A manobra contábil é legal. Com a perspectiva de um balanço melhor, as ações ordinárias (ON) da companhia, que pagam dividendos ao governo, subiram 7,25%, a maior alta do Ibovespa no pregão desta quinta-feira, 11. Mas o movimento seria especulativo, não teria trazido novos acionistas para a empresa, e pode inverter posição no médio prazo.
Gustavo Gattass, do BTG Pactual, disse que a medida o fez elevar a estimativa do resultado no segundo trimestre de R$ 100 milhões para RS 3,3 bilhões. Ele acredita, porém, que no médio prazo o efeito possa ser negativo. "No fundo, vejo esta movimentação como negativa, com uma ainda mais negativa conclusão por trás dela. Triste mesmo, porque o momento não é adequado", declarou, defendendo transparência na companhia.
Em fato relevante, a Petrobras anunciou que a regra do comitê de pronunciamento contábil CPC 38 permite que empresas reduzam impactos provocados por variações cambiais em seus resultados, desde que gerem fluxos de caixa futuros em moeda estrangeira no sentido oposto. No caso, a companhia usará o petróleo que exportará no futuro para anular a perda cambial no presente. Uma espécie de proteção (hedge) contra a variação cambial.
A companhia disse que o mecanismo contempla, inicialmente, cerca de 70% do total das dívidas líquidas expostas à variação cambial, protegendo cerca de 20% das exportações por um período de sete anos. Desta forma, a variação cambial só afetará a companhia à medida que as exportações sejam concretizadas.
Uma das anomalias da medida é o fato de a regra ser aplicada apenas às exportações, embora a Petrobras importe mais do que exporte. A companhia estaria naturalmente protegida da variação, se os preços dos combustíveis no mercado interno acompanhassem a flutuação internacional.
A Petrobras registra perdas bilionárias todo o trimestre ao importar diesel e gasolina mais caros no mercado internacional do que o vendido na bomba, já que o aumento dos combustíveis ao consumidor estouraria as metas de inflação do governo.
"Vemos essa mudança contábil como negativa, já que vai provavelmente melhorar artificialmente os resultados do segundo trimestre", disseram analistas do BES.
Fonte: Estadão Conteúdo