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O desafio de interagir em alto nível na internet

Pode ser uma informação mais controversa publicada em um portal de notícias ou um comentário postado no Facebook. Mesmo entre amigos, a polêmica ronda a internet.

19/05/2014 10:37

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O desafio de interagir em alto nível na internet

Pode ser uma informação mais controversa publicada em um portal de notícias ou um comentário postado no Facebook. Mesmo entre amigos, a polêmica ronda a internet. Algumas vezes, os debates são em alto nível. Mas, cada vez mais, acabam refletindo características que parecem tomar conta de boa parte dos internautas brasileiros: a dificuldade de aceitar uma visão divergente e o menosprezo com a opinião dos outros

Reúna, em um mesmo ambiente, milhares de pessoas, cada uma com a sua forma de pensar, entender e sentir as coisas. Adicione a isso temas polêmicos como política e esporte e o imprevisível estado de espírito de cada um naquele dia. E, claro, não poderia faltar a cereja do bolo: a baixa capacidade da maioria das pessoas de debater e aceitar uma opinião divergente da sua. 

Essa junção tem sido explosiva na internet e pode ser conferida todos os dias nas redes sociais e nas áreas destinadas aos comentários dos usuários em grandes portais de notícias. A dificuldade de aceitar outros pontos de vista e de entender o tom dado pelo usuário em algum post, não raras vezes, termina em palavrões, agressões e críticas raivosas. 

Definitivamente, o sistema educacional não nos ensinou a debater e pouco temos feito, individualmente, para melhorar isso. “Muita gente, inclusive pessoas ponderadas e educadas, se comportam na web como membro de torcida adversária, que parecem estar ali apenas para brigar”, relata a professora do curso de pós-graduação em Comunicação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Suely Fragoso. Isso acontece, acredita, porque as pessoas têm dificuldade de ceder quando estão defendendo algo em que acreditam. “É da natureza humana. Se pega no calo, não se arreda o pé”, acrescenta.

Alguns temas suscitam reações mais fortes. É o caso das matérias que abordam questões como corrupção, problemas com a segurança pública e falta de saneamento. “As pessoas costumam ficar indignadas porque se dão conta que pagam impostos e que isso se perde em bolsões de corrupções, não respondendo à  altura das suas necessidades”, analisa o professor do Programa de Estudos Pós-Graduados em Comunicação e Semiótica da PUC-SP, Eugênio Trivinho. 

Nesses casos, mesmos os ditos bons debatedores deixam de lado as suas faculdades racionais e, consequentemente, um posicionamento de prudência, esclarecimento e elegância no trato com o outro. “Atrás dos seus computadores, as pessoas participam de um imaginário povoadíssimo. Na maioria desses casos, fazem comentários sob a capa do anonimato de um nickname ou login pouco identificável, libertos a escrever o que acham que devem escrever em resposta ao jornalista, aos personagens citados nas matérias ou nos posts ou aos demais usuários”, comenta o especialista. 

Além da dificuldade de aceitar pontos de vista divergentes, outro fator tem influenciado negativamente a qualidade das interações na internet: para se manifestar verbalmente, é preciso ter conhecimento da língua corrente do país, o que tem sido um fator cada vez mais crítico no Brasil. Para Suely, parte dessa culpa está no sistema educacional frágil.

A quantidade de erros de português chama atenção ao navegar pelas áreas de comentários dos sites de notícias e pelas redes sociais. “Em outras línguas, isso também acontece, mas é mais impressionante no Brasil, onde,  as pessoas, de modo geral, não sabem escrever”, diz a pesquisadora, que analisou informalmente sites de notícias brasileiros, franceses, norte-americanos e ingleses. 

O lado positivo de todo esse movimento, comenta, é que tem muita gente escrevendo nas redes sociais e, com o tempo, a tendência é que possam melhorar a forma de se comunicar. “Para isso acontecer, é importante estimular as pessoas para que saibam escrever, se expressar e debater”, sugere.

Portais evitam proibir, mas monitoram comentários de usuários

O Portal Terra, um dos maiores do País, adotou por hábito não ter moderação prévia dos comentários postados nas reportagens que publica. “O leitor gosta muito de opinar sobre as matérias e, quando tem essa opção, a audiência cresce”, explica a editora-assistente de Brasil do Portal Terra, Letícia Heinzelmann.

Durante o dia, porém, os jornalistas procuram acompanhar as repercussões e, caso surja alguma postagem que possa implicar em crime, eles são deletados. Quando as ofensas são em número muito grande, adota-se a medida de desabilitar temporariamente a opção de comentários de determinados textos. 

