No seu comportamento econômico, os agentes sociais respondem mais às suas expectativas sobre o futuro incerto do que às condições objetivas em que estão vivendo. Talvez seja assim em relação a todos os aspectos de sua vida na sociedade. Na economia, entretanto, ele é empiricamente demonstrável e tão determinante que impõe mudanças na teoria e, consequentemente, na formulação da política. Os economistas sempre souberam disso, mas nunca levaram muito a sério até os anos 70 e 80 do século passado.
Um exemplo interessante dessa mudança é a teoria que desaguou na nova política monetária. Substituiu-se o controle da oferta monetária pelo controle da taxa de juros, acompanhado pela lenta construção do sistema de “metas inflacionárias”.
Os dois instrumentos seriam capazes de realizar os objetivos de manter o desemprego no nível mais baixo possível, consistente com a estabilidade da taxa de inflação. Antes disso, era comum a sugestão (estimulada por um keynesianismo de “pé quebrado”) de tentar conciliar os dois objetivos por uma política de renda: controle de preços e de salários. Muitos países desenvolvidos a adotaram (até os Estados Unidos) e, proporcionalmente, ainda mais os subdesenvolvidos, inclusive o Brasil. Deu tudo errado, tanto no mundo como no Brasil!
A nova “teoria” é tão elegante quanto óbvia: se todos os atores (governo e setor privado) na sua ação econômica, forem convencidos de que a “expectativa” de inflação é a da “meta”, esta se realizará. O instrumento para atingi-la é um banco central independente, que recebe a “meta” do poder político e tem a obrigação de cumpri-la com o ajuste da taxa de juro real de longo prazo, que equilibra a “oferta total” com a “demanda total” no preço médio, cuja variação é a taxa da “meta”.
Se houver recalcitrantes, o instrumento de persuasão do banco central é o aumento da taxa de juro real de longo prazo, que pune todos os agentes: os trabalhadores com o desemprego, os empresários com a queda das vendas e dos lucros e o governo com aumento do seu déficit e de sua dívida. É claro que existem muitos “se” nesse desenho — e alguns até “c” com cedilha, mas ele é plausível.
É evidente que, por definição, tal sistema não pode conviver com o controle de preços, porque este cria a “expectativa” de maior inflação.
Hoje, quando a taxa medida de inflação namora com o teto da banda, dois terços da população brasileira acredita que ela ainda vai subir. Isso mostra que fazê-la convergir à “meta” de 4,5% apenas com a manipulação da taxa de juros real imporia custos sociais insuportáveis.
Por Delfim Neto
Fonte: Jornal do Comércio