x

O presidente da empresa sofre num conselho de administração desfocado

Um conselho errado poderá levar todos para o buraco da falência ou da concordata. Neste entrevero, e salseiro de jogadas incertas, surgem os personagens gregos, troianos e babilônios.

09/10/2013 22:31

  • compartilhe no facebook
  • compartilhe no twitter
  • compartilhe no linkedin
  • compartilhe no whatsapp
O presidente da empresa sofre num conselho de administração desfocado

Eu já fui assessor técnico de presidência de empresa. E tomei bordoadas por adotar linhas rígidas de detalhamento técnico, de ações executivas, para deliberações conselheiras.

Mas, o amargo da estória está na visão prévia em se estabelecer um conjunto de linhas técnicas, honrosas, morais e eficientes (qualidade, produtividade e economia), de modo a agradar a gregos e troianos. E descobri que havia os babilônios... Os gregos são os politizados e filosóficos, os troianos são pragmáticos e imediatos. E os babilônios são os anarquistas e volúveis.

Os gregos gostam de estruturas esquemáticas, os troianos gostam de ações defensivas e objetivos definidos. E os babilônios apreciam uma espécie de desordem, um tico de casuísmo, ou mesmo inventarem "tempestades em copos de água".

E o desfecho das questões em debates? Sejam estratégias, planos e planejamentos, sejam ações objetivas de compras, vendas e rotinas precárias, para propostas de correções e ajustes...

Passei a investigar o perfil dos conselheiros, suas diversidades educacionais e culturais, suas formações de base e de extensão, e ainda como foi que chegaram a participar do conselho de administração da empresa. Sim, deu um bom trabalho, para isso. Já que a empresa estava numa transição entre empresa sob controle estatal, para controle privado.

Estabelecer o perfil dos conselheiros é uma atitude de RISCO, uma vez que podem interpretar como uma violação de dados e informações pessoais. Porém com certa discrição isto pode ser feito. E fazer com a aprovação do próprio presidente. E acho que todo presidente de empresa deve fazer isto, através de sua equipe...

Por que isto foi necessário? Lembro de uma estória contada pelo meu avô. Sobre o menino, o velho e a mula.

O conto versava sobre uma viagem que um velho necessitou fazer para tratar de sua saúde. E para não percorrer pelas estradas sem uma companhia, ele levou seu neto, um menino de 10 anos de idade. E era impossível seguirem somente à pé. Então, o velho pegou a boa mula de seu curral, para ajudá-los a chegar à cidade, para o atendimento de saúde dele.

Ao longo das estradas, subidas e descidas, obstáculos do desleixo da administração pública, os riscos de animais predadores e até de pessoas mal intencionadas, foram os três pelas vias dos vales e das montanhas.

Foram caminhando a princípio, andando segurando a mula pelo arreio. A certa altura o velho se cansou e montou a mula. O menino seguiu quase que "puxando" a mula pelo arreio. Passando por certo posto de fiscalização, o pessoal gritou para o velho: - Ô velho preguiçoso, explorando a criança. Não vê que o menino está cansado, também. Deixe de ser egoísta e coloque o menino na garupa.

Numa certa curva da estrada o velho olhou seu neto e começou a achar que realmente o estava explorando. E logo, o fez subir na garupa da mula bondosa. E foram os três seguindo desta maneira.

Chegando perto de uma estalagem para uma ligeira refeição, o pessoal viu a cena do velho e do menino montados na mula. E gritaram: - Vocês dois aí, não vêm que estão abusando do pobre animal? Duas pessoas na garupa de uma mulinha esgotada?

O velho ouviu a gritaria, e após a parada e a restauração das energias, ele seguiu pela estrada deixando seu neto na garupa da mulinha.

Após algumas horas de caminhada encontraram um grupo de caçadores. E estes indignados viram a cena do velho puxando o arreio e andando meio trôpego. E gritaram: - Ô menino abusado, não vê que vai matar o velho de cansaço? Você sendo mais jovem deve puxar o velho, na garupa, para que ele se sinta revigorado e menos cansado.

Depois dos caçadores desaparecerem, no horizonte da estrada, o velho achou que poderia se cansar mais do que o normal e, então, desceu o neto da garupa da mula e ambos seguiram andando novamente e puxando a mulinha pelo arreio.

Quando estavam chegando à cidade, para o atendimento da saúde do velho, o pessoal da entrada viu os dois andando e puxando a mula, quando uns gritaram: - Ô otários, seus tolos, com um animal saudável, e vocês "viajando" a pé, puxando ele pelo arreio? Devem ter demorado muito de onde vieram, caminhando nestes passos trôpegos do velhinho...

Em verdade, uma reunião de conselho de administração (com os acionistas junto), pelo menos as que eu pude ver e saber, se passa como as pessoas que estão de fora da "viagem empresarial", com muitos palpites e poucos discernimentos sobre as ações de causas e efeitos. E porque certas atitudes estão em execução. Muitos palpites fluem, sem visão das deliberações dos agentes que estão empreendendo a viagem em si.

Então, a reunião do conselho de administração chega, em algumas empresas, a virar "leilões de feira livre". Sem falar das articulações conspiratórias que objetivam a denegrir o presidente e sua equipe. Alguns conselheiros se julgam capazes de indicar este ou aquele profissional para conduzir a empresa, perdendo o objetivo principal de sobrevivência e duração da empresa, em condições seguras e eficientes. Viram jogos pessoais e de somenos importância para todos...

Um conselho errado poderá levar todos para o buraco da falência ou da concordata. Neste entrevero, e salseiro de jogadas incertas, surgem os personagens gregos, troianos e babilônios. E para piorar quando, um grupo de acionistas seja majoritário ou minoritário, surgem os "romanos".

Os "romanos" são um perfil de conselheiros dominadores, combativos e em permanente belicismo.

O interesse deste artigo é do fazer despertar ao pessoal de apoio, e assessoria, do presidente, para o fato dos grupos de perfis surgirem no contexto das reuniões do conselho de administração. A missão será a de preparar relatórios, gráficos e textos expositivos voltados para a maioria capaz de produzir um consenso, na linguagem específica para a maioria concentrada de perfis do conselho administrativo - MINIMIZARÁ DISTORÇÕES E DERIVAS ARGUMENTATIVAS.

Para uma decisão sair com certa condição de aplicação prática e eficiente (qualidade, produtividade e economia) terá que extrair a concordância de um dado consenso de perfis característicos predominantes e presentes no conselho de administração. Logo teremos que induzir a possibilidade de uma decisão ou escolhas de ações executivas para gregos, troianos, babilônios e romanos.

Qual será o pendor característico destes perfis no conselho de administração de sua empresa? As decisões são boas ou ruins?

O que é uma decisão? Em geral é efetuar uma escolha após um juízo de valor. É optar por uma dentre várias alternativas de escolha. Mas, toda decisão tem vantagens e desvantagens, pois somos condicionados pelas restrições de tempo, abrangência e maturação de aplicação, conhecimentos, capital, material e recursos humanos. Em verdade uma decisão é precedida por um plano de viabilidade, com fins lucrativos, e para os interesses humanos da empresa. NÃO se concedem prerrogativas para darem prejuízos. 

A governança empresarial em suas decisões não deve recorrer a conselheiros fajutos e palpiteiros – mais astutos do que sábios - a adoção de opiniões desqualificadas, aceitação da influência pessoal nociva, deposição de confiança excessiva nos afetos e de confiança emocional e ilusória, demonstra exclusivamente uma ”burrice coletiva”. Se esta burrice prevalece vai ocorrer a implementação de especulações, se for dado crédito a embusteiros ufanistas e falaciosos. Por diversos motivos isso ocorre, tais como:

1. Seleção errada dos conselheiros;

2. Falta de uso da razão para o senso de responsabilidade que se atribui;

3. Falta de conhecimentos dos temas e assuntos sob análises;

4. Falta de dados e informações para análises críticas científicas;

5. Falta de conhecimentos, de domínio de métodos e técnicas de pesquisas, investigação e de previsão e

6. Ações precipitadas – mal consensadas - e sem planejamento coerente.

Essa contradição do poder administrativo resulta em um número exagerado na taxa de erro na 1ª decisão. Quando ela é próxima ou acima de 40% demonstra a presença de um processo decisório inconsistente e desqualificado. Em governos essa taxa deveria ser abaixo de 20%. Ou seja, em 10 decisões, para solução de 10 problemas diferentes, em 2 delas encontra-se erro que desqualifica o agente que as decidiu.

O erro na 1ª decisão é qualquer ação de correção na configuração da decisão original, após sua divulgação, quando sua repercussão foi negativa e desastrosa.

Existe a tendência entrópica das atividades humanas – desorganização, obsolescência, alterações nas forças de equilíbrio - instabilidades, volatilidade de opções e recursos, escassez e demanda. Esse fenômeno impõe permanente necessidade de solução de problemas nas atividades humanas, para minimizar desperdícios, quais sejam: humanos, materiais, econômicos, temporais e ambientais. E por efeito impõe a necessidade de permanente fluxo de decisões e de erros e acertos.

Assim a empresa deverá ter um grupo de apoio ao presidente que possa ajudá-lo a criar caminhos de escolhas mais consensuais dentro dos perfis característicos dos conselheiros administrativos. Sem palpiteiros e sem jogos de conspirações - estas últimas se houverem, seus protagonistas irão enfrentar os mesmos tipos de conflitos do atual presidente, com mais ou menos retrocessos... Será uma questão de mais ou menos 3 novas reuniões do conselho de administração.

O presidente da empresa sofre num conselho de administração desfocado e mal analisado.


Lewton Burity

Fonte: Administradores.com

Leia mais sobre

ÚLTIMAS NOTÍCIAS

ARTICULISTAS CONTÁBEIS

VER TODOS

O Portal Contábeis se isenta de quaisquer responsabilidades civis sobre eventuais discussões dos usuários ou visitantes deste site, nos termos da lei no 5.250/67 e artigos 927 e 931 ambos do novo código civil brasileiro.