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Um toque feminino no poder

As mulheres conquistaram os bancos das universidades, ocuparam postos no mercado de trabalho e ganharam, merecidamente, um pouco de respeito em profissões ditas "masculinas". Falta superar as barreiras que impedem ocupar o alto escalão...

29/11/2013 05:58

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Um toque feminino no poder

As mulheres conquistaram os bancos das universidades, ocuparam postos no mercado de trabalho e ganharam, merecidamente, um pouco de respeito em profissões ditas "masculinas". O que falta agora é superar as barreiras que as impedem de ocupar o alto escalão das empresas. Hoje, no Brasil, elas representam apenas 14% dos cargos de alta gerência e 4% no posto de principal executiva das companhias, ou CEO.
 
Para discutir essa situação, um grupo delas se reuniu nesta semana na terceira edição do Fórum Mulheres em Destaque. Durante o evento, duas consultorias apresentaram pesquisas que corroboram a importância da mulher dentro das companhias e as dificuldades que enfrentam. Uma delas, da McKinsey & Co. relativa à América Latina, revela que as empresas com ao menos uma mulher no comitê executivo ou no conselho de administração apresentam o indicador Ebit (o lucro antes de juros e tributos) 50% maior. O estudo ouviu mais de 500 executivos, analisou a composição de mais de 300 comitês executivos e conselhos de empresas e entrevistou 40 CEOs.
 
O outro estudo, da Bain & Company, aponta que 66% das mulheres têm ambição de crescer nas empresas. O evento também reuniu mulheres que são um exemplo na gestão e na discussão desses assuntos, como Luiza Helena Trajano, diretora-presidente do Magazine Luiza, e Alessandra Ginante, vice-presidente de Recursos Humanos da Avon.
 
"Mulher torce por mulher"
 
À frente da rede que leva seu nome, Luiza Helena Trajano diz que gostaria de ver o crescimento do número de mulheres no alto escalão das empresas. "Faço parte do conselho, mas na verdade não gosto muito. Sou mais de fazer as coisas do que de pensar. Faço isso pelas minhas colegas", confessa. De seis integrantes do conselho de administração do Magazine Luiza, duas são mulheres. 
 
Com formação em Direito, Luiza é sempre lembrada pelas iniciativas inovadoras e pioneiras. Quando não se pensava tanto nas lojas virtuais, ela já havia lançado a do Magazine Luiza na internet, em 1991. Depois, lançou a liquidação fantástica, na qual as lojas abrem às 5h. Também foi dela a ideia de descentralizar o poder dos gerentes das lojas, para que tomem decisões mais rapidamente. 
 
Luiza diz que aprendeu com a mãe a pensar sempre em soluções e nunca nos problemas. Filha única, começou cedo a se interessar pelo trabalho e, aos 12 anos, passava as férias escolares na loja de seus tios. Trabalhou nos departamentos de cobrança, gerência, vendas, direção comercial, tornou-se superintendente em 1991 e presidente em 2009. 
 
Hoje, dos 23 mil colaboradores do Magazine Luiza, 53% são mulheres. Na entrevista a seguir, ela fala sobre o que tem feito para ajudar outras mulheres e sobre suas expectativas para 2014. Ela diz que a rede está pronta para as oportunidades, pois inaugurou 13 lojas neste ano, atingindo um total de 743 pontos de venda em 16 estados brasileiros. 
 
Diário do Comércio – Como surgiu a ideia de um grupo de empresárias ir à Brasília?
Luiza Helena Trajano – Você sabe que mulher torce por mulher. Recentemente estive com a ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, e ela sugeriu que eu montasse um grupo de empresárias. Reunimos 50 mulheres e ficamos três horas conversando com a presidente Dilma, que abriu todos os ministérios para apresentarmos projetos para o Brasil, na área de educação e em prol das mulheres. 
 
DC – Quais são os projetos?
LHT – Estamos trabalhando em quatro. Um está relacionado à área de capacitação, ou seja, no que as companhias podem fazer para ajudar a melhorar a educação no País. Outro projeto será sobre cotas para mulheres nos conselhos de administração das companhias. Nos países desenvolvidos, como a Noruega, a participação das mulheres é maior porque existem cotas. As executivas brasileiras acabam sendo convidadas para integrar conselhos fora do País. A ideia é que o atual percentual de 7% de mulheres nos conselhos das empresas brasileiras passe para 15% em 2014 e para 20% em 2016. Outro projeto é específico para a micro e pequena empresa. Mas não posso mais comentar. Divulgamos quando estiver formatado. 
 
DC – Como empresária, o que espera para 2014?
LHT – Será o ano em que vamos ter a única Copa do Mundo que minha geração verá no Brasil. Por isso, vamos aproveitar a oportunidade que isso vai gerar aqui. Para as mulheres empreendedoras, a dica é que invistam em um negócio pelo qual sejam apaixonadas. Eu sou apaixonada pelo varejo. Ganho para me divertir. 
 
