Esperado para 2015, o ajuste da política econômica já começou. A ideia foi defendida nesta segunda-feira, 16, pelo economista Nelson Barbosa, ex-secretário-executivo do Ministério da Fazenda, em seminário no Rio.
E recebeu aval de Samuel Pessôa, um dos assessores econômicos da campanha do senador Aécio Neves (PSDB-MG) à Presidência da República.
"Vai ter Copa e o ajuste já começou", disse Barbosa, ao término do seminário, numa paródia do bordão "Não vai ter Copa", repetido nos protestos contra a realização do Mundial no País.
Um ajuste na política econômica tem sido citado por analistas como essencial para tirar a economia brasileira do quadro de baixo crescimento e inflação pressionada. No entanto, como 2014 é ano eleitoral, a maioria dos cenários aponta 2015 como o ano dos ajustes.
Para Barbosa, esse processo foi antecipado em várias dimensões.
Apenas a política fiscal e o setor externo ainda não passaram por ajustes, segundo resumo feito pelo economista no encerramento do Seminário de Análise Conjuntural do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), no Rio.
"O ajuste já começou, ainda que incipiente. Quanto mais for feito este ano, menos será preciso fazer no ano que vem", afirmou Barbosa, em sua apresentação.
Algumas evidências do início do ajuste são a desaceleração do crescimento do PIB (de 2,5%, em 2013, para 1,6% este ano, conforme a projeção do Ibre/FGV); a descompressão dos preços administrados na inflação (subiram apenas 1,5% no IPCA de 2013, mas deverão registrar avanço de 5,8% neste ano, segundo o Ibre/FGV); e a piora do mercado de trabalho, com desaceleração no crescimento da população ocupada.
Outro forte ajuste antecipado foi a elevação da taxa básica de juros. Hoje a Selic está em 11,00%, ante 7,25% em abril do ano passado.
As exceções são a política fiscal e o setor externo. Nas projeções do Ibre/FGV (revistas no Boletim Macro Ibre deste mês, divulgado sexta-feira), a meta de superávit primário do governo, de 1,9% do PIB, não será atingida.
Para Barbosa, que trabalha na FGV desde a saída do governo, a meta até pode ser atingida em termos globais (levando em conta manobras fiscais), mas o importante é que não ficará abaixo de 1,5% do PIB.
No setor externo, um ajuste no câmbio, com alta do dólar, seria necessário por causa do déficit nas transações correntes. Pessôa, pesquisador do Ibre/FGV, destacou que o cenário da economia internacional mudou do início do ano para cá, dando mais tempo para o Brasil fazer seus ajustes na economia.
A principal mudança é a sinalização, por parte do Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA), de que a retirada dos estímulos à economia será mais lenta.
Além disso, as projeções para o crescimento econômico nos EUA foram reduzidas, apontando para uma recuperação mais lenta por lá.
Com isso, a perspectiva de aumento de juros nos países desenvolvidos, com consequente fuga de capitais de países emergentes, como o Brasil, para os desenvolvidos é adiada.
"O ajuste externo será muito mais lento. A questão é o quanto a retomada da atividade econômica no Brasil depende desse ajuste", disse Pessôa.
Segundo o economista, um dos pontos destacados nos debates do Ibre/FGV sobre o ajuste na política econômica são as diferenças em relação a outros momentos.
Tanto em 1998 e 1999 quanto em 2002 e 2003, fortes desvalorizações no câmbio e redução do crescimento foram seguidos de períodos de avanço no PIB.
"Esse ajuste é diferente dos passados. É um ajuste que será feito sem que o mundo nos obrigue", afirmou Pessôa.
Fonte: Exame