As recorrentes quedas de energia ocorridas neste verão no Rio Grande do Sul geraram prejuízos às empresas gaúchas e elevaram a preocupação com a capacidade de fornecimento energético não só no Estado mas em todo o País, o que possivelmente impactaria sobre a demanda local. Essa percepção foi repassada por entidades empresariais na tarde de ontem, na Assembleia Legislativa, durante a reunião da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Energia Elétrica.
Entre os relatos prestados, o diretor de Relações Institucionais da Associação Comercial e Industrial de Novo Hamburgo, Marco Aurélio Kirsch, detalhou prejuízos relacionados por empresas locais. “Uma empresa de TI ficou sem fornecimento de energia de 31 de janeiro a 5 de fevereiro, com total falta de informação da AES Sul”, exemplificou. O período mencionado por Kirsch registrou ocorrência de temporal, prejudicando empresas de diversos ramos. No caso do exemplo citado, as perdas ficaram estimadas em R$ 80 mil.
A indústria calçadista não sentiu o mesmo impacto com as interrupções, porque as empresas são orientadas a manter geradores, comentou o presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), Heitor Klein. Mesmo sem o prejuízo auferido, o setor reitera preocupação com o fornecimento de energia no Estado.
Mais preocupados em identificar soluções do que em reclamar perdas, os representantes ressaltaram que a CPI deve atentar para os riscos iminentes. Mesmo afetando a região Centro-Sul do País, a estiagem foi destacada como preocupante. “Eu acho que a coisa vai piorar bastante. O Rio Grande do Sul está na ponta do sistema. Em caso de problema no Sudeste, quem será privilegiado? Isso já aconteceu no governo Fernando Henrique Cardoso e é possível que aconteça novamente”, declarou o engenheiro elétrico, Fernando Luiz Portilla, representando o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio Grande do Sul. Portilla defende o uso do carvão como uma alternativa viável para o Estado.
Kirsch ressaltou que basta observar o modelo de abastecimento do País para verificar a deficiência de fornecimento. “Depois do apagão de 04 de fevereiro, que afetou 13 estados, cortou-se a energia de um lugar e abasteceu-se aquele considerado mais importante. Isso mostra que o sistema cresceu desordenadamente.”
Representando a Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs), Edilson Deito lembrou que avanços do setor energéticos têm sido prejudicados por embargos ambientais recorrentes. Deito salientou a importância de convidar “órgãos que contribuíram para o atraso de obras” para debater soluções num cenário não muito animador apontado pela entidade, que ressalta haver um ponto de desequilíbrio entre demanda e oferta.
O presidente da CPI, deputado Lucas Redecker (PSDB), destacou que a Fepam já foi convidada a participar de futuras oitivas, que contarão, ainda, com a presença de representantes de empresas e entidades vinculadas ao setor energético.
Reforço na transmissão beneficiará geração eólica
Jefferson Klein
A perspectiva de investimentos no sistema de transmissão de energia no Rio Grande do Sul tem animado os empreendedores do segmento de geração, principalmente, os da fonte eólica. Uma dessas companhias é a CPFL Energias Renováveis, que opera o complexo eólico Atlântica, em Palmares do Sul, com capacidade instalada total de 120 MW (cerca de 3% da demanda média de energia do Estado).
O diretor de engenharia e obras da empresa, João Martin, salienta que deverão ser realizadas obras de transmissão na Metade Sul e na região de Osório (áreas relevantes quanto à produção eólica), que melhorarão o escoamento da energia. Entre as iniciativas, o dirigente cita a linha que está sendo construída entre Santa Vitória do Palmar e Rio Grande (empreendimento de 525 kV, desenvolvido pela Eletrosul e Grupo CEEE). Martin reitera que a carência de infraestrutura, fundamentalmente, quanto à limitação no sistema de transmissão, é um dos maiores obstáculos a ser superado para a expansão da geração eólica no País.
No caso do Rio Grande do Sul, o foco da CPFL Energias Renováveis quanto à ampliação da produção eólica está no entorno de Palmares do Sul e também na Fronteira Oeste e no Litoral. Martin adianta que existem outros projetos sendo prospectados pelo grupo no Estado que poderiam mais que duplicar a capacidade eólica da empresa na região. Essas iniciativas estão em fase de medição de ventos, regularização fundiária etc. O dirigente ressalta que há dois caminhos possíveis para viabilizar esses empreendimentos o ambiente regulado (com a energia vendida em leilões) e o mercado livre (formado por grandes consumidores que podem escolher de quem comprarão a energia).
O fato do Brasil passar por um período de escassez de hidreletricidade também pode abrir mais oportunidades para as fontes alternativas. Martin argumenta que, para melhorar a capacidade de suprimento, é necessário diversificar a matriz de energia elétrica. “Há espaço para muitas fontes, sejam fósseis ou renováveis”, aponta.
Além da geração eólica, a CPFL opera com pequenas centrais hidrelétricas (PCHs), termelétricas a biomassa e energia solar, que totalizam uma capacidade instalada em operação de 1.416,9 MW. A companhia tem ainda 383,5 MW em construção e outros 3,8 mil MW em desenvolvimento.
Fonte: Jornal do Comércio