DC – Como ficou a integração das lojas do Baú? 
LHT – A integração acabou e agora vamos colher os frutos. 
A expectativa agora é crescer no Nordeste, onde o processo de integração também está no fim, depois de um período de dois anos. 
 
DC – Recentemente o Magazine Luiza entrou no segmento de cosméticos. Por que esse mercado?
LHT – O Brasil vende muita perfumaria e está ficando quase igual ao Japão. Compramos uma distribuidora parceira nossa para vender produtos pela internet. É uma empresa que já conhecíamos. 
 
DC – Outro projeto recente no e-commerce foi a criação do Magazine Você, no qual as pessoas podem criar suas lojas em um perfil na rede social (Facebook ou Orkut) e receber comissões pela venda de cada produto. Como está o desempenho?
LHT – Esperávamos dez mil ou 15 mil perfis vendendo nossos produtos, mas alcançamos 120 mil lojas na rede social. Primeiro fomos a primeira loja virtual, em 1991. Saímos na frente e não tivemos medo de ser copiados. O importante é inovar sempre. 
 
“Não queremos criar ilhas”
 
Uma companhia de mulheres para mulheres. Não poderia ser diferente na Avon, fabricante de cosméticos que se preocupa com a equidade de gênero nos quadros da empresa, com medidas para evitar que mais mulheres ou homens sejam maioria em todos os níveis hierárquicos. A marca tem mais de 127 anos de existência, e está há 55 no Brasil, mas com uma história escrita por mulheres. Por aqui, um exército de 1,5 milhão de revendedoras atende diretamente às consumidoras dos produtos da marca e responde por boa parte do sucesso do mercado brasileiro nos resultados da empresa, que está presente em 100 países.

"O Brasil é nossa operação número um no mundo em faturamento e lucratividade. O que estamos fazendo é recuperar toda a força, a energia e a relevância da marca Avon, para que volte a ter o brilho de oito anos atrás, quando éramos uma marca muito relevante e forte", diz David Legher, CEO da empresa. Ele diz que a estratégia será o desenvolvimento de novos produtos exclusivamente para a mulher brasileira e com 75% da matéria-prima nacional. 
 
Alessandra Ginante, vice-presidente de Recursos Humanos da Avon diz que a equidade de gênero na empresa é uma cultura. "É importante porque traz a diversidade de ideias, com pessoas que olham para as mesmas questões por ângulos diferentes. Não queremos criar ilhas de mulheres e nem de homens dentro da empresa porque isso não traz o intercâmbio nas formas de pensar e de agir", explica. 
 
Antes de ingressar na Avon, há um ano, Alessandra ocupou o mesmo cargo na Philips, empresa na qual trabalhou por 13 anos. Formada em Administração e mestre em Recursos Humanos, Alessandra explica, na entrevista a seguir, como consegue equilibrar homens e mulheres em uma empresa feminina. 
 
Diário do Comércio – Como é a composição do quadro de funcionários?
Alessandra Ginante – Em nosso quadro de funcionários, 62% são mulheres. Desse total, 45% das líderes são mulheres e no nosso conselho de administração global, 60%. Nos grandes números da nossa empresa, não existe lacuna de gênero, mas temos dois objetivos. Um deles é não ter lacunas no futuro e, por isso, cuidamos para que o bom trabalho feito seja mantido. Se as organizações não prestarem atenção para a questão da diversidade, acabam tendo uma dominância masculina, dado todo preconceito que ainda existe. O segundo objetivo é compartilhar com outras organizações o que fazemos para que também possam atingir os mesmos patamares.
 
DC – Por que a Avon se preocupa tanto com a diversidade? 
AG – A diversidade de gêneros dentro da empresa não é filantropia e sim uma estratégia de interesse econômico. Medimos tudo para fazer o certo. Duvido que teríamos as ideias e que nossos produtos tivessem o apelo que têm para as consumidoras se na empresa a maioria dos funcionários fossem homens. Por isso, a diversidade na Avon é equânime em todos os departamentos. Em finanças, 50% do nosso quadro é formado por mulheres. Há homens no RH e no marketing. Temos um processo estruturado e semestral no qual analisamos todas as áreas da empresa e níveis hierárquicos. Observamos a quantidade de homens e de mulheres, e os respectivos salários médios. 
 
DC – O que acontece quando há diferenças na quantidade de homens e mulheres?
AG – O que a gente faz é simples, mas a análise é bem profunda. Quando detecto um desequilíbrio em algum nível hierárquico, com mais homem ou mais mulher, determino que as próximas vagas serão para o gênero que precisa trazer para balancear. Conseguimos trazer pessoas muito competentes de ambos os gêneros. Quando observamos uma diferença salarial, verificamos se o tempo médio no cargo é similar, porque isso influencia o quanto a pessoa ganha. A diferença de salário não é justificada pelo preconceito e, na verdade, é fundamentada pela menor experiência de um gênero em relação ao outro. Se o tempo de permanência no cargo e o desempenho dos profissionais forem os mesmos, corrigimos os desvios na próxima revisão de salários.

Fonte: Diário do Comércio - SP

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