Nos últimos anos, o portal adotou alguns cuidados. Hoje em dia, por exemplo, não é mais permitido fazer um comentário anonimamente. O usuário precisa se logar com a sua conta no portal ou das redes sociais. “Isso diminuiu o volume de posts ofensivos, mas não eliminou”, comenta Letícia. 

De fato, existe um perfil de usuário que é difícil de conter. De acordo com especialistas, são aqueles indivíduos que criam logins e circulam por diversos portais, destilando comentários raivosos e ofensivos. São eles os responsáveis por fazer com que, muitas vezes, as áreas de comentários dos grandes portais virem uma espécie de chat, no qual uma pessoa escreve alguma coisa e começa uma discussão generalizada, com direito a ofensas e termos pejorativos. 

A advogada especialista em Direito Digital e mídias sociais e sócia diretora de Marketing e PI do escritório Patricia Peck Pinheiro Advogados, Isabela Guimarães Del Monde, explica que, se essas pessoas forem identificadas, podem ser processadas. “O usuário que comenta algo dessa forma está exercendo a sua liberdade de expressão de forma abusiva, pois a utiliza para difamar ou injuriar uma pessoa”, relata. Assim, ele pode ser acionado tanto na esfera civil, correndo o risco de ser condenado ao pagamento de indenização por danos morais à pessoa que xingou, como na penal, pelo cometimento dos crimes de difamação e injúria. É sempre importante lembrar que as penas desses crimes aumentam em 1/3 quando eles são cometidos por meios que ajudam na propagação diante de várias pessoas. 

O mesmo vale para os xingamentos destinados a pessoas públicas, como atletas, artistas e políticos. Recentemente, o lutador Anderson Silva entrou com um processo por ter sido chamado de podre por uma internauta na sua rede social. “Sempre que uma celebridade sofre um dano e expõe a situação ao público, acaba servindo de exemplo, já que muitas pessoas se inspiram em suas histórias”, diz Isabela.

Portanto, sempre que for comentar ou interagir em ambiente digital, o cidadão deve se atentar para ter um comportamento educado e pensar duas vezes antes de publicar, lembrando que as mesmas leis aplicadas no mundo analógico servem para o mundo digital – o qual está ganhando cada vez mais leis específicas. 

Web expõe diferenças, e muitos internautas não sabem como lidar com elas

As pessoas levam para as interações na web toda a sua herança cultural e concepção de mundo que possuem. Isso já dá uma pista do quanto pode ser complexo acomodar opiniões e sentimentos em um ambiente tão plural. 

Para o professor de Sociologia da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (Pucrs) Adão Clóvis dos Santos, as pessoas, geralmente, partem do pressuposto do seu ponto de vista para travar discussões político-ideológicas nas postagens. E isso nem sempre acaba bem. “O que vemos é um despreparo para o debate. Quando ocorrem posições contrárias, e na ausência de argumentos, os indivíduos apelam para palavras ofensivas e de baixo calão”, constata. 

Nesses momentos, também costumam ficar bem claros os preconceitos de classe, raça e sexo. O fato de o internauta poder participar com pseudônimo dos debates dá a ele a sensação do anonimato, o que traz esse lado mais sombrio à tona. “Fora da rede, dificilmente algumas discussões ocorreriam de forma tão explícita em função do constrangimento que causariam. A web recebe toda a carga de preconceitos, que acabam sendo sublimados nos contatos formais”, analisa o professor.

Santos diz que, no Brasil, chama a atenção o fato de parcela dos internautas entender a rede como se fosse sua, e não como um espaço público. É um pouco diferente do que acontece, por exemplo, na Argentina e no Uruguai, países vizinhos. “Lá, o debate envolve mais questões políticas e culturais, mas claro que também vamos encontrar a utilização de palavrões. Isso não é privilégio no Brasil”, diz. 

Especialista diz que é preciso enfrentar maus modos

Faz parte da sociedade multicultural o respeito a todas as formas de manifestação, desde que isso não agrida o outro. Mas não é isso que tem acontecido na prática. A má educação, muitas vezes, tem um contexto, mesmo que isso, no final das contas, não se justifique. Às vezes, um indivíduo responde de forma ríspida, mesmo sendo de estirpe educada, mas porque não gostou do que aconteceu. Em outras situações, as pessoas estão ali apenas para ameaçar e xingar. Os fatores que podem levar a isso são inúmeros e vão das questões culturais e educacionais até as familiares. 

Apesar disso, não existe nada mais fora de moda na web do que impedir comentários nos sites e redes sociais por receio do que virá, afirma o professor do Programa de Estudos Pós Graduados em Comunicação e Semiótica da PUC-SP Eugênio Trivinho. “Esse é um comportamento aquém de tratamento diplomático da democracia no campo da opinião pública no ciberespaço. É um ato de truculência que sinaliza o quanto quem faz isso está despreparado para participar do debate”, defende.

Da mesma forma, ele acredita que o anonimato sempre deveria ser defendido por todos que lutam por uma rede democrática não punitiva, mas precisa ser cultivado e bem utilizado. “Não se pode fazer vistas grossas e transformar o anonimato em uma escora para proteger crimes. Essa questão deveria ser prevista em lei, mas precisa ter contrapartida dos usuários”, diz. 

Um caminho alternativo seria, justamente, o de preparar as pessoas para essas interações, o que envolveria desde um processo educacional consolidado, passando pelo ambiente familiar até a existência de ferramentas tecnológicas voltadas para essa orientação. 

Trivinho recomenda paciência e sugere que as pessoas busquem equalizar, em plena praça pública, a forma como essa comunicação poderia estar acontecendo. “Quem não gosta desses comportamentos pode tentar adotar uma postura de esclarecimento para agir de forma diferente e tentar mostrar por meio do exemplo. Uma ideia é fazer isso nos próprios espaços dos comentários”, sugere. 

A advogada especialista em Direito Digital e sócia-diretora do escritório Patricia Peck Pinheiro Advogados, Isabela Guimarães Del Monde, explica que é importante que as pessoas sejam melhor orientadas sobre como se comportar na web. “Assim como educamos as crianças para como se portar em uma série de situações e também para serem cidadãos que conhecem seus direitos e suas obrigações, esse processo deve se estender para a internet, que, agora e cada vez mais, faz parte da vida da população, especialmente entre os mais jovens”, diz.

Nesse sentido, é preciso criar uma maior conscientização sobre uma série de temas, que vão desde educação on-line, ou seja, como se comunicar sem ofender, por exemplo, até propriedade intelectual, isto é, como se beneficiar do trânsito de informações e conteúdos sem cometer pirataria. Aos adultos cabe o papel de estar sempre atentos e antenados com as tecnologias, afinal de contas, é preciso conhecê-las para saber o que seus filhos estão usando e, a partir daí, orientá-los. As escolas e instituições de ensino também precisam atualizar sua atuação pedagógica para que possam dialogar cada vez melhor com seu público. 

Canais ajudam aproximar fãs de personalidades

 

Ela é uma das personagens mais queridas e carismáticas da high society brasileira. No Rio de Janeiro, onde mora, dificilmente dá mais do que dez passos sem que alguém não peça para tirar uma foto, dar um autógrafo ou ouvir um dos seus bordões: Ai que loucura! e Ai que absurdo! 

Formada em Direito e Jornalismo e fluente em cinco idiomas, Narcisa Tamborindeguy é também uma adepta da internet. Todos os dias, usuários de diferentes cantos do Brasil e do mundo seguem e curtem as suas postagens, geralmente feitas em restaurantes e festas e sempre acompanhada de artistas e nomes da sociedade.

Para organizar isso, conta com um time que a apoia na atualização de conteúdo no Facebook (www.facebook.com/narcisatamborindeguy), Twitter (@narcisaoficial) e Instagram (narcisat). Mas ela mesma está sempre ligada nos seus dois smartphones, tablet e notebook, pelos quais acompanha e interage, sempre que pode, com os fãs. “Eu me relaciono muito bem com os meus seguidores e sinto que sou muito amada por todos. Gosto de ler os comentários, adoro ver minhas curtidas e ver o placar dos likes no Instagram. Respondo só para alguns, pois são tantos que teria que ficar todo o tempo ligada na tecnologia e não ter tempo mais para nada”, comenta.

Como pessoa pública, ela também precisa lidar com comentários não tão positivos. Nesses casos, é enfática: não responde e bloqueia a entrada dos inconvenientes. “A rede social é para divertimento e promoção dos meus trabalhos e participações em eventos. Entrar para ofender é perda de tempo, inveja, rancor, falta de amor próprio e falta de educação. Gentileza gera gentileza”, preconiza.

Por Patricia Knebel

Fonte: Jornal do Comércio - RS

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