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A retomada dos investimentos

Apesar do mau humor do mercado financeiro, a demanda por bens de capital dispara e o País atinge o maior nível de produção de bens de capital em 25 anos.

20/01/2014 09:11

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A retomada dos investimentos

A batida do martelo no primeiro leilão do pré-sal, em outubro do ano passado, não foi motivo de comemoração apenas para a anglo-holandesa Shell, a francesa Total, as chinesas CNPC e CNOOC e a Petrobras. Muitos fornecedores esfregaram as mãos em sinal de satisfação diante das oportunidades que surgirão nos próximos anos na exploração e produção de petróleo na área de Libra, na Bacia de Santos. É o caso da americana FMC Tecnologies, que fabrica dois tipos de equipamentos específicos utilizados na retirada do óleo a 2.000 mil metros no nível do mar: um, conhecido como árvore de natal, e outro, como manifold submarino. 

 

Para ir fundo: máquina para exploração do pré-sal, da FMC, que investiu
R$ 200 milhões para se modernizar
 
De olho nesse mercado promissor, a empresa investiu R$ 200 milhões na modernização de seu parque fabril, no Rio de Janeiro, e criou um centro de tecnologia. Em 2013, concentrou seus esforços na produção das encomendas feitas por seu principal cliente, a Petrobras. “Acreditamos que a estatal vai aumentar seus pedidos, impulsionados pelo pré-sal”, diz José Mauro Ferreira, diretor comercial da empresa no Brasil. Se depender da estimativa do BNDES para o setor de óleo e gás – crescimento de 4% ao longo dos próximos quatro anos, movimentando R$ 458 bilhões –, a aposta parece ser certeira. 
 
Os esforços da FMC Tecnologies para aumentar a produção também se espalharam por outros setores e deram uma forcinha ao PIB brasileiro no ano passado – o dado oficial será divulgado pelo IBGE apenas no fim de fevereiro. De acordo com um levantamento da LCA Consultores, a taxa de investimento na economia como proporção do PIB, conhecida como Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), atingiu o maior patamar em 25 anos. A expectativa da consultoria é de que esse valor fique na casa dos 18,9% do PIB, em 2013, 0,8 ponto percentual a mais do que no ano anterior. “A despeito da volatilidade ano a ano, nota-se claramente que a taxa de investimento começou a mudar”, diz Bráulio Borges, economista-chefe da LCA. 
 
Fruto do aumento gradual da confiança dos empresários, a retomada dos investimentos significa uma transformação fundamental no perfil do crescimento do País, até aqui dependente em demasia do consumo das famílias. De acordo com o IBGE, o carro-chefe dos investimentos está no setor de transporte, que teve alta de 20,2% entre janeiro e novembro de 2013. Ajudou nesse resultado o crescimento de 43,1% na produção de caminhões, um dos itens que integram a FBCF. Outros segmentos também se destacaram, como a produção de bens de capital para fins industriais, que cresceu 9% no mesmo período. Já a safra histórica de 188,2 milhões de toneladas de grãos, 16,2% superior à de 2012, produziu um recorde de vendas e produção de máquinas agrícolas.
 
Para abastecer as fazendas, a fabricante americana de tratores, pulverizadores e plantadeiras AGCO investiu R$ 65 milhões na modernização de uma de suas unidades no Rio Grande do Sul. O vice-presidente sênior da AGCO para a América Latina, André Carioba, projeta um cenário positivo. “Vamos investir em novos produtos ao longo de 2014”, diz Carioba. Outra companhia americana que aproveitou o boom agrícola foi a Cargill, que investiu R$ 52 milhões na modernização de duas fábricas de óleos especiais e gordura: uma em Itumbiara, em Goiás, e outra em Mairinque, no interior paulista. 
 

Novos produtos: Carioba, da AGCO, investiu R$ 65 milhões e se prepara para os lançamentos de 2014 
 
“Queremos capturar mais clientes e aumentar a nossa participação de mercado”, diz Rafael Simões, gerente comercial de ingredientes da empresa. Já a fabricante cearense de massas e biscoitos M Dias Branco destinou R$ 350 milhões no triênio 2012-2014 para equipamentos, reformas, ampliações e construção de três plantas industriais na área de moinhos. A partir de 2014 entrarão em operação uma linha de produção de torradas e uma unidade de mistura para bolos. “No segundo semestre, estaremos preparados para um crescimento mais forte”, diz Luiz Eugênio Lopes Pontes, diretor da M Dias Branco. Apesar da alta em relação a 2012, quando a taxa de investimento chegou a 18,1% do PIB, o nível de investimento está aquém do necessário. 
 
O Brasil segue atrás de países como Argentina, China e Índia. Por outro lado, as concessões em infraestrutura e as Parcerias Público-Privadas (PPPs) podem provocar um efeito positivo na agenda em 2014. “É isso que vai desatar os nós e fazer com que as inovações, que são a base do crescimento, deslanchem”, diz Rubens Penha Cysne, diretor da Escola de Economia e Finanças da FGV do Rio do Janeiro. Os investimentos de R$ 75,8 bilhões das montadoras no período de 2013 a 2017 também contribuirão para que a relação FBCF/PIB chegue a 22,2% do PIB (leia quadro "Futuro promissor"). Manter o nível de investimentos aquecido daqui para a frente é a prioridade do governo. Para isso, o BNDES já anunciou que os juros do PSI-Finame, linha de crédito para bens de capital, serão de 6% ao ano em 2014. 
 
Descontada a inflação, o juro real é quase zero. No entanto, uma pesquisa feita pela consultoria Grant Thornton International Ltd, no último trimestre de 2013, apontou que 47% dos empresários estão dispostos a investir em máquinas, 20 pontos percentuais a menos em relação ao levantamento feito nos três meses anteriores. A explicação, segundo o especialista Leandro Scalquette, deve-se ao cenário de incerteza econômica, à falta de mão de obra qualificada, de infraestrutura e de um ambiente regulatório seguro. “Os planejamentos de negócios tornam-se mais conservadores e a preferência agora é cautela”, afirma Scalquette. Para que a taxa de investimentos atinja 20% do PIB nos próximos anos, avaliam especialistas, será necessário estabelecer um conjunto de regras que contemplem segurança fiscal e jurídica aos investidores. 
 
“O governo tem de rever juros, logística, câmbio e acabar com a burocracia”, diz Carlos Pastoriza, diretor da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq). Na mesma linha, o professor Paulo Roberto Feldman, da USP, afirma que não se deve impor limites para as taxas de retorno dos grandes projetos de infraestrutura. “O governo tem se empenhado em mostrar que somos confiáveis, mas as taxas de retorno ainda são baixas no Brasil”, diz Feldman. A lição já foi aprendida pela equipe econômica, que obteve bons resultados nos leilões de concessões de rodovias e aeroportos feitos recentemente. Falta deslanchar o restante da infraestrutura para que a roda dos investimentos não pare de girar.
 
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Fonte: ISTOÉ

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