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Uma visão equivocada

A raiz dos problemas de alguns dos países da região situa-se a insuficiência de demanda, que estaria condenando esses países a uma estagnação permanente.

28/11/2013 05:53

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Uma visão equivocada

Paul Krugman é um importante economista e professor da prestigiosa Universidade de Princeton, nos Estados Unidos. Por suas notáveis contribuições à teoria do comércio exterior foi merecidamente agraciado com o prêmio Nobel de Economia. É também colunista do New York Times, onde escreve regularmente. Por seu trabalho como teórico da economia merece meu maior respeito e admiração. 
 
Krugman tem sido um dos mais prolíficos analistas da crise financeira europeia. O Krugman colunista, contudo, parece ser de outra encarnação. O teórico rigoroso da academia torna-se propagandista ideológico de algumas das teses mais caras aos que receitam a intervenção do governo na economia como panaceia para a solução de todos os problemas econômicos. 
 
Para ele,  estaria condenando esses países a uma estagnação permanente – invocando os mesmos argumentos de John Maynard Keynes a respeito das causas da Grande Depressna raiz dos problemas de alguns dos países da região situa-se a insuficiência de demanda, queão da década de 1930. Para Krugman,os problemas que esses países enfrentamatualmente  em nada se distinguem da situação que a quase totalidade dos países experimentaram ao longo de boa  parte da década de 1930.
 
Assim, a solução seria uma expansão da demanda promovida por uma expansão fiscal, que retiraria as economias prisioneiras da estagnação. 
 
O aumento da demanda, por inversão de uma proposição dos teóricos clássicos da economia do século 19, promoveria automaticamente o aumento da oferta – o que, por seu turno,  levaria a um aumento do emprego e da renda dos trabalhadores europeus, hoje desempregados e vivendo das benesses do estado do bem estar social.
 
Daí ele apoiar "estímulos" fiscais,  grandes déficits fiscais e a moderação de qualquer medida que vise o ajustamento das contas públicas. Não há lugar na análise propagandista de Krugman para uma inversão da origem do problema europeu – a insuficiência da oferta. Para outros analistas, contudo, a insuficiência da oferta advém de outros fatores, em especial da rigidez dos mercados de trabalho e de serviços, excessivamente regulados por uma pseudoproteção dos trabalhadores. 
 
Milton Friedman costumava dizer que a prova do pudim está em comê-lo. Os países que entenderam que poderiam acelerar o crescimento pela via pura e simples da expansão da demanda pela via do crescimento dos déficits públicos, sem o correspondente aumento da oferta – como aqueles situados na periferia da Europa – mostraram a posteriori que seus desempenhos econômicos foram sensivelmente pior que os daqueles que buscaram o caminho oposto.
 
Países como a Estônia, a Finlândia, a Alemanha, a Lituânia, Luxemburgo, Holanda, Polônia e Suécia optaram por aplicar austeros ajustes fiscais, cortando o excesso de demanda que levou aos problemas do outro grupo de países. Os ajustes fiscais no início da crise reforçaram a credibilidade dos países austeros, permitindo o acesso ao mercado internacional de capitais para a rolagem ordenada de seus endividamentos.
 
O mesmo não ocorreu com os países que implementaram políticas expansionistas. Quando a crise se abateu sobre eles, não havia como rolar suas dívidas nem cobrir seus déficit em conta corrente dos balanços de pagamento. E quando o ajuste austero chegou, o preço a pagar foi maior do que seria na alternativa do ajuste mais expedito.
 
A evidência mostra que a ideologia cegou Krugman em suas recomendações sobre o que fazer frente a uma crise de natureza fiscal que se transforma em uma crise da dívida e do balanço de pagamentos. Entre nós,  muitos ainda advogam um receituário semelhante ao de Krugman para nos recolocar no caminho da retomada  do crescimento. 
 
Um dos romances de André Gide tinha por título A porta estreita,e faz  uma referência à passagem bíblica, que completava: "largo é o caminho que conduz à perdição". Esse parece ter sido o caso das economias que seguiram os conselhos de Paul Krugman.
 
Roberto Fendt

Fonte: Diário do Comércio – SP

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