x

Selic não atrai investidores nem reduz inflação

A análise é feita por economistas e especialistas do mercado que apontam a necessidade de medidas complementares

17/01/2014 11:20

  • compartilhe no facebook
  • compartilhe no twitter
  • compartilhe no linkedin
  • compartilhe no whatsapp
Selic não atrai investidores nem reduz inflação

Rio - A nova alta da Selic, embora louvada por economistas e especialistas do mercado, não será suficiente para atrair de volta os investidores financeiros que estão partindo para aplicações mais seguras em outros países nem para baixar a inflação para o centro da meta. Para esses profissionais, será preciso combinar outras medidas que resgatem a confiança dos agentes econômicos no Brasil.

O comportamento dos mercados de câmbio e juros demonstrou isso ontem. As taxas dos títulos de swap atingiram o nível mais alto em três meses, com os títulos de vencimento em janeiro de 2015 subindo 19 pontos base. O dólar no mercado à vista, que começou o dia caindo, terminou a sessão em alta de 0,35%, influenciado por operações de saída de recursos do país. Os contratos de juros futuros também subiram e a taxa DI para janeiro de 2015 chegou a 10,93%.

"O efeito da alta dos juros sobre a inflação é fraco. Os canais de transmissão da alta de preços passam por outros fatores, como o mercado de crédito, por exemplo, e as expectativas dos agentes econômicos", disse o professor do Instituto de Economia da Universidade de Campinas (Unicamp), Pedro Rossi.

Concorda com ele a economista e sócia da Tendências Consultoria Alessandra Ribeiro, para quem a eficácia da polític amonetária está sendo afetada pela atuação dos bancos públicos."O crédito subsidiado oferecido por eles pouco se abala coma subida da Selic", explicou ela.

Esse baixo impacto fica demonstrado nas projeções da Associação Nacional dos Executivos de Finanças Administração e Contabilidade (Anefac). As taxas para empréstimo pessoal tomadas em banco, por exemplo, que estavam em média a 3,20% ao mês, passam agora a 3,24%, alterando pouco as prestações. O mesmo ocorre com os empréstimos tomados em financeiras, que sobem da média de 7,16% para 7,20%. O juro do cartão passa de 9,37% para 9,41% e o CDC para financiamento de automóveis, de 1,65% para 1,69%.

Para Rossi, a nova alta da Selic não atrai ne mmesmo os investidores financeiros. "Eles não respondem ao simples aumento das taxas de juros, mas à expectativa de rentabilidade", explicou.

Não é o que pensa o economista da Rosenberg Partners, Luiz Eduardo Mello, que destaca a rentabilidade das letras do Tesouro - estão rendendo IPCA mais 6,75% ao ano pelas próximas duas décadas. "Isso é extremamente atraente. Difícil o investidor internacional achar ativo melhor oferecido por outros países do mundo com a mesma qualidade econômica que temos no Brasil".

Mas para o economista e pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Vinícius Botelho, a nova subida da Selic serviu apenas para o BC mostrar que "não está satisfeito com o atual nível da inflação", já que a percepção de risco sobre o Brasil subiu muito e se descolou dos indicadores de México e Colômbia, países com os quais o Brasil é comparado. "Os investidores percebem uma dificuldade das autoridades no manejo da política fiscal e promoveram esse descolamento. É a resposta para o superávit primário que não abate a dívida", disse Botelho.

O economista-chefe do Espírito Santo Investment Bank (Besi), Jankiel Santos, entende que o processo de subida recente dos juros trouxe resultados. "Não fosse a alta, a inflação teria estourado o teto da meta. Em meados de 2013, a taxa anualizada passou dos 6,5%". O especialista destaca, porém, que o centro da meta está muito longe de ser alcançado. "No patamar atual, a Selic não é suficiente. Imagino que se a intenção é trazer a inflação para o centro da meta, a taxa básica ideal seria em torno de 12,5% a 13%, um ajuste bem mais pesado do que parece estar em curso".

Os economistas acreditam, no entanto, que não basta subir a Selic. "É necessária uma série de outras medidas para resgatar a confiança dos investidores, especialmente na área fiscal, com o governo mostrando como vai fazer para voltar à dinâmica anterior de gerar superávit primário suficiente para abater a dívida pública", disse o economista da FGV. Para ele, tem havido uma deterioração das expectativas de inflação e da economia porque o governo está tendo dificuldade de transmitir boas perspectivas.

Nessa mesma linha, o professor da Unicamp sugere que o governo trabalhe com bandas para as metas fiscais, o que permitiria atuação anticíclicas, poupando mais quando a receita aumenta e investindo mais quando a arrecadação cai. "Mas é preciso cuidar do mercado de derivativos de câmbio, onde vemos investidores institucionais e estrangeiros com grandes posições em aberto, especulando contra o real", disse Rossi.

Projeções apontam que alta da Selic desacelera para 0,25 ponto em fevereiro

A taxa de juros deverá manter sua trajetória de alta, mas em um ritmo menos agressivo. As seis instituições do mercado ouvidas pelo Brasil Econômico foram unânimes em apontar uma alta de 0,25 ponto percentual (p.p.) na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), marcada para os dias 25 e 26 de fevereiro.

As corretoras Ativa e XP, os bancos Barclays e Espírito Santo Investment Bank (Besi), além das consultorias Rosenberg e Tendências acreditam que o ciclo de altas, que já dura sete reuniões, ainda não acabou.

Jankiel Santos, do Besi, acredita que a diminuição no ritmo do aperto será escorada em resultados mais claros da subida recente dos juros. A tradicional defasagem entre o aumento da taxa e seu efeito na economia deve estar menos intensa em fevereiro, quando o ciclo de altas completará 10 meses.

"Há espaço para uma subida mais modesta", aponta Alessandra Ribeiro, economista e sócia da consultoria Tendências. Ela se debruçou sobre o comunicado do Banco Central, divulgado após a última reunião, para projetar uma nova alta de 0,25 ponto percentual. "Na primeira frase do texto, o comitê usou os termos ‘dando prosseguimento' ao ajuste e ‘neste momento', que passou a ideia de que amanutenção da alta em 0,5 ponto percentual foi pontual e não deve se repetir". O comunicado tem duas frases apenas.

Luiz Eduardo Mello, da Rosenberg Partners, aposta em nova alta, mantendo a sequência que pode chegar a, no máximo 11%. "Como o Copom foi mais agressivo nessa, é provável quena próxima não seja necessária uma alta tão robusta". Mello, inclusive, arrisca um limite para o processo atual de elevações da taxa básica de juros da economia: 11%.

De acordo com a XP Investimentos, "há sinais de que o ciclo de aperto monetário não terminou, podendo na próxima reunião ter um ajuste de 0,25 ponto percentual", afirmou a instituição em relatório para clientes.

O Barclays também acredita em nova alta em fevereiro. "Embora a decisão tenha nos surpreendido, e ao consenso dos economistas do mercado, que esperavam que o Copom reduzisse o ritmo das altas para 25 pontos base, festejamos o movimento, uma vez que confirma o compromisso do BC de trazer a inflação para baixo. Acreditamos que o BC ainda deixou a porta aberta para novos aumentos, e ficará muito dependente dos dados econômicos nas próximas reuniões", trouxe o relatório. Todos os especialistas ouvidos fizeram a mesma ressalva.

A taxa de juros básica da economia brasileira permaneceu estacionada em 7,25% de outubro de 2012 até março do ano passado, o seu menor patamar nos últimos 17 anos. Desde então, a Selic veio sendo corrigida pelo Copom. A primeira alta, de 0,25 ponto percentual, foi decidida na reunião de abril de 2013. A partir do encontro seguinte, no entanto, a cadência da subida aumentou junto como clima de insegurança dos investidores na economia e pela pressão inflacionária. Nas reuniões de maio, julho, agosto, outubro, novembro e, mais recentemente, em janeiro de 2014, os integrantes do comitê decidiram por elevar a taxa em 0,5 ponto percentual a taxa de referência dos juros

Fonte: Brasil Econômico

Leia mais sobre

ÚLTIMAS NOTÍCIAS

ARTICULISTAS CONTÁBEIS

VER TODOS

O Portal Contábeis se isenta de quaisquer responsabilidades civis sobre eventuais discussões dos usuários ou visitantes deste site, nos termos da lei no 5.250/67 e artigos 927 e 931 ambos do novo código civil brasileiro.