Educar o sucessor para seguir a tradição da empresa ou esperar que ele traga um sopro de inovação?
Essa é uma das perguntas que pais, filhos e especialistas que estudam empresas familiares ou trabalham nelas tentam responder, baseados na sua experiência.
A consultora do Sebrae de São Paulo Sandra Fiorentini, por exemplo, defende que, independentemente dos rumos que o herdeiro deseje dar à empresa, antes de assumir o comando, ele tem de passar por várias áreas do negócio familiar.
Isso ajudaria, claro, o filho a ter conhecimento sobre todo o processo produtivo, mas há uma outra grande vantagem no tempo gasto “rodando”: o herdeiro ganha aí uma chance de ser respeitado pela equipe que já trabalha na empresa.
O rodízio pela empresa oferece ao jovem ainda a chance de descobrir se realmente gosta de trabalhar na administração do negócio familiar –e essa reflexão permite que, no limite, o jovem até desista de assumir o negócio.
Leonardo Viegas, conselheiro de administração do IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa), recomenda, nesse sentido, que mesmo que o filho escolha seguir outra carreira, o pai se dedique a transmitir para ele os valores e os conhecimentos necessários para acompanhar a empresa.
Para ele, noções de contabilidade e gestão de pessoas serão sempre úteis, mesmo que o herdeiro decida não assumir a empresa –servirão, nesse caso, para que ele acompanhe as ações do gestor que a empresa contratar para administrá-la.
Como essa formação pode levar algum tempo, Viegas reforça a importância de começar a planejar a passagem do comando com antecedência –sempre podem surgir disputas na família ou outras dificuldades, que, na falta de organização prévia, podem pegar o novo chefe desprevenido justamente no momento em que ele tem menos experiência para lidar com os imprevistos.
Há ainda um fator ligado à clientela: se os que fazem negócios com a empresa forem se habitando gradualmente a lidar com o novo gestor, eles tendem a ser mais fiéis quando a sucessão se concretizar por completo.
Outro especialista, Fernando Curado, professor da BSP (Business School São Paulo), diz que a empresa da família é um patrimônio herdado como qualquer outro e exige responsabilidade.
Para ele, não há contradição necessária entre unir a tradição e a cultura da empresa com as novas ideias e procedimentos trazidos por quem assume o comando.
Filipe Oliveira
Fonte: Folha de S.Paulo