x

Prós e contras de se bancar a babá das escadas no escritório

Quando criança, morei em uma casa estreita com cinco pisos. Passei metade da minha juventude subindo e descendo degraus e, assim, me transformei em uma usuária dedicada de escadas.

25/11/2013 20:06

  • compartilhe no facebook
  • compartilhe no twitter
  • compartilhe no linkedin
  • compartilhe no whatsapp
Prós e contras de se bancar a babá das escadas no escritório

Por Lucy Kellaway

Quando criança, morei em uma casa estreita com cinco pisos. Passei metade da minha juventude subindo e descendo degraus e, assim, me transformei em uma usuária dedicada de escadas.

O único lugar em que nunca uso as escadas - a menos que precise subir apenas um piso - é no escritório. Mesmo assim, duas semanas atrás, encorajada por uma amiga, comecei a subir os 80 degraus que levam até a cantina, fazendo essa jornada várias vezes ao dia em busca de café, chocolates e Coca-Cola Diet.

Fui recompensada de várias maneiras por isso. Primeiro, geralmente é mais rápido: 55 segundos em comparação a cerca de 70 pelo elevador, assumindo umas duas paradas no caminho. Segundo, você fica agradavelmente orgulhosa. Terceiro, é a maneira menos estressante de se ter encontros casuais com colegas. No elevador, você se depara com uma interação forçada, enquanto que na escada você sorri e segue em frente. Mas o mais importante é que a iniciativa tira você da letargia.

Eis, finalmente, algo que é bom para você e não apresenta nenhuma das desvantagens da maioria das coisas saudáveis. Não tem sabor ruim, não exige roupa especial, não é inconveniente, caro ou chato, além de não exigir nenhuma habilidade ou coragem.

Mas, apesar dessas grandes vantagens, as escadas dos escritórios geralmente ficam vazias. Elas são usadas principalmente como um esconderijo, um lugar onde você telefona para seu banco, briga com o pedreiro que está fazendo uma obra em sua casa ou faz fofoca.

Na semana passada, foi lançada uma iniciativa apoiada pelo governo do Reino Unido que incentiva as pessoas a usarem escadas. No site da iniciativa na internet há pôsteres que podem ser baixados e informam aos funcionários quantas calorias eles queimam evitando os elevadores, além de um aplicativo para telefones que transforma o ato de subir e descer escadas em um tipo de jogo de computador.

Mesmo já convertida ao ato de subir e descer escadas no escritório, não tenho certeza quanto à eficácia dessa proposta. Para começar, o nome - StepJockey (Jockey de Degraus, na tradução literal) está errado. Um jockey é alguém que cavalga, algo que não se aplica ao usuário de escadas. Além disso, é algo artificial demais para uma coisa tão simples quanto passar de um andar para outro.

O pior é que o argumento sobre a queima de calorias não é nada convincente. Subo quatro andares até a cantina (queima de 15 calorias) para comprar um café expresso (200 calorias) e um chocolate (180 calorias). Os números são tão deprimentes que é melhor nem pensar neles. Quanto ao aplicativo que transforma o ato de subir e descer escadas em um jogo, não consigo imaginar como isso pode se popularizar - meu histórico aqui não é dos melhores, pois a primeira vez em que ouvi falar das mensagens de texto também achei que elas não iam pegar.

Mas o principal é que as companhias não deveriam estar nos dizendo como subir de um andar para outro. Tenho ressalvas em relação à transformação do departamento de recursos humanos da minha empresa em uma babá - embora isso se deva principalmente ao fato de eu não acreditar que ele vá fazer o serviço bem.

No entanto, na semana passada assumi a responsabilidade de bancar a babá de meus colegas. Baixei os pôsteres e os colei em todos os elevadores. Fiquei esperando dois jovens lerem o cartaz - que afirma que sete vezes mais calorias são queimadas ao se usar as escadas em vez dos elevadores. Um deles começou dizendo que o número de calorias é muito baixo e ainda estava se opondo quando as portas do elevador se fecharam às suas costas.

Mas, no período da tarde, percebi que as escadas estavam um pouco mais movimentadas. Havia dois homens subindo juntos, um deles galgando dois degraus de cada vez e falando enquanto fazia isso. Infelizmente, no fim do dia uma babá maior do que eu retirou todos os pôsteres dos elevadores.

Se as companhias realmente querem fazer com que os funcionários usem as escadas, é preciso algo mais enérgico, como tirar de serviço metade dos elevadores, forçando as pessoas sem deficiências físicas a caminhar. Nesse caso, o único ajuste necessário seria encontrar outro lugar para se discutirem trivialidades.

Praticamente qualquer outro lugar seria melhor, uma vez que uma escadaria é uma espécie de "auditório" natural e qualquer fofoca feita na parte mais alta pode ser ouvida vários pisos abaixo.

Lucy Kellaway é colunista do "Financial Times". Sua coluna é publicada às segundas-feiras na editoria de Carreira

Fonte: Valor Econômico

Leia mais sobre

ÚLTIMAS NOTÍCIAS

ARTICULISTAS CONTÁBEIS

VER TODOS

O Portal Contábeis se isenta de quaisquer responsabilidades civis sobre eventuais discussões dos usuários ou visitantes deste site, nos termos da lei no 5.250/67 e artigos 927 e 931 ambos do novo código civil brasileiro.