizam qualquer aventura de baixa de juros agora e no curto prazo. A autoridade monetária ainda deixou claro que, se os riscos se intensificarem, a taxa pode aumentar ainda mais. Não é provável, mas fica o recado a quem pretende aumentar os gastos.

Nos Estados Unidos, a decisão ainda foi de aumento de 0,25 ponto porcentual (p.p.), para uma faixa entre 4,75% e 5%. A inflação de 12 meses ainda está acima de 6%, e, embora não seja ideal comparar juros presentes com o passado, a taxa real ainda é negativa.

O comunicado e as entrevistas do presidente do Federal Reserve (FED), Jerome Powell, apontam um banco central  mais propenso a parar as altas e, inclusive, abrir espaços para quedas, mesmo frente a uma forte inflação dos serviços e atividade ainda em alta. Portanto, entre os diretores ainda parece ser consenso mais uma alta de 0,25 p.p. Por enquanto, a economia e o mercado de trabalho estadunidenses também desautorizam a queda dos juros, a despeito das situações difíceis de alguns bancos, que podem causar desconforto com toda a situação.

Em comum, estamos diante de uma conjuntura já esperada: período de menor liquidez e juros maiores no contexto mundial, e isso demanda do empresário muita cautela. A menos que se tenha uma oportunidade garantida, o momento é evitar grandes investimentos ou ações muito ousadas. Levar o negócio a patamar seguro é o mais aconselhável, até que alguns pontos se definam.

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