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“O Brasil precisa de mais zonas francas”

O engenheiro japonês Minori Usui assumira o comando mundial da Epson havia poucos meses e começava a planejar uma reestruturação na empresa quando veio a crise de 2008.

23/06/2014 08:46

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“O Brasil precisa de mais zonas francas”

O engenheiro japonês Minori Usui assumira o comando mundial da Epson havia poucos meses e começava a planejar uma reestruturação na empresa quando veio a crise de 2008. Pressionado pelo tsunami que abalou a economia global, ele acelerou as mudanças, mas só agora está colhendo os resultados, com o aumento de 17,9% no faturamento de US$ 9,7 bilhões no ano fiscal terminado em março. No longo prazo, Usui quer transformar a Epson, que é mais conhecida como fabricante de impressoras domésticas, numa fonte de produtos inovadores, a exemplo dos óculos inteligentes, que começaram a ser vendidos no Japão em 13 de junho. De seu escritório na província de Nagano, a três horas da capital Tóquio, região conhecida como “Alpes Japoneses”, por suas montanhas que no inverno ficam cobertas de neve, Usui comanda mais de 73 mil funcionários, espalhados por 59 subsidiárias. Para acompanhar os negócios nas filiais, ele faz cerca de 15 viagens por ano e já esteve duas vezes no País, a última delas em 2009. “Estamos felizes com o Brasil”, afirma em entrevista à DINHEIRO. “Mas seria muito melhor se a legislação tributária fosse mais simples.”

DINHEIRO – A Epson é conhecida como uma empresa de impressoras, mas esse é um mercado que cresce pouco e deve começar a diminuir. Qual é o futuro?
MINORI USUI –
 Realmente, somos uma empresa de impressoras, líder no mercado, mas não vamos ficar só nisso. Estamos trabalhando para desenvolver novas tecnologias que resultarão na criação de outros produtos. Vamos ampliar o conceito de impressão, imprimindo não apenas em papel, mas em todo tipo de material. Já fazemos impressão em tecido, tanto para uso em materiais de comunicação quanto para vestuário. Além disso, temos os robôs para uso industrial, que vão substituir o trabalho ma-nual nas fábricas. Queremos também desenvolver um segmento voltado à área médica. Mais do que uma fabricante de impressoras, queremos nos tornar uma companhia tecnológica e inovadora. Isso tudo dentro do conceito que sempre tivemos na Epson, de produção totalmente verticalizada, desde a concepção e o desenvolvimento do produto até a manufatura e o pós-venda.

DINHEIRO – Quais serão os produtos com essa visão mais tecnológica?
USUI –
 Além de novas impressoras, temos outros projetores inovadores, que podem ser usados em objetos em 3D e em movimento, além de vários produtos na área de vestíveis. Estamos lançando o Moverio BT-200, a segunda versão dos nossos óculos inteligentes. Também estamos lançando novas versões dos relógios com sensores, que podem melhorar a qualidade de vida dos usuários, ao medir sua movimentação e encaminhar esses dados para serviços de saúde. E continuamos investindo muito em robôs industriais.

DINHEIRO – O que lhe parece mais promissor?
USUI – 
No curto prazo, as mudanças no mercado de impressoras de escritório, de laser para o tanque de tinta, que tem um custo por página muito menor e é mais ecológico, porque dispensa o cartucho. No longo prazo, estamos apostando nos produtos mais interativos.

DINHEIRO – Os óculos da Epson vão competir com o Google Glass?
USUI – 
São muito diferentes do Google Glass. Os nossos são binoculares e, além do acesso à internet e da possibilidade de ver filmes, a realidade aumentada permitirá uma série de usos. Por exemplo, será possível fazer uma reunião entre pessoas no Japão e no Brasil, como se elas estivessem frente a frente. Apostamos também nos usos comerciais. Ainda é um mercado novo, mas tem muito potencial.

DINHEIRO – Já existem no mercado muitas impressoras 3D. Por que a Epson ainda não lançou a sua?
USUI – 
Estamos trabalhando nisso, mas nosso objetivo é desenvolver um produto totalmente diferente do que já existe no mercado. Elas só podem imprimir plástico, o que funciona para brinquedos e coisas desse tipo, mas nós queremos algo melhor, para produzir peças para uso industrial, em metais e outros materiais. Por isso é mais difícil.

DINHEIRO – A Epson teve um crescimento de 17,9% no último ano, mas boa parte disso se deve à desvalorização do iene. O que espera para este ano?
USUI –
 Além do câmbio, uma das razões para o crescimento foi a reestruturação que fizemos, desde 2009, com a retirada de linha de alguns produtos e o lançamento de outros, mais rentáveis. Acabamos com a produção de telas de LCD para celulares, por exemplo, e reduzimos a de semicondutores. Estamos reforçando nossa presença nas novas áreas, mudando o foco da companhia e nos concentrando naquilo em que somos melhores. Algumas empresas demoraram mais a se reestruturar. Nós começamos a fazer isso há muito tempo e agora estamos colhendo os resultados.

DINHEIRO – Qual é o plano de longo prazo?
USUI –
 Queremos nos tornar conhecidos como uma empresa que está sempre inovando, trazendo coisas novas. Vamos nos concentrar em pesquisa e desenvolvimento, para imaginar e criar produtos que os consumidores vão querer. Vamos continuar desenvolvendo e fabricando nossos produtos desde o início, com produção verticalizada e tecnologia proprietária. Empresas americanas, como o Google, são famosas pelo seu software. Mas a Epson é diferente. Nós somos muito bons em criar hardware, mas também temos consciência das mudanças que estão acontecendo no mercado. Por isso, estamos desenvolvendo infraestrutura em torno do nosso hardware.

DINHEIRO – A Epson registra cerca de cinco mil patentes por ano. Quanto a empresa investe em pesquisa?
USUI –
 Investimos cerca de 1% do faturamento em patentes e quase 6% em pesquisa e desenvolvimento. Reduzimos um pouco durante a crise, mas agora voltamos a aumentar. Este ano queremos investir cerca de US$ 55 milhões. Ao contrário de outras empresas, mantivemos todos os nossos engenheiros, mesmo durante a crise, o que nos permitiu uma recuperação mais rápida.

DINHEIRO – A economia japonesa está passando por reformas, com o plano conhecido como Abenomics, do primeiro-ministro Shinzo Abe. Como o sr. avalia os resultados?
USUI – 
A desvalorização do iene ajudou as empresas, e existe um sentimento de bem-estar, mas ainda falta implementar muitas das reformas que o governo anunciou. Existe uma discussão sobre a redução dos impostos, mas isso ainda não aconteceu. As negociações da Parceria Trans-Pacífico (TPP), para criar uma zona de livre-comércio entre um grupo de países asiáticos, da América do Norte, da Oceania e da América do Sul, que estão em curso, também terão um efeito positivo.

DINHEIRO – O Japão perdeu para a China, há alguns anos, o posto de segunda maior economia do mundo. Ao mesmo tempo, a integração comercial e de cadeia produtiva entre os dois países é cada vez maior.
USUI – 
A Epson tem fábricas na China há muito tempo. É um lugar muito importante para nós, onde investimos bastante, tanto na produção quanto na formação de pessoal. Temos uma relação muito próxima com o governo chinês e, nos últimos anos, o país tem se tornado também um grande mercado consumidor.

DINHEIRO – Como o sr. vê a recuperação da economia mundial e o que espera para este e para os próximos anos nas várias regiões em que a empresa atua?
USUI –
 Os Estados Unidos estão totalmente recuperados da crise. É a melhor região do mundo no momento. O Japão está muito melhor, mas ainda não nos recuperamos totalmente. Voltamos ao nível de 2009, e com todas as reformas estruturais que estão sendo propostas talvez as coisas realmente mudem, mas isso ainda deve demorar pelo menos três anos. A Europa está num ponto de virada, indo numa boa direção. Na Ásia, ainda precisamos ver o que vai acontecer. E nos países emergentes, como o Brasil, a economia está crescendo, o poder aquisitivo da população está aumentando, mas ainda há problemas, como a distribuição desigual da riqueza. Não será uma transição suave. Um exemplo são os problemas que estão acontecendo em lugares como a Tailândia ou a China, com protestos nas ruas.

DINHEIRO – A subsidiária da Epson já opera uma fábrica de impressoras no Brasil e nos próximos meses vai começar a produzir projetores em Manaus, mas ainda é uma parte muito pequena da companhia. Qual é a importância do País para a Epson?
USUI –
 É um mercado muito importante. Estamos fazendo esses investimentos por causa do grande potencial do mercado. Queremos crescer com o Brasil.

DINHEIRO – Teremos eleições presidenciais neste ano. A eleição é levada em consideração nos planos de investimentos?
USUI – 
A situação política atual do Brasil é muito favorável e estamos muito felizes com isso. Mas respeitamos a opinião da sociedade brasileira e, mesmo que o governo mude, acreditamos que não mudará nada para nós. Onde gostaríamos de ver mudanças, mesmo, é na questão tributária. É tudo muito complicado, há muitas barreiras burocráticas. Se o governo trabalhasse para reduzir isso, seria muito mais fácil para a Epson e outras companhias que atuam no Brasil.

DINHEIRO – Qual é a mudança mais importante, na sua avaliação? Simplificar ou reduzir a tributação?
USUI –
 As duas coisas. Seria muito melhor se a legislação tributária fosse mais simples. E também se houvesse em outras regiões do Brasil zonas especiais, como a Zona Franca de Manaus. Se fossem criadas outras zonas desse tipo, as empresas teriam mais liberdade para escolher onde se instalar. Para nós, é importante ter fábricas perto do mercado consumidor. Por isso, defendemos a existência de zonas francas em Estados como Rio de Janeiro ou São Paulo.

Fonte: Isto É

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