Se o cenário fiscal está difícil em 2013, não será muito diferente em 2014. Em pleno ano eleitoral, o governo terá pouco espaço para cortar gastos que, segundo a proposta orçamentária, subirão 8,5% e atingirão nada menos que R$ 1,298 trilhão. O comportamento da arrecadação, por sua vez, é incerto. Dependerá do desempenho da economia, que não deve crescer muito, e de receitas extraordinárias que são difíceis de prever. O Orçamento de 2014 estima um aumento de 8,9% na arrecadação total, que deve ficar em R$ 1,022 trilhão
Analistas consideram que a meta de superávit fiscal primário (economia para o pagamento de juros) com que o governo se comprometeu, de 2,09% do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país) - já considerando um abatimento de R$ 58 bilhões, ou 1,1% do PIB, com desonerações e investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) - é pouco realista. Estudo da Consultoria de Orçamento e Fiscalização Financeira da Câmara dos Deputados indica que, assim como em 2013, estados e municípios não conseguirão, em 2014, realizar todo o esforço fiscal fixado na proposta orçamentária, de R$ 51,3 bilhões, ou 0,98% do PIB. Assim, considerando os abatimentos da União e o esforço fiscal menor dos governos regionais, o primário de 2014 cairia para 1,56% do PIB.
Esse é um cenário mais realista para o ano que vem - disse um técnico da consultoria.
Ao mesmo tempo, a equipe econômica terá que lutar para reconquistar a confiança do mercado na política fiscal conduzida por Arno Augustin e que é questionada inclusive por técnicos do Tesouro Nacional. Os críticos afirmam que o governo errou ao não reduzir a meta de superávit primário em 2012 e 2013 e fazer uma série de manobras - como antecipar dividendos de estatais e sacar recursos do Fundo Soberano - para fechar as contas.
O quadro fiscal vem preocupando fortemente a presidente Dilma Rousseff, que tem se reunido com os ministros da Junta Orçamentária - Mantega, Gleisi Hoffmann (Casa Civil) e Miriam Belchior (Planejamento) - para definir que sinalização dar ao mercado sobre a política fiscal.
- Com certeza existe uma preocupação dentro do governo com a questão fiscal. O governo sabe que tem que dar sinais para o mercado e fazer um primário crível - disse um interlocutor da presidente. (Colaborou Danilo Fariello)
Fonte: O Globo Economia