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Temor com indexação motivou alta da Selic

A ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) mostrou um Banco Central mais preocupado com a capacidade de a inflação se realimentar.

12/06/2013 20:48

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Temor com indexação motivou alta da Selic

A ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) mostrou um Banco Central mais preocupado com a capacidade de a inflação se realimentar, tanto por mecanismos de indexação quanto pela deterioração das expectativas dos agentes econômicos, o que também costuma estimular reajustes de preços com base em índices passados. Esses aspectos foram apontados no parágrafo que justifica mais diretamente a decisão de elevar de novo, e em ritmo mais forte, a taxa básica de juros brasileira.

Os mecanismos de reajuste automático de preços e as expectativas, sejam boas ou ruins, são fatores sempre considerados no balanço de riscos inflacionários do BC. Desta vez, no entanto, mereceram um destaque que, principalmente no caso da indexação, não se via há muito tempo nas atas do Copom.

O fato de a inflação estar alta e disseminada também foi explicitado. Mas isso já estava no trecho principal do documento que justificou o início do atual ciclo de aperto monetário, em abril, quando a Selic subiu 0,25 ponto percentual após dez cortes sucessivos e alguns meses de estabilidade.

Num contexto de inflação elevada e dispersa, o maior temor com os riscos relativos à indexação e à piora na percepção dos agentes econômicos levou o comitê a aumentar o juro básico em 0,50 ponto percentual, para 8% ao ano. Os diretores do BC entenderam que o quadro precisava ser revertido com a “devida tempestividade”, tendo em vista que a persistência desse processo causaria danos à tomada de decisões sobre consumo e investimentos.

“O Copom considera que o nível elevado de inflação e a dispersão de aumentos de preços – a exemplo dos recentemente observados – contribuem para que a inflação mostre resistência. Nesse contexto, inserem-se também os mecanismos formais e informais de indexação e a piora na percepção dos agentes econômicos sobre a própria dinâmica da inflação”, diz o parágrafo 28 da ata. “Tendo em vista os danos que a persistência desse processo causaria à tomada de decisões sobre consumo e investimentos, faz-se necessário que, com a devida tempestividade, o mesmo seja revertido. Para tanto, o Comitê entende ser apropriada a intensificação do ritmo de ajuste das condições monetárias ora em curso.”

Com o novo aumento da Selic, o BC acredita contribuir para colocar a inflação em declínio e assegurar que continue caindo em 2014. O Copom avalia que, no curto prazo, a inflação medida em 12 meses ainda apresenta tendência de alta, pois o balanço de riscos para o cenário prospectivo se apresenta “desfavorável”. O colegiado voltou a defender que, em momentos assim, a política monetária deve se manter “especialmente vigilante” para minimizar riscos de que níveis elevados de inflação persistam no horizonte relevante de tempo.

Pode ter havido um certo exagero na política monetária expansionista, mas o governo parece ter tomado um caminho para consertar isso, disse Luiz Fernando Figueiredo, ex-diretor do Banco Central e sócio da Mauá Sekular Investimentos. “A ata foi bem firme, bem dura e deixou bem claro: não tem conversa.” Segundo ele, o PIB do primeiro trimestre, com crescimento inferior ao esperado, poderia ter levado o governo a dois caminhos, retomar a política expansionista ou concluir que estava indo pelo caminho errado. “Todos os sinais de lá para cá foram de dar uma consertada no caminho”, afirmou, completando que “essa é uma novidade importante”. Para ele, as eleições do ano que vem deverão ser um incentivo para evitar o descontrole inflacionário.

De março para abril, a variação acumulada em 12 meses pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) recuou de 6,59% para 6,49%. Esse ainda é um patamar alto e está quase no limite superior (6,5%) do intervalo de tolerância da meta estipulada pelo governo, cujo centro é 4,5%.

A ata foi “firmemente ‘hawkish’” e “muito consistente” com a decisão do colegiado do BC de acelerar o ritmo de alta da Selic para 0,50 ponto percentual, avaliou a equipe de pesquisa econômica do Brasil Plural, da qual faz parte o ex-diretor do BC Mario Mesquita. O banco prevê agora que o aperto monetário será de 1,75 ponto percentual, com um aumento da Selic de 0,50 ponto em julho e mais dois ajustes “menores” em agosto e outubro. O juro básico, dessa forma, terminaria o ciclo de alta em 9% ao ano.

O Itaú considerou ata consistente com o cenário de um ciclo total de alta do juro de 1,50 ponto percentual, “com elevações adicionais de 0,50 ponto em julho e uma última de 0,25 ponto em agosto”. Com isso, a Selic fecharia 2013 em 8,75%. Pela leitura do time de economistas do banco, liderado por Ilan Goldfajn, o BC destacou alguns elementos que mantêm o ritmo de consumo doméstico além da capacidade de produção da economia: políticas de estímulo, que devem continuar dando suporte a despesas agregadas; os salários gerando custos mais altos e ameaçando a perspectiva inflacionária, além do impacto dos mecanismos de indexação e a piora nas expectativas para os preços.

A recuperação lenta do ritmo de crescimento da economia brasileira tende a limitar, porém, o ciclo de aperto monetário conduzido pelo BC, segundo avaliação da equipe de análise da Votorantim Corretora, comandada pelo economista Roberto Padovani, que mantém a previsão de que o movimento de alta dos juros seja encerrado com a Selic em 8,75% ao ano.

Já Marcelo Kfouri, do Citi, tomou como base o tom mais duro da ata do Copom e a piora das expectativas para a inflação, para projetar a Selic a 9,25%. Para ele, o ciclo de aperto monetário em curso seguirá por mais três reuniões, com dois aumentos seguidos de 0,50 ponto percentual (em julho e agosto) e uma elevação de 0,25 ponto em outubro. A previsão anterior era de elevação da Selic até 9% este ano.

Ao fazer avaliação sobre a taxa de câmbio, o Copom viu evidências “de maior volatilidade e de tendência de apreciação do dólar” ante outras moedas. A ata lembra que, entre as duas últimas reuniões do comitê, o dólar se valorizou diante da expectativa de antecipação da retirada de estímulos monetários por parte do Federal Reserve e pela redução da taxa básica de juros na zona do euro. Ao mesmo tempo, o documento destaca “evidências de acomodação dos preços das commodities nos mercados internacionais”.

A ata do Copom chamou atenção ainda para o fato de a demanda doméstica estar aumentando em ritmo superior ao do PIB. “A absorção interna vem se expandindo a taxas maiores do que as de crescimento do PIB”, diz a ata.

A demanda doméstica da economia “tende a se apresentar robusta”, entre outros fatores, porque ainda não acabou o efeito das reduções sofridas pela Selic até outubro do ano passado. Mesmo com a nova elevação da taxa, a demanda “será impactada pelos efeitos remanescentes das ações de política implementadas em 2012″, afirma o texto.

Para o Copom, a parcela doméstica da demanda agregada “tende a ser beneficiada” pelos efeitos da política fiscal, que tem sido expansionista. A despeito das limitações no campo da oferta, o comitê considera que o ritmo da economia será mais intenso neste e no próximo ano.

Fonte: Valor Economico

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