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O efeito lambe-lambe e a hiperespecialização das carreiras

Quando lemos e refletimos sobre o futuro do trabalho, as referências têm nos levado a pensar em multifuncionalidade, capacidade de adaptação, visão sistêmica e o entendimento...

21/11/2013 21:38

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O efeito lambe-lambe e a hiperespecialização das  carreiras

Quando lemos e refletimos sobre o futuro do trabalho, as referências têm nos  levado a pensar em multifuncionalidade, capacidade de adaptação, visão sistêmica  e o entendimento dele como uma soma de múltiplas atividades. Parece que a  tendência é a busca da polivalência como diferencial competitivo.

Essa percepção está baseada na ideia de que as funções serão mais amplas,  principalmente pelo claro movimento das empresas de reduzir seus tradicionais  organogramas, tornando-os mais horizontais, o que traria também maior mobilidade  e intercâmbio de atividades.

No entanto, tenho uma visão de que as carreiras serão cada vez mais  especializadas. E digo mais: estamos entrando na era da hiperespecializacão,  como afirmou Thomas Malone, professor do MIT, em um artigo escrito há dois anos  sobre o futuro do trabalho. No ensaio, Malone afirma que o mesmo fenômeno que  ocorreu nas fábricas durante o século XX chegou à sociedade do conhecimento.

Ou seja, teremos profissionais cada vez mais especializados em determinadas  atividades. A sofisticação dos negócios, o avanço tecnológico e o aumento da  competitividade das empresas exigem profissionais focados e altamente  especializados em suas áreas. Esse movimento, que começou nas atividades  operacionais e nos níveis intermediários, está cada vez mais presente em todas  as funções.

Observo, como nunca, a tendência das empresas de procurar executivos  hiperespecializados. Quando converso com headhunters (os poderosos "caçadores de  talentos"), percebo que eles operam como uma antiga máquina de fotografias do  tipo lambe-lambe. É como se cada candidato entrevistado tivesse seu "retrato"  tirado e armazenado em um banco de imagens. Essa foto guarda a função e o setor  da economia para os quais o profissional pode ser indicado. Por exemplo: um  diretor de vendas para produtos de consumo. Ou seja, uma área e um setor da  economia. É assim que funciona a lógica de contratação.

Os caçadores de pessoas seguem esse caminho porque assim são demandados pelas  empresas. O efeito lambe-lambe é consequência do pedido de quem paga a conta.  Mas, por quê? A resposta é simples: as empresas estão altamente pressionadas  pelos resultados a curto prazo. As reflexões em longo prazo, missão essencial de  qualquer CEO, são mero desejo. Os conselhos de administração funcionam como  inquisidores para que as metas sejam atingidas.

Um presidente que não entrega resultados por dois trimestres tem risco de  acabar demitido. Sem espaço para errar, as empresas querem profissionais que  reproduzam práticas já consolidadas e bem-sucedidas - nada de ações inovadoras  que, pelo ineditismo, possam representar algum risco aos números da organização.  Por isso, contratam pessoas com experiências passadas muito próximas às  atividades futuras. Nada de inovação.

Essa tendência global de hiperespecialização e efeito lambe-lambe parece  estar bem definida. Pelo jeito que as empresas estão articuladas e pelo modelo  de remuneração do sistema, não vejo mudanças.

Para sair desse sistema restritivo e sem oxigenação precisamos pensar  alternativas. Um caminho pode ser a construção de conexões em áreas e setores  análogos que diminuam o risco potencial dos implacáveis headhunters pressionados  por contratantes medrosos.

Buscar trabalho em áreas próximas significa mapear atividades similares e  setores da economia em que os clientes, os métodos produtivos ou até mesmo os  fornecedores sejam semelhantes. Essa alternativa deixa o novo empregador mais  confortável. Com isso, também evitamos a perspectiva ingênua de alguns  executivos que acham que podem trabalhar em qualquer setor. A máxima de que  gestão é igual em qualquer empresa não funciona no mundo superespecializado.

Por fim, a melhor estratégia: procurar trabalho e desenvolver a carreira nas  poucas empresas que buscam pessoas olhando para o para-brisa e não somente pelo  retrovisor.

Rafael Souto

Fonte: Valor Econômico

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