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Não entre nesse clube

Você pode ser uma vítima potencial de fraudes e da ação dos golpistas. Saiba se o seu perfil de risco o torna um alvo preferencial dos caçadores de patos

31/03/2014 04:38

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Não entre nesse clube

Imagine a cena. Depois de um dia infernal no escritório, você resolve espairecer planejando sua viagem de férias. Ao buscar por passagens, encontra uma página com uma promoção que oferece uma viagem, no dia desejado, pela metade do preço. Há poucos lugares disponíveis e você, sem querer perder a oportunidade, compra o bilhete. Para garantir a aquisição, trata de digitar os 16 números do seu cartão de crédito e mais os três algarismos do código de segurança. Parece bom demais para ser verdade. E é mesmo. Parabéns! Você acabou de engordar as estatísticas das fraudes financeiras. 

Os dados do seu cartão foram capturados e serão usados para bancar as compras caríssimas do fraudador em lojas de luxo. Pior, eles poderão ser vendidos em leilões nos cantos mais sombrios da internet para criminosos internacionais – em sua maioria mafiosos russos, chineses e americanos – que vão debitar a compra de pornografia on-line, programas, música e transferência de dinheiro na sua conta. “A criação de sites falsos de vendas de passagens, com o único objetivo de capturar dados de usuários incautos de cartão, é a modalidade de fraude que mais vem crescendo no comércio digital”, diz Fernando Souza, Fernando Souza, diretor-geral da CyberSource no Brasil. 

A Cybersource é uma empresa americana comprada pela Visa em 2012 para desenvolver proteção contra fraudes nas transações financeiras. Segundo estimativas da Cybersource, o negócio dos fraudadores de cartão na internet brasileira vai bem, obrigado. As transações do comércio digital, nova classificação que inclui não apenas o tradicional comércio eletrônico, como também clubes de compras e operações entre empresas, movimentou R$ 50 bilhões em 2012. As estimativas preliminares de 2013 indicam um crescimento de 28%, para algo como R$ 64 bilhões. Desse total, pouco mais de 1%, ou R$ 650 milhões, foram desviados por meio de fraudes. 
 
“Se fosse uma empresa, a fraude nas transações via internet seria uma das maiores companhias brasileiras”, diz Souza. As fraudes passam por vários caminhos, como a venda de produtos falsificados ou de combustíveis, bebidas e alimentos adulterados. Incluem pirâmides financeiras, garantias que não funcionam, compra de premiações falsas. Como evitá-las? DINHEIRO teve acesso, com exclusividade, a uma pesquisa do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) sobre o perfil dos fraudados. Realizada com 665 entrevistados das 27 capitais brasileiras na segunda quinzena de fevereiro, a pesquisa levantou qual o perfil e quais as características das pessoas com grande probabilidade de cair em contos do vigário.

Algumas das constatações da pesquisa são preocupantes. O brasileiro é bastante propenso a ser fraudado. Do total de entrevistados, 83% têm um perfil de risco “médio” e “alto” de ser fraudados, o que indica que a cultura nacional não estimula um maior cuidado com as compras e as finanças. “O brasileiro tende a ser descuidado com suas informações e a desrespeitar regras em troca de vantagens, e isso o induz a ser fraudado”, diz Bruno Lozi, gerente de alianças para prevenção de fraudes do SPC. “Essa é uma característica universal: não há diferença entre homens e mulheres, nem entre casados, solteiros e divorciados.” (leia um resumo das conclusões no quadro ao final da reportagem)
 
Não é novidade para ninguém que o brasileiro é um cultor incondicional do jeitinho e que gosta de levar vantagem em tudo, como já pregava a chamada “Lei de Gerson”, mas a pesquisa traz uma conclusão surpreendente. Renda e escolaridade também são irrelevantes. O cidadão que passou décadas nos bancos escolares e ganha vários milhares de reais por mês e aquele que estudou pouco e conta as moedas para chegar no fim do mês têm a mesma probabilidade de ser lesados. Onde está, então, a diferença? “No comportamento individual”, diz Luiza Rodrigues, economista do SPC que elaborou a pesquisa. 
 
Assim, o alvo preferencial dos vigaristas não é uma abstração, é um sujeito muito parecido com o vizinho do apartamento ao lado. É o motorista que não fica intrigado ao abastecer o carro com um combustível 15% mais barato do que a média, em um posto de bandeira desconhecida e sistematicamente desrespeita as leis de trânsito. É o descuidado que usa a mesma senha em todas as páginas de banco e acredita que usar programas antivírus é uma bobagem. Há mais características, que têm pouca relação com o mundo financeiro. 

“Quem aceita qualquer desconhecido em uma rede social, confirma dados como RG e CPF pela internet em qualquer página, compra produtos falsificados de camelôs ou em shoppings populares é um candidato a ser fraudado”, diz Luiza. O hábito de pagar contas em computadores públicos ou utilizando conexões de internet sem fio abertas também indica que o cidadão vai engordar as estatísticas. Você se identificou com algum desses perfis e está com uma vontade incrível de virar a página? Não faça isso – ainda. A boa notícia é que os maus hábitos são fáceis de evitar. Basta tomar alguns cuidados simples. 
 
Não emprestar seu cartão de crédito nem seus dados financeiros para outra pessoa e instalar antivírus no computador e também no celular (nessa você, provavelmente, não havia pensado). Outra recomendação simples é anotar as despesas feitas com os cartões de crédito e débito, e conferi-las quando a fatura ou o extrato do banco chegarem. E, principalmente, desconfie de milagres. Quem adverte é um especialista no assunto, o consultor em segurança americano Frank Abagnale Jr. Ele é um fraudador notório. Preso, tornou-se consultor de empresas e do próprio FBI americano. 
 
Interpretado pelo ator Leonardo de Caprio no filme Prenda-me se for capaz (Catch me if you can), de 2002, Abagnale estará no Brasil para o lançamento de um sistema de segurança pela Serasa Experian, tendo em vista o aumento dos riscos de fraudes com cartões devido à realização da Copa do Mundo. Ao comentar as fraudes em um depoimento no Congresso americano, ele foi bastante didático. “Nenhum dos crimes e fraudes pela internet que eu investiguei foi inteiramente criado por um mestre da fraude em Moscou ou Pequim”, disse Abagnale. “Todos começaram com um internauta em casa ou no escritório lendo um e-mail ou navegando por uma página que não devia.”
 
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Por Cláudio GRADILONE

Fonte: Isto É Dinheiro

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