x

Com deslocamento das empresas, fatia de SP recua

Ulyssea, do Ipea, afirma que a desconcentração espacial é desejável, mas a guerra fiscal é um meio ruim para este fim.

25/11/2013 19:55

  • compartilhe no facebook
  • compartilhe no twitter
  • compartilhe no linkedin
  • compartilhe no whatsapp
Com deslocamento das empresas, fatia de SP recua

Reconhecido como "locomotiva do país" pela importância histórica de sua indústria, o Estado de São Paulo vem perdendo participação relativa no emprego formal de diversos ramos industriais. Para alguns economistas, esse movimento significa uma desconcentração espacial da indústria, que migra parte da sua produção em busca de custos menores em outros Estados, ancorada principalmente em benefícios tributários da guerra fiscal.

Entre as que reduziram sua importância relativa em São Paulo estão a indústria metalúrgica, a indústria mecânica, a de material de transporte, a química, a têxtil e a indústria calçadista. Em 2007, a metalúrgica paulista respondia por 41,96% dos empregos deste segmento no país, participação que recuou para 37,73% em 2012. Na mecânica, essa relação caiu de 49,55% para 46,76% no mesmo período. Na indústria de material de transporte, de 54,86% para 48,43%. Na química, saiu de 47,52% para 43,62%. No setor têxtil, de 30,82% para 28,96% e no de calçados, de 17,20% para 16,83%, segundo dados da Relação Anual de Informações Sociais (Rais) , divulgada pelo Ministério do Trabalho.

As empresas, que iniciaram parte deste deslocamento nos anos 1990, seguem se transferindo para locais com mão de obra mais barata, como o Nordeste, onde são também menores os custos de mobilidade e logística do que em São Paulo. Outro destino da transferência são os Estados que estão recebendo investimentos em infraestrutura ou vivem a pujança do agronegócio, como os do Centro-Oeste, e principalmente ela ocorre para locais onde são dadas também vantagens fiscais.

André Nassif, professor da Universidade Federal Fluminense, lembra que, no início deste processo, as empresas foram para o Sul do país, depois foram mais para o Nordeste. Mas ainda há exemplos recentes de deslocamentos para o Sul, como novas plantas da General Motors - representante do setor automotivo, indústria que se concentra bastante no Estado de São Paulo - anunciadas nos últimos anos em Santa Catarina.

Na avaliação de Haroldo Campos, pesquisador da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade), o Estado de São Paulo não tem assistido necessariamente a uma migração de sua indústria para outras regiões, mas vem sendo substituído quando há um processo de expansão das atividades das empresas já sediadas em solo paulista. Nesses casos, elas têm dado preferência a outras localidades. "Mas, no geral, as empresas não têm saído de São Paulo. Elas se expandem para outras regiões por conta dos custos menores", diz.

Antonio Corrêa de Lacerda, professor da PUC-SP, diz que o efeito positivo é que essa mudança ajuda muitas vezes a indústria sediada no Brasil a fazer frente à concorrência de empresas de outros países, que produzem a custos menores na Ásia e que disputam clientes com empresas brasileiras tanto no mercado interno quanto no mercado internacional. Um malefício desse processo, porém, é o fato de ele se fazer sobretudo pela guerra fiscal, um modo de descentralizar espacialmente a produção ao custo de diminuição na arrecadação de impostos de Estados e municípios.

Gabriel Ulyssea, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), tem opinião parecida. Ele afirma que "a desconcentração é desejável para reduzir as disparidades regionais, mas a guerra fiscal é um meio ruim para este fim porque introduz muitas distorções na alocação de recursos".

Para alguns economistas, esse processo costuma provocar a "guerra entre lugares". Municípios e Estados abrem mão de receita de impostos para abrigar uma empresa, mas não necessariamente o retorno em empregos e atividade econômica gerada pela empresa instalada compensam os benefícios que ela recebeu.

Apesar do deslocamento territorial da produção, há concordância entre os economistas de que São Paulo ainda é importante, sendo necessário manter parte de sua estrutura, especialmente o comando das decisões estratégicas, em São Paulo, pela sua importância como mercado consumidor e centro financeiro do país. Segundo eles, isso mostra que a desconcentração é muitas vezes específica - da produção física em si e não do núcleo da diretoria - e apenas parcial. (CVM e VJ)

Fonte: Valor Econômico

Leia mais sobre

ÚLTIMAS NOTÍCIAS

ARTICULISTAS CONTÁBEIS

VER TODOS

O Portal Contábeis se isenta de quaisquer responsabilidades civis sobre eventuais discussões dos usuários ou visitantes deste site, nos termos da lei no 5.250/67 e artigos 927 e 931 ambos do novo código civil brasileiro.