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Petrobrás perde brilho e cai mais do que outras blue chips na Bolsa

Das 69 ações do Ibovespa, as ordinárias da Petrobrás perdem para 57 ou para 83% do índice.

22/07/2013 11:29

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Petrobrás perde brilho e cai mais do que outras blue chips na Bolsa

O fraco resultado apresentado pela Petrobrás no ano passado, divulgado no início de fevereiro, aliado aos conhecidos problemas da empresa - como o alto endividamento e o prejuízo nas vendas de gasolina -, pressionou ainda mais as ações da companhia. As ações agora têm um dos piores desempenhos dentro dos papéis que compõem o Ibovespa. Em 12 meses, até 14 de fevereiro, as ações ordinárias (ON, com direito a voto) tiveram desempenho inferior a 83% das ações do Índice. Ou seja, das 69 ações do Ibovespa, 57 apresentam alta ou quedas inferiores à Petrobrás ON. No caso da preferencial (PN), há perda para 78% dos papeis (ou 54 ações), segundo dados da Economática.

Nesse período, o Ibovespa também teve queda significativa, de 10,7%, mas ainda assim inferior à baixa apresentada pela Petrobrás: a ON caiu 43,7% e a PN, 30,9%. "Na verdade, a empresa sofre mais neste momento porque não é um problema relacionado somente à crise econômica mundial. Começou antes, ainda em 2008, quando ela apresentava lucros recordes. Algumas sementes da crise foram implantadas na companhia e ninguém percebeu ou falou nada", avalia o analista e diretor da Infopro (Brasil Instituto de Formação Profissional), Richard Rytenband.

Entre os problemas levantados pelo mercado está o fato de a companhia ter baixa capacidade de refinar petróleo. A explosão de consumo de automóveis nos últimos anos, que poderia ser encarado como um evento positivo, acabou se tornando um entrave. A maior demanda por gasolina fez com que a empresa passasse a importar cada vez mais combustíveis. Os preços internacionais subiram e, para controlar a inflação, o governo, como maior acionista da empresa, não permitiu que a Petrobrás repassasse para as bombas do Brasil a alta de preços no mercado externo. A defasagem faz a companhia ter prejuízos constantes na refinaria.

Além disso, a descoberta do pré-sal exigiu mais investimentos. Existem três formas de captar mais recursos: utilizar os recursos dos lucros, os quais não foram conquistados pela empresa; lançar mais ações, como a empresa fez em 2010; e emitir títulos de dívida, que foi a última solução que a companhia tem aplicado. Isso aumentou o endividamento da empresa, comprometendo os recentes resultados. A desvalorização do real agravou a situação na medida em que a maior parte da dívida é emitida em dólar.

Investidor Estrangeiro

"A queda talvez fosse ainda pior se a Petrobrás não estivesse no Ibovespa e no IBrX", diz o professor de finanças da Fipecafi (Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras), Mário Amigo. O fato de a empresa estar nessas listagens faz com que muitos fundos de investimento e de previdência privada comprem suas ações, já que eles têm de seguir de perto o desempenho dos índices.

Se a a queda aqui na BM&FBovespa já é grande, na Bolsa de Nova York ela atinge variações ainda maiores. As ADRs ordinárias (títulos representativos das ações da Petrobrás) caem 43,7% na Nyse em 12 meses, enquanto as preferenciais recuam 30,9%. Parte da diferença entre a desvalorização na Nyse e na BM&FBovespa pode ser explicada pelo efeito cambial, mas também influencia o fato de a Bolsa de Nova York ter muito mais ações do que a paulistana.

"A Petrobrás é uma empresa internacional. Faz parte de vários índices lá fora, como de emergentes e de produtores de petróleo. Isso a torna suas ações dependentes da demanda internacional. Atualmente a empresa não é atrativa em valor relativo aos concorrentes e não maximiza lucros. Um investidor estrangeiro que quer uma posição em petróleo tem opções como Exxon Mobil, Chevron e Ecopetrol", analisa o estrategista chefe da Icap Brasil, Gabriel Gersztein. As infinitas opções de empresas no mercado externo fazem a blue chip brasileira perder ainda mais o brilho.

Segundo ele, a empresa atualmente possui muitas reservas de petróleo, mas o que o mercado busca é resultado, principalmente porque em 2010 depositou confiança na companhia. "Investiram R$ 120 bilhões no aumento de capital da empresa e até agora não houve retorno", lembra. Na ocasião do lançamento de ações, 20% da demanda foi estrangeira.

Perspectiva

A alta inferência do governo na empresa incomoda nas projeções. "Os passos da Petrobrás estão vinculados a interesses do governo, o que acaba pesando muito nas ações. O investidor estrangeiro é avesso a empresas com essa forte atuação estatal", avalia Amigo. "Vira uma caixinha de surpresas. Seria indicado minimizar a exposição da carteira nesses setores com risco difícil de mensurar, é difícil calcular qual seria o preço justo", diz Amigo.

"Não tem atratividade nenhuma. Há reservas, mas não há lucro. Não vejo algum rally para as ações porque a credibilidade dela está afetada no mercado externo, algo que é demorado para se construir e fácil de destruir", diz Gersztein. "O governo não é parte da solução, mas parte do problema. Tem optado por perder essa credibilidade em troca de segurar o preço da gasolina e a inflação", afirma.

No médio e longo prazo, há quem aposte na companhia. "O Boletim Focus tem projetado uma alta da inflação e o governo sinalizou que vai utilizar também a política cambial para reduzir a pressão inflacionária", diz Rytenband, ao avaliar que o real pode sofrer uma valorização e, assim, melhorar o endividamento da empresa. Além disso, o analista acredita que a alta da gasolina em 6,6% no fim de janeiro pode se repetir em agosto, em menor magnitude, caso o dólar e os preços não se comportem da maneira desejada e diminuam a defasagem entre o preço do combustível nacional e no exterior.

A capacidade de refino de gasolina da empresa deve crescer. Mesmo com as últimas refinarias ficando prontas somente a partir de 2020, algumas já devem começar a produzir entre 2014 e 2015, como as refinarias de Pernambuco e da Comperj. Com isso, a quantidade de gasolina importado deve diminuir. "Antes os dirigentes eram muito otimistas, mas agora a própria Graça Foster (presidente da Petrobrás) está ancorando as expectativas para baixo, sendo mais realista. Acredito que para a pessoa física que pretende investir no médio prazo, entre 2 e 5 anos, o cenário seja bom", diz o analista.

Fonte: Estadão